Mulher que assinou laudos falsos de HIV se entrega à polícia no RJ
Diploma em Biomedicina da funcionária de laboratório não é reconhecido pela universidade.
Jacqueline Iris Bacellar de Assis, funcionária do PCS Lab Saleme, se entregou à Polícia Civil na tarde desta terça-feira (15). O laboratório do Rio de Janeiro é alvo de investigações devido a seis pessoas testarem positivo para o HIV após receberem órgãos transplantados, cujos laudos atestavam falso negativo para o vírus.
A funcionária chegou à delegacia na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio, acompanhada de dois advogados.
Jacqueline é auxiliar administrativa do laboratório, mas assinava os laudos como biomédica. O número de registro utilizado por ela na assinatura eletrônica pertencia a outra pessoa.
Inclusive, o diploma de formação em Biomedicina apresentado por ela não teve a veracidade reconhecida pela instituição de ensino, a Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera.
– A instituição não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para a Jacqueline Iris Bacellar de Assis – diz nota da instituição.
A mulher de 36 anos estava foragida desde esta segunda (14), quando foi expedido um mandado de prisão temporária para ela e outros envolvidos no caso.
Tanto o conselho de Medicina quanto o de Farmácia afirmaram que Jacqueline não tem nenhum registro profissional.
O advogado de defesa, José Felix, afirma que sua cliente desconhece o diploma.
– Jacqueline jamais trabalhou como biomédica, não tem capacitação técnica e nunca teve interesse na função. Sempre atuou no laboratório como supervisora administrativa – afirmou.
SOBRE O CASO
Seis pessoas testaram positivo para o HIV após receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. De acordo com investigação conduzida pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério Público, dois doadores eram soropositivos, mas os exames de sangue feitos pela empresa PCS Lab Saleme, de Nova Iguaçu (RJ), na época das mortes, apresentaram resultados negativos para a doença.
A primeira notificação do ocorrido foi no último dia 10 de setembro, após um paciente que recebeu um coração começar a se sentir mal nove meses depois do transplante. Ele buscou um hospital e passou por exames que indicaram que estava com HIV. Depois dele, outros cinco casos semelhantes foram identificados.
A doação de órgãos ocorre após a confirmação de morte encefálica por parte de doadores. Assim, a família é contatada e, posteriormente, os doadores passam por uma análise clínica para atestar que são aptos para ceder seus órgãos. O grupo PCS laboratórios foi contratado emergencialmente pela Secretaria Estadual de Saúde para fazer os exames, em dezembro do ano passado, em um momento em que o Hemorio se encontrava sobrecarregado.
Após a identificação do erro nos resultados, a Anvisa realizou uma fiscalização no laboratório e o interditou por encontrar diversas irregularidades não detalhadas. Segundo a apuração, a empresa possui contratos com o governo do Rio desde 2021, e recebeu R$ 11 milhões para realizar os procedimentos envolvendo transplantes.