Seis transplantados receberam órgãos infectados com HIV, no RJ

Até 600 outras pessoas podem ter sido vítimas do problema, considerado inédito no Brasil.

Cirurgia (imagem ilustrativa) Foto: Stefamerpik / Freepik

Em acontecimento nunca antes registrado no Brasil, seis pessoas testaram positivo para o HIV, vírus da Aids, após receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. De acordo com investigação conduzida pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e pelo Ministério Público, dois doadores eram soropositivos, mas os exames de sangue feitos pela empresa PCS laboratórios, de Nova Iguaçu, na época das mortes, apresentaram resultados negativos para a doença.

As informações foram reveladas pelo diretor-geral de conteúdo do Grupo Bandeirantes de Comunicação e âncora da BandNews FM, Rodolfo Schneider. De acordo com ele, a primeira notificação do ocorrido foi no último dia 10 de setembro, após um paciente que recebeu um coração começar a se sentir mal nove meses após o transplante. Ele buscou um hospital e passou por exames que indicaram que estava com HIV. Depois dele, outros seis casos semelhantes foram identificados.

A doação de órgãos ocorre após a confirmação de morte encefálica por parte de doadores. Assim, a família é contatada e, posteriormente, os doadores passam por uma análise clínica para atestar que são aptos para ceder seus órgãos. O grupo PCS laboratórios foi contratado emergencialmente pela Secretaria Estadual de Saúde para fazer os exames, em dezembro do ano passado, em um momento em que o Hemorio se encontrava sobrecarregado.

Após a identificação do erro nos resultados, a Anvisa realizou uma fiscalização no laboratório e o interditou por encontrar diversas irregularidades não detalhadas. Segundo a apuração, a empresa possui contratos com o governo do Rio desde 2021, e recebeu R$ 11 milhões para realizar os procedimentos envolvendo transplantes.

O problema não para por aí: estima-se que, além dos seis pacientes já relatados, possa haver um total de até 600 pessoas que foram infectadas. No momento, 288 doadores estão sendo testados pelo Hemorio a fim de verificar se há mais casos de falso negativo para HIV.

O Rio de Janeiro realiza transplantes desde 1964 e até então não havia nenhum caso semelhante a esse.Centrais de transplantes ao redor do país fizeram reunião para debater medidas de segurança para evitar que situações como essa se repitam.

A secretária estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Claudia Maria Braga de Mello, disse à BandNews FM que entrou em contato com outros órgãos de saúde estaduais e nacionais e que o governo estadual “não tem vínculo nenhum com o laboratório”, que prestou serviços após vencer uma licitação.

Braga de Mello argumentou que a clínica em questão não pode mais funcionar no Rio de Janeiro, e que foi aberta uma sindicância “rigorosa” para apurar a situação em caráter sigiloso. Claudia acrescenta que se alguém tiver dúvidas pode contatar a Secretaria de Saúde pelo e-mail notifica@saude.rj.gov.br.

– A bandeira da minha vida é a segurança do paciente. O impacto pessoal é grave. Me solidarizar com as famílias é o mínimo; o impacto maior é deles, depois é meu. Não interrompemos [outros transplantes] em momento algum. O sistema de transplantes no Brasil é seguro e merece confiança. Toda a população precisa ter certeza que esse caso é sem precedentes e não se repetirá. Doação é para salvar vidas – afirmou.

Por: Thamiris Andrade

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