Receita identifica 16 milhões de pacotes internacionais enviados por uma única pessoa

Receita identifica 16 milhões de pacotes internacionais enviados por uma única pessoa

Receita identifica 16 milhões de pacotes internacionais enviados por uma única pessoa

(FOLHAPRESS) – O secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, disse nesta terça-feira (12) que o programa Remessa Conforme tem ajudado o governo a ter informações sobre as compras internacionais feitas pela internet e que o Fisco identificou um “cidadão” que enviou mais de 16 milhões de remessas para o Brasil.

Barreirinhas citou as brechas usadas por empresas estrangeiras que enviam compras fatiadas ao Brasil em nomes de pessoas físicas e falou em “descalabro”.

“Quando a gente começa a ter informação, a gente vê que é um descalabro. A gente está falando de alguém que está trazendo muita coisa no mesmo CPF [Cadastro de Pessoas Físicas], às vezes não no mesmo CPF, mas no mesmo endereço, compras fracionadas em um volume grande”, disse o secretário em evento organizado pela FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).

“Nós temos um ‘cidadão’ que já remeteu mais de 16 milhões de remessas para o Brasil, tem bastante parente aqui”, ironizou.

O programa Remessa Conforme prevê hoje isenção do imposto de importação para compras de até US$ 50 para empresas que possuem certificação. Para remessas acima desse valor (incluindo frete e outros encargos), é cobrada uma alíquota de 60%.

Além do imposto federal, é cobrada por todos os estados uma alíquota de 17% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em operações de importação por comércio eletrônico, conforme definiu o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária).

Barreirinhas disse que o governo está aplicando “o que há de mais moderno no mundo” na fiscalização e que o programa traz mais clareza sobre o recolhimento de imposto.

“Hoje muitas vezes o consumidor é surpreendido, pois acha que o preço da plataforma é o preço [total] do produto. E quando chega o produto aqui na fiscalização, ele recebe uma notificação dos Correios para entrar lá e recolher o imposto de importação, para recolher o ICMS. Ele também está sendo vítima dessa desinformação”, disse.

“A empresa, para ela estar na conformidade, tem que colocar isso com clareza no site dela: o valor do bem com o valor dos tributos. O pagamento já é feito ali. O valor do tributo é repassado. E é feita essa distribuição”, continuou.

Mais de um mês depois do lançamento do programa, apenas duas empresas receberam certificação do governo federal -AliExpress, empresa do grupo Alibaba, e Sinerlog.

O tema é motivo de críticas de varejistas nacionais, que alegam risco de perda de empregos e fechamento de lojas no país. No evento, representantes da FPE falaram em “competitividade desleal” e necessidade de “equidade” ao contestarem a isenção do imposto de importação nas compras de até US$ 50.

Segundo a Fazenda, o país recebe mais de 1 milhão de pacotes por dia, dos quais 2% a 3% eram até então devidamente declarados aos órgãos competentes. Hoje, esse percentual está se aproximando de 30%. A meta do governo é alcançar 100% de regularização até o fim do ano.

Na proposta do Orçamento de 2024, a equipe econômica prevê arrecadar R$ 2,86 bilhões com imposto de importação cobrado em compras de mercadorias internacionais, o que inclui o aumento de fiscalização e iniciativas como o Remessa Conforme.

Na estimativa, o governo também considerou a cobrança de uma alíquota mínima de 20% para compras internacionais de até US$ 50, hoje isentas.

JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO

Quanto à proposta sobre o JCP (Juros sobre Capital Próprio), Barreirinhas disse que o objetivo é corrigir “distorções que drenam recursos do erário”. Segundo ele, o sistema fomenta a descapitalização da empresa e incentiva o desinvestimento.

“Houve alterações societárias que ampliaram artificialmente o patrimônio líquido permitindo pagamento de JCP e a redução drástica do recolhimento do Imposto de Renda, é uma distorção que há”, afirmou.

O projeto de lei que ainda será analisado pelo Congresso Nacional propõe acabar, a partir de 1º de janeiro de 2024, com o mecanismo -forma alternativa de uma empresa remunerar seus acionistas recolhendo menos tributos.

O JCP permite a dedução de juros pagos ou creditados a título de remuneração do capital próprio na apuração do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) das grandes empresas.

Na proposta de Orçamento de 2024, o governo prevê receitas da ordem de R$ 10 bilhões com o fim do JCP. Essa é uma das medidas propostas pelo governo para alcançar a meta de déficit zero prometida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda). Essa fonte de arrecadação, contudo, é uma das mais incertas.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu ao Congresso a retirada da urgência da tramitação do projeto.

 

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