Morte de Hassan Nasrallah tem mais impacto que a de Bin Laden

Especialistas afirmam que a estrutura geopolítica do Oriente Médio foi modificada e veem possibilidade de “terrorismo nuclear”.

Apoiadores das Brigadas do Hezbollah carregam as fotos do falecido líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, do falecido vice das Forças de Mobilização Popular do Iraque, Abu Mahdi al-Muhandis, e do principal comandante iraniano, Qasem Soleimani, durante protesto Foto: EFE/EPA/AHMED JALIL

A morte de Hassan Nasrallah, líder do grupo terrorista libanês considerado a milícia mais poderosa do planeta, o Hezbollah, modifica toda a estrutura geopolítica do Oriente Médio, segundo especialistas. Israel conseguiu decapitar o comando do grupo em questão de alguns dias por meio de ações de inteligência históricas, e a sensação que impera no Líbano é de “choque total e caos”. O temor é que o Irã, abalado pela perda de sua maior arma, apele para o “terrorismo nuclear”.

– A morte do Hassan Nasrallah tem impacto político maior do que o de Osama bin Laden, maior do que a de Qassem Suleimani, comandante das Guardas Revolucionárias Iranianas, maior do que de Saddam Hussem, maior do que do Muammar Qaddafi. É a morte de uma liderança no Oriente Médio de maior impacto, seguramente, no século 21 – garantiu Guga Chacra, comentarista da GloboNews.

Nasrallah, morto em bombardeio em Beirute nesta sexta-feira (27), era visto como “insubstituível” desde 1992 e tido como um “gênio”, tanto por seguidores e rivais. Sua morte deixa os integrantes do Hezbollah órfãos.

Os dias que se seguirão a esse acontecimento são imprevisíveis, segundo especialistas. Para eles, todos os cenários são possíveis, incluindo uma guerra total no Oriente Médio, que pode envolver diretamente até mesmo os Estados Unidos e transformar a região em um campo de guerra entre potências. O desenrolar dos acontecimentos dependem dos próximos passos de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, e do aiatolá Ali Khamanei, líder supremo do Irã.

– O Netanyahu optou por aquilo que se chama de guerra total. E ele sabe que, por mais que os EUA sejam contrários a uma guerra contra o Irã, os EUA teriam que sair em defesa de Israel – acrescentou Guga Chacra, frisando que esses acontecimentos têm o potencial de influenciar até mesmo o rumo das eleições estadunidenses.

Fato é que Israel decidiu eliminar por completo os grupos terroristas que ameaçam sua existência – o Hezbollah e o Hamas – e possui maior apoio interno contra o Líbano que contra os palestinos. Recentemente, os pagers e walkie-talkies dos integrantes do Hezbollah explodiram após uma suposta sabotagem israelense, matando dezenas e ferindo milhares.

Diante da reviravolta sem precedentes no Hezbollah, o grupo não possui mais capacidade para organizar uma resposta efetiva, embora ainda tenha um poderoso arsenal. Financiado pelo Irã, o movimento era tido como uma espécie de “bomba atômica” do país e dissuadia Israel e Estados Unidos de travarem uma guerra contra a nação.

Em contato com o G1, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitélio Brustolin, adverte que, diante de um cenário em que o Hezbollah se encontra enfraquecido, o Irã pode recorrer a uma resposta nuclear.

– Algum movimento do Irã deve vir, especialmente se o Irã conseguir fabricar sua primeira bomba nuclear, ou pelo menos [fabricar ogivas] em alguma quantidade maior, chegando a um nível próximo ao da Coreia do Norte, que hoje tem 50 ogivas. Imagine o Irã, que é um país que usa grupos terroristas como instrumento de política externa, com armas nucleares. A gente começa a falar de terrorismo nuclear. Não é algo que interessa a ninguém, nem mesmo à Rússia – assinalou.

Por Thamirys Andrade

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