Bolívia está à beira de catástrofe ambiental devido a incêndios

Governo declarou emergência nacional.

Fumaça de incêndios florestais atinge cidade de La Paz Foto: EFE/Luis Gandarillas

A Bolívia atravessa uma crise climática devido aos incêndios florestais que levaram o governo a declarar “emergência nacional” por causa dos efeitos negativos sobre a qualidade do ar, algo que se tornou um problema regional junto com os incêndios em Brasil e Paraguai.

O Laboratório de Física Atmosférica da estatal Universidad Mayor de San Andrés (UMSA), em La Paz, advertiu que os incêndios florestais “estão produzindo uma catástrofe ambiental” com efeitos sobre a flora, a fauna e a saúde da população.

O relatório também menciona que a quantidade de fumaça na atmosfera pode “inibir” a chegada das chuvas, levando a um “círculo vicioso que pode adiar as condições de má qualidade do ar”.

Os incêndios têm se concentrado no leste do país e, de acordo com algumas fundações privadas, como a Tierra, o número de hectares de florestas e pastagens afetadas ultrapassa 4 milhões. No entanto, o último relatório do governo estima que esse número seja de 3,8 milhões de hectares.

Há alguns dias, várias cidades, como Santa Cruz, no leste; Cochabamba, La Paz, no oeste; e Cobija, no norte, apresentaram uma densa camada de fumaça, o que alertou as autoridades locais sobre os efeitos negativos para a saúde da população.

A maioria dos incêndios é resultado de “chaqueos” ou queimadas permitidas no campo a fim de preparar a terra para o plantio ou criação de gado, mas ficaram fora de controle devido aos ventos fortes e à seca prolongada.Nesta semana, o Ministério da Educação ordenou que as aulas fossem virtuais em departamentos como Santa Cruz, Beni e Pando.

Organizações ambientais e de direitos dos animais afirmam que os incêndios estão “piorando” e causando danos a milhares de animais selvagens, como onças, tamanduás, aves tropicais, veados e outras espécies típicas de florestas amazônicas ou semi-amazônicas.

O fogo tem causado danos à atividade econômica de populações dependentes da produção de leite e seus derivados, como a Chiquitania boliviana, onde estão localizadas as Missões Jesuíticas, declaradas Patrimônio da Humanidade.

PROBLEMA CRESCENTE
No início de junho, o governo do país alertou sobre a entrada no território nacional de incêndios originários do Brasil, que afetaram principalmente o Pantanal, compartilhado por ambos os países, e o município fronteiriço de San Matías, um dos mais afetados até o momento.

Na época, o vice-ministro da Defesa Civil, Juan Carlos Calvimontes, alertou sobre a existência de mais de 2.800 focos de calor que corriam o risco de se transformar em incêndios florestais se não fossem controlados.

Posteriormente, em julho, a situação piorou, pois os incêndios atingiram algumas áreas de proteção.

As queimadas e a fumaça no leste do país afetaram a operação de aeródromos em várias cidades e algumas operações de decolagem no Aeroporto Internacional Viru Viru, em Santa Cruz, o mais importante do país, foram canceladas devido à baixa visibilidade.

Nos últimos dias, ambientalistas e grupos de oposição parlamentar, como a Comunidade Cidadã (CC), do ex-presidente Carlos Mesa, pressionaram o governo a declarar “emergência nacional”, que o Poder Executivo finalmente determinou no fim de semana.

Nos últimos dias, foi anunciada a chegada de grupos de bombeiros e especialistas em incêndios florestais de Brasil, Chile e França, e o governo também anunciou que alugará aviões-tanque para apagar os incêndios.

Também nas últimas horas, grupos ambientalistas se mobilizaram para pedir ao Executivo e ao Parlamento a revogação das chamadas “leis incendiárias”.

Tratam-se de um conjunto de pelo menos dez leis e decretos presidenciais aprovados entre 2013 e 2019, que incentivam ou legalizam a expansão da fronteira agrícola, o desmatamento e a queima de florestas e pastagens, segundo a Fundação Solon.

*EFE

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