Farra do INSS: PF suspeita que funcionários levavam dinheiro em avião.
Viagens frequentes de sócio do lobista Careca do INSS, que chefiava call center das fraudes, levantaram suspeitas em relatórios da PF.
“Isso pode indicar que as viagens são utilizadas para discussões ou ações relacionadas a essas transações”, diz a PF no inquérito.
Domingos Castro comandava duas empresas de call center — Callvox e Trustrust — que atuavam para o Careca do INSS junto às entidades da farra do INSS.
Segundo ela, as viagens ocorriam mensalmente com grupos de cerca de 15 pessoas. Lá, os funcionários do call center ganhavam vouchers para comprar perfumes importados, jantares em restaurantes caros e passeios turísticos. Para a PF, os “acompanhantes frequentes” das viagens de Castro poderiam ter atuado “como intermediários ou transportadores” de dinheiro.
“O padrão de viagens é consistente com operações de transporte de valores. A alta frequência, os intervalos curtos e o número elevado de passageiros sugerem logística para movimentação de dinheiro físico”, afirma a PF. A investigação estima que cada passageiro pode transportar R$ 5 milhões, em notas de R$ 100, em cada bagagem de mão permitida nos voos.
Outra constatação dos investigadores é que as viagens começaram a se intensificar em novembro de 2023, período em que a fraude dos descontos de mensalidade associativa chegou ao auge. Nessa mesma época, segundo relato da funcionária, os call centers do Careca do INSS aumentaram consideravelmente o número de funcionários.
Viagens e pagamentos
- Além de idas frequentes para a capital mineira, a PF destaca duas viagens internacionais de Domingos Castro: Argentina e Miami.
- A ida para os Estados Unidos, com passagem pelo Panamá, durou menos de 24 horas, e foi acompanhada de Adelino Rodrigues Júnior, que era o gerente do call center da farra dos descontos.
- Para a polícia, as viagens a Miami e Panamá podem “sugerir ligações com contas em paraísos fiscais, conhecidos por ocultar movimentações financeiras ilegais”.
- Tanto Castro quanto Rodrigues Junior são sócios e já tiveram procurações legais para representar associações investigadas: Abapen e Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA).
- A PF constatou que Castro recebeu, em sua conta pessoal, R$ 4,8 milhões de uma das entidades, e enviou, da mesma conta, R$ 1,5 milhão a Rodrigues Júnior.
- Ainda de acordo com a investigação, Rodrigues Júnior enviou recursos para a esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, afastado do cargo no dia da Operação Sem Desconto, em abril, sob suspeita de receber propina das entidades da farra dos descontos.
- A PF afirma que, ao todo, pessoas físicas e jurídicas relacionadas a Domingos Castro receberam mais de R$ 10,5 milhões de empresas intermediárias relacionadas às entidades associativas.
MICHAEL MELO/METRÓPOLES