Exclusivo: ministro da Previdência se reuniu com Careca do INSS no início do governo Lula.
Ministro Wolney Queiroz se reuniu com lobista Careca do INSS e ex-dirigentes investigados pela PF antes de assumir cargo no governo, em 2023.
À época, Wolney (no centro da foto) era deputado federal e havia sido indicado para ser secretário executivo do ministério, cargo que assumiria um mês depois. Na pasta, ele foi o número 2 de Carlos Lupi (PDT) até maio deste ano, quando o ex-ministro pediu demissão após a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no fim de abril contra o esquema que faturou R$ 6,3 bilhões desde 2019.
Além do Careca do INSS, estavam na reunião realizada no dia 12 de janeiro os então diretores do INSS André Fidelis (Benefícios) e Alexandre Guimarães (Governança), e o procurador-geral do órgão, Virgílio Oliveira Filho, afastado do cargo em abril por decisão judicial. O encontro não consta na agenda oficial de nenhum deles. Como Wolney ainda era deputado na ocasião, não havia exigência de divulgar a agenda.
Em nota enviada ao Metrópoles, o ministro afirmou que “a agenda foi organizada e conduzida” por Virgílio Oliveira Filho, “com o intuito de apresentar ao futuro secretário executivo um panorama técnico da pasta no âmbito do processo de transição”. Segundo o texto, o grupo foi montado por ele “sem anuência prévia de Wolney sobre os participantes” (leia mais abaixo).
Suspeita de propina
- O Careca do INSS, que aparece sorridente na foto da reunião com Wolney, é apontado pela PF como o principal operador do esquema de descontos indevidos em aposentadorias.
- Segundo a investigação, o lobista recebia dinheiro das entidades envolvidas nas fraudes contra aposentados e pagava propina a dirigentes do INSS.
- Ao todo, três ex-dirigentes do INSS que estavam na mesma reunião do lobista com o atual ministro da Previdência receberam repasses suspeitos de empresas ligadas ao lobista e às entidades da farra dos descontos indevidos.
- Apenas do Careca do INSS, foram R$ 9,3 milhões, entre 2023 e 2024.
- Virgílio Oliveira Filho: R$ 11,9 milhões, sendo R$ 7,5 milhões do Careca do INSS.
- André Fidelis: R$ 5,1 milhões, dos quais R$ 1,46 milhão foram transferidos pelo lobista.
- Alexandre Guimarães: R$ 313,2 mil do operador do esquema.
- O lobista também transferiu um Porsche avaliado em R$ 500 mil para Thaisa Hofmann Jonasson, esposa do ex-procurador do INSS.
A fotografia da reunião de janeiro de 2023 ainda mostra, entre Wolney Queiroz e André Fidelis, o ex-superintendente do INSS no Nordeste, Rogério Soares de Sousa, nomeado em março daquele ano, e Marcos de Brito Campos Júnior (primeiro à esquerda), que foi diretor da superintendência nordestina por quase sete anos e foi nomeado, em outubro de 2023, diretor de Administração e Finanças do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
“Nenhuma lembrança de conhecê-los”
Em 15 de maio, quando foi ao Senado prestar esclarecimentos sobre o escândalo do INSS, Wolney foi indagado pelo senador Sergio Moro (União-PR) se Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, e os empresários Danilo Trento e Maurício Camisotti – este último é investigado como “beneficiário final” das fraudes contra aposentados praticadas por três associações que pagaram para o lobista.
O que diz Wolney Queiroz
Questionado pelo Metrópoles sobre a reunião com o lobista Careca do INSS dentro do Ministério da Previdência, em janeiro de 2023, o ministro Wolney Queiroz se manifestou por meio de nota. Confira a íntegra abaixo:
“A reunião mencionada ocorreu em 12 de janeiro de 2023. Wolney Queiroz ainda era deputado federal – ele havia sido convidado a assumir a Secretaria-Executiva do Ministério da Previdência Social, mas só tomou posse em fevereiro, motivo pelo qual o compromisso não consta no E-Agendas.
O ministro não tem qualquer relação com investigados pela Polícia Federal. Sua longa trajetória na vida pública sempre foi pautada por transparência, integridade e compromisso com o interesse público.”
Por Ramiro Brites
METRÓPOLES