Mulher que ficou refém do grupo Hamas relata os horrores sofridos.

Moran Stella Yanai descreveu período como uma tortura psicológica implacável e repetitiva

Moran Stella Yanai chora ao relatar horrores que passou Foto: Reprodução/YouTube/StandWithUs

Moran Stella Yanai, designer e artista que foi capturada no dia 7 de outubro do ano passado e que foi mantida refém do grupo terrorista Hamas por mais de 50 dias, relatou os horrores que sofreu e o trauma que guarda na mente até hoje, mais de seis meses após a libertação. Em entrevista ao jornal The Washington Post, ela deu detalhes sobre o funcionamento dos cativeiros e a forma como era tratada.

A designer disse que, no dia em que foi raptada pelo Hamas, ela foi capturada três vezes. Ela tinha ido ao Festival de Música Nova, no sul de Israel, para vender suas joias feitas à mão. Segundo Yanai, em certo momento da festa, homens armados do Hamas invadiram o local da rave e ela correu para salvar sua vida. Na fuga, ela chegou a enviar mensagens de voz desesperada aos pais e pensava que sua vida “terminaria”.Após escapar por algumas horas, ela foi capturada por um grupo de milicianos, que transmitiram ao vivo um vídeo de Moran suplicando por sua vida em uma vala. A artista disse que os convenceu de que era árabe, usando seu limitado vocabulário naquele idioma e apontando para seu colar, que exibia seu segundo nome, Stella, em caracteres árabes. Por essa razão, eles a deixaram ir.

Momentos depois, um outro grupo de homens armados a encontrou, mas ela usou a mesma estratégia para negociar sua libertação, e obteve sucesso. No entanto, depois de subir em uma árvore fina, na esperança de encontrar um esconderijo, ela caiu e quebrou o tornozelo em dois lugares. Mancando, ela caiu nas mãos de um terceiro grupo, maior e mais organizado, que não a liberou.

Yanai contou que os terroristas a colocaram em um dos carros israelenses roubados para fugir, e a deitaram sobre os colos deles. A designer disse que chegou a tentar fechar os olhos, mas o líder do grupo puxou seu cabelo e gritou para mantê-los abertos, além de forçá-la a olhar para os homens que a encaravam. Ela relatou ainda que alguns terroristas tentaram golpeá-la enquanto ela era levada para um hospital.

– Bem-vinda a Gaza – disse o líder do grupo.

– Eles se sentiam como se tivessem ganhado um prêmio – lembra Moran.

A artista disse que, no hospital, se viu cercada por outros homens, que rapidamente tiraram seus sapatos, esvaziaram seus bolsos e arrancaram as joias que restavam. Ainda em estado de choque, ela disse ter ouvido um médico sussurrar em hebraico, perguntando como ela estava. No entanto, ela relatou que, após pedir ajuda, lembra de o homem ter sorrido para ela, no que classificou como “um filme de terror”.

– Ele apenas sorriu para mim, como em um filme de terror. Esse foi o momento em que fiz uma mudança em minha cabeça e compreendi que estava em uma situação muito ruim. A partir daí, foi: sobreviver, começar – resumiu.

Em seguida, o médico a examinou rapidamente e colocou uma tala em seu tornozelo em questão de minutos. Entretanto, durante uma transferência entre esconderijos, os guardas terroristas arrancaram a proteção e a obrigaram a descer seis lances de escadas com sapatos de salto alto que eram maiores que os pés dela, o que causava a ela uma dor insuportável.

Moran disse então que, ao longo das sete semanas seguintes, foi transferida de casa em casa, sempre com novos guardas. Ela relatou que temia os homens, mas que dependia deles para sobreviver. A artista disse não ter sido estuprada, mas que ouviu histórias de outras mulheres que foram abusadas no cativeiro, que, segundo ela, a “destruíram um pouco”, mas que também deram força “para lutar ainda mais”.

A artista disse que seus guardas estavam sempre por perto, dormindo ao lado dela e dos outros reféns e que insistiam em estar presentes até quando ela ia ao banheiro. A mulher narrou o período como uma tortura psicológica implacável e repetitiva. Os terroristas, de acordo com ela, disseram que sua família havia se esquecido dela, que ela não tinha país para retornar.

Durante segundo dia em Gaza, a designer lembra que uma bomba estilhaçou a janela do seu quarto e que, noites após noites, os ataques aéreos israelenses se intensificavam, mas que, sem acesso a rádio, televisão ou internet, ela não entendia nada do conflito que se desenrolava ao seu redor.

Onde quer que ficasse detida, ela diz que as regras eram sempre as mesmas: proibido implorar, falar em voz alta, chorar ou expressar qualquer tipo de emoção, salvo se fosse ordenado pelos terroristas. Em um dos esconderijos, por exemplo, ela descreveu seus guardas a forçaram a representar uma cena que eles haviam coreografado, na qual ela tinha de fazer beicinho como “uma garotinha perdida”.

Moran foi finalmente devolvida a Israel em 29 de novembro do ano passado como parte de uma trégua temporária, período em que o Hamas libertou 105 reféns em troca de uma pausa nos combates e a libertação de 240 presos palestinos das prisões israelenses. O resultado do terror foi a descoberta de que era alérgica aos piolhos que infestaram seu couro cabeludo e a perda de quase 8 quilos.

Além disso, a artista também perdeu parte da audição por conta das explosões e teve de começar uma fisioterapia intensiva para o tornozelo Por fim, ela foi diagnosticada com síndrome de dor regional complexa, uma doença crônica rara. Após ser examinada em um hospital israelense, disseram-lhe que o tratamento recebido em Gaza complicou sua recuperação.

Por: Paulo Moura

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