Rosa Weber deixa o STF: “Erra quem nos vê como ilhas”.

Magistrada foi indicada para a Suprema Corte pela então presidente Dilma Rousseff.

Rosa Weber Foto: Fellipe Sampaio /SCO/STF

A ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), se emocionou nesta quarta-feira (27) em sua última sessão na Corte. Ela terminou o discurso entre lágrimas: “Já estou tomada de saudades antecipadas.”

Rosa assumiu a direção do tribunal em setembro de 2022 e, ao longo do último ano, ganhou os colegas com um perfil de consenso.

– Erra muito quem nos vê como ilhas e desconhece as pontes de amizade, respeito e companheirismo existentes entre nós – afirmou a ministra na despedida. Ela foi aplaudida de pé pelos ministros e servidores.

Outra marca da gestão foram os esforços para reconstruir o STF após os atos radicais do dia 8 de janeiro. A ministra se tornou porta-voz do Judiciário sobre os ataques antidemocráticos e ajudou a costurar uma solução para os julgamentos dos vândalos. O episódio foi lembrado no discurso:

– Dia sombrio de nossa democracia, o 8 de janeiro não há de ser esquecido para que, preservando-se a memória institucional, jamais se repita.

Como presidente do STF, Rosa Weber usou o controle da agenda, prerrogativa de quem dirige do tribunal, para pautar julgamentos sobre os direitos das chamadas minorias. O tema também mereceu destaque no discurso:

– Vi um Brasil nem sempre agradável de ser visto, mas que tem que ser conhecido para que possa ser transformado.

A lista de ações pautadas pela ministra inclui temas como o marco temporal para demarcação de terras indígenas e a descriminalização do aborto.

A ministra também liderou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que administra o Poder Judiciário, o debate para aprovação da resolução que promove a paridade de gênero na segunda instância. O último Censo do Judiciário, elaborado a partir de consultas a todos os tribunais do país, apontou que 59,6% dos magistrados são homens. O desequilíbrio aumenta nas instâncias superiores.

Ela foi a terceira e, desde que assumiu, em 2011, a última mulher a tomar posse no Supremo Tribunal Federal. Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicar mais um ministro homem, como sinalizou, o STF passará os próximos 14 anos sem uma mulher na presidência. Além disso, terá apenas uma ministra – Cármen Lúcia – entre onze integrantes.

Interlocutores de Rosa Weber avaliam que a ministra pautou o julgamento sobre a descriminalização do aborto justamente porque não queria abrir mão de seu voto em uma pauta que considera importante para as mulheres, tendo em vista que corre o risco de ser sucedida por um mais um homem no STF, e votou contra a vida, sendo favorável ao aborto até a 12ª semana de gestação.

O posicionamento, para muitos, manchou a atuação da magistrada, que escolheu privilegiar o direito da mulher em detrimento da vida.

Avessa aos holofotes, Rosa Weber mantém um estilo discreto. Ela é descrita por pessoas próximas como uma magistrada “clássica”, que só se pronuncia nos autos e evita a imprensa. A ministra fez carreira na Justiça do Trabalho e chegou ao STF por indicação da então presidente Dilma Rousseff (PT).

*Com informações AE

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