Dino diz que não recebeu “dama do tráfico” e culpa secretário
“Simplesmente inventam a minha presença”, disse o ministro de Lula.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou, nesta segunda-feira (13), que não tinha conhecimento das reuniões realizadas na pasta entre seus secretários e a esposa de um líder do Comando Vermelho. Em uma publicação na rede social, Dino jogou a responsabilidade para o secretário de Assuntos Legislativos, Elias Vaz, que disse que a faccionada estava como “acompanhante” e “se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário”.
O Estadão revelou que Luciane Barbosa Farias, conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, se reuniu com outras três autoridades no Ministério da Justiça, além de Vaz. Condenada a dez anos de prisão por organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação para o tráfico, a mulher se encontrou também com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen); Paula Cristina da Silva Godoy, ouvidora Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, que é diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen. As audiências ocorreram em março e maio deste ano. O nome de Luciane não aparece nas agendas oficiais das autoridades.
– Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho – escreveu Flávio Dino no X, antigo Twitter.
– De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter do Elias Vaz. Lendo lá, verificarão que não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem – acrescentou.
Por sua vez, Vaz explicou ter recebido a solicitação de audiência da ex-deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ), que é vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia do Rio de Janeiro (Anacrim-RJ).
A ex-parlamentar foi acompanhada de outras três mulheres para a reunião no dia 16 de março, segundo o secretário: Ana Lúcia, mãe do jovem Lucas Vinícius, morto em 2022; Luana Lima, mãe da Lara Maria Nascimento, morta em 2022; e Luciane Barbosa, a dama do tráfico.
– Tenho uma longa trajetória parlamentar e política, sempre com a marca da seriedade. Atendi a advogada Janira Rocha e acompanhantes por conhecer a citada profissional e ela desejar falar sobre vítimas de homicídios – disse o secretário.
Vaz indicou às mulheres que procurassem também a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). Rafael Velasco, chefe da Senappen, ainda não se manifestou sobre o encontro.
Luciane Barbosa é casada com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, um dos líderes do Comando Vermelho. Condenado a 31 anos de prisão, o traficante é tido pela inteligência da Polícia Civil como um indivíduo de altíssima periculosidade e responde por uma série de assassinatos em Manaus.
Após a publicação da reportagem, parlamentares pediram que o ministro da Justiça seja convocado a prestar esclarecimentos, investigado e, até mesmo, enfrente processo de impeachment por causa dos encontros.
*AE