Disputa entre facções instala guerra civil em Guarus no Norte do Rio de Janeiro

 

 

Charge do José Renato publicada hoje (17) na Folha

Campos: 102 mortos em 2018

A intervenção federal no Estado do Rio dura três meses. E por mais que os militares venham se esforçando, os casos de violência reforçam a sensação de que nada mudou. Campos está longe de ser de ser exceção. Pelos números de 2017, foi considerada a 45ª cidade mais violenta do mundo (14ª entre as 17 cidades brasileiras listadas) pela organização mexicana Segurança, Justiça e Paz. Com 102 homicídios em 2018, 12 só nos primeiros 16 dias de maio, o município teve ontem (16) mais dois: um jovem de 20 anos morto com um tiro na testa no Parque Eldorado e outro de 29, assassinado a tiros em Custodópolis, após ser perseguido por bandidos.

Armas contra crianças e gestante

Apesar dos dois novos homicídios, o caso de violência que mais revoltou os campistas, após ser viralizado nas redes sociais, foi o de dois adultos e dois adolescentes armados que invadiram duas casas no Parque Santa Rosa. A Polícia Militar (PM) informou que eles queriam matar um homem, que moraria numa das casas. Não o encontrando, roubaram aparelhos eletrônicos e apontaram suas armas para crianças de 2, 4 e 7 anos, ameaçando também várias mulheres, uma delas grávida de seis meses. Os quatro são do Parque Santa Clara, onde foram presos pouco depois, com uma pistola calibre 380, dois revólveres 38 e 39 munições.

Do Mediterrâneo ao Paraíba

Os palcos da escalada da violência campista — Parques Eldorado, Santa Rosa e Santa Clara, assim como Custodópolis — integram uma área de disputa entre facções criminosas rivais que seus moradores e os policiais chamam de “Faixa de Gaza”. A referência é a uma estreita área da Palestina, espremida entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo, palco de constantes conflitos armados entre árabes e judeus. Na margem esquerda do rio Paraíba do Sul, o problema não é religioso, mas sim a união entre as organizações do tráfico de drogas Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP) na capital do Estado.

Vídeo:YouTube

“Terror de Fiúza”

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Foto:RA noticias

Em Campos, o tráfico da favela Tira Gosto é ligado ao TCP, e o da Baleeira, ao ADA. Ligado a este e apontado como chefe do tráfico do Santa Rosa, Francio da Conceição Batista, o Nolita, não aceitou a união. Após comandar uma série de invasões armadas nas casas populares do bairro, expulsando moradores, ele foi preso  em 8 de março, se dizendo “o terror de Fiúza”. A referência foi a André Fiúza, preso como chefe do tráfico da Tira Gosto, enquanto Amarildo dos Prazeres, o Tupã, cumpre pena por chefiar o tráfico da Baleeira. Mesmo presos, os dois tiveram áudios que teriam sido trocados entre si, falando de Nolita, vazados pelo WhatsApp.

 

Capa da Folha do último domingo (13)

A Síria é aqui

Em sua edição do último domingo, a Folha trouxe (aqui) uma matéria dos jornalistas Aldir Sales e Daniela Abreu sobre a violência em Campos e suas ligações intestinas com o crime organizado. Ela deu a manchete do jornal: “A Síria é aqui”. Do barril de pólvora do Oriente Médio à violência desenfreada na planície goitacá, uma personagem da reportagem foi o refugiado da Síria Haysam Mtanios, de 49 anos. Com a guerra civil em seu país, há quatro anos ele deixou sua capital, Damasco, para morar em Campos. E testemunhou as diferenças da barbárie semelhante: “Aqui bandido mata gente na rua, mas lá você se senta na rua e tem bombas”.

Por:Folha 1

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