Janones também pediu dinheiro de assessores para campanha.

Novo áudio divulgado mostra deputado pedindo vaquinha de servidores.

Deputado André Janones Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados

Além de pedir o salário de seus assessores para suprir o prejuízo que teve com os gastos de uma eleição para prefeito em 2016, o deputado federal André Janones (Avante-MG) também solicitou dos servidores de seu gabinete uma contribuição para campanhas políticas. A informação está em um novo áudio revelado pelo colunista Paulo Cappelli, do site Metrópoles, nesta terça-feira (28).

– Eu pensei de a gente fazer uma vaquinha entre nós, e aí nós vamos decidir se vai ser R$ 50, se vai ser R$ 100, R$ 200, se cada um dá proporcional ao salário. Se cada um der R$ 200 na minha conta, vai ter mais ou menos R$ 200 mil para a gente gastar nessa campanha – diz o parlamentar na nova gravação.

Segundo Cappelli, a proposta foi feita na mesma reunião em que Janones cobrou parte dos salários dos servidores de seu gabinete para “reconstruir seu patrimônio” após a derrota no pleito de 2016, quando disputou a Prefeitura de Ituiutaba, mas saiu derrotado.

Na nova gravação divulgada, Janones parece tentar institucionalizar uma “vaquinha” mensal entre servidores de seu gabinete, remunerados com dinheiro público, visando o pleito de 2020. Naquele ano, ele sequer concorreu a qualquer cargo, já que seu partido, o Avante, decidiu apoiar a candidatura de Alexandre Kalil, do PSD, à Prefeitura de Belo Horizonte.

O grupo político de Janones, porém, teve candidatos. O parlamentar conseguiu emplacar, por exemplo, sua ex-assessora Leandra Guedes no comando da Prefeitura de Ituiutaba, a mesma cidade na qual ele havia perdido em 2016.

O OUTRO LADO
Após o caso ser revelado nesta segunda, Janones negou que tenha praticado rachadinha e disse estar sendo vítima de perseguição. O parlamentar ainda pediu que o áudio fosse divulgado na íntegra, o que o colunista do Metrópoles fez nesta terça.

– Hoje saiu uma matéria, que está sendo espalhada pela extrema-direita, que me acusa de rachadinha, coisa que eu nunca fiz. Pra isso eles usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi – disse a nota do deputado.

SOBRE O CASO
O deputado federal André Janones (Avante-MG) teria cobrado de seus assessores da Câmara que repassassem parte dos salários para que ele pagasse suas despesas pessoais, prática conhecida como rachadinha. O “pedido” aparece em um áudio que foi divulgado nesta segunda, pelo colunista Paulo Cappelli, do site Metrópoles.

Na gravação, o parlamentar diz que pretendia gastar o repasse de servidores públicos com “casa, carro, poupança e previdência”. Em 2022, ele recebeu 238 mil votos e foi o segundo parlamentar mais votado de Minas Gerais. A reunião na qual os valores foram pedidos aconteceu na própria Câmara dos Deputados, na sala de reuniões do Avante.

Antes de pedir os salários da equipe, Janones tenta justificar a cobrança dizendo que perdeu quase R$ 700 mil em uma campanha para prefeito. A candidatura em questão aconteceu em 2016, quando o político concorreu ao comando da Prefeitura de Ituiutaba, em Minas Gerais, e ficou em segundo lugar com 13 mil votos.

– Algumas pessoas aqui, que eu ainda vou conversar em particular depois, vão receber um pouco de salário a mais. E elas vão me ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito. Porque eu perdi R$ 675 mil na campanha. “Ah isso é devolver salário e você tá chamando de outro nome”. Não é. Porque eu devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser – declarou.

 

Na gravação, Janones declarou ainda que teria perdido “uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 mil” e que achava justo que algumas pessoas participassem com ele da “reconstrução” do patrimônio.

– Então, não considero isso uma corrupção – resumiu.

Em outro trecho, o deputado chegou a dizer que não seria justo assessores permanecerem com 100% de seus salários, enquanto ele teria que arcar com as perdas da campanha.

– Por exemplo, o Mário vai ganhar R$ 10 mil [por mês]. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou (sic) de 2016. Não é justo, entendeu? – disse.

Apesar de tentar se justificar, o próprio parlamentar reconheceu que a prática poderia colocar em risco seu mandato. Ele, porém, tentou fazer pouco caso da questão e disse não se importar se fosse cassado.

– E se eu tiver que ser colocado contra a parede, eu não estou fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, renunciar hoje, seria uma coisa tão natural. Se amanhã vier uma decisão da Justiça: “O André perdeu o mandato”, você sabe o que é eu não me entristecer um milímetro? – afirmou.

Segundo o colunista Paulo Cappelli, a gravação de Janones foi feita pelo jornalista Cefas Luiz, ex-assessor do deputado, em fevereiro de 2019, após o parlamentar se eleger pela primeira vez. Cefas teria afirmado que levará a gravação à Polícia Federal juntamente com outras provas de supostas irregularidades que teriam ocorrido no gabinete do político.

Confira o áudio da reunião na íntegra:

Por: Paulo Moura

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