Cirurgia de catarata lidera fila do SUS
A cirurgia diminui o risco de quedas, depressão e ansiedade, melhora o sono e o metabolismo
A população brasileira com 60 anos ou mais deve superar a de crianças entre zero e 14 anos em 2030 segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, esta transição demográfica explica porque a catarata, doença que torna opaco o cristalino do olho conforme envelhecemos, é a primeira no ranking do SUS (Sistema Único de Saúde) com 167,5 mil pacientes na fila de espera.
A catarata, ressalta, é considerada uma das maiores causas de perda evitável da visão. A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) é de que o Brasil tem hoje 1,5 milhão de cegos e 49% dos casos de perda da visão no País são causados por esta doença. Significa que praticamente metade da cegueira no Brasil poderia ser evitado. Isso porque, a catarata é tratada por uma cirurgia que reverte a perda da visão.
Queiroz Neto ressalta que só na Fundação Penido Burnier, braço social do hospital, a fila da cirurgia de catarata tem 800 inscritos e o tempo de espera pelo procedimento pode ser de dois anos. “Quanto mais avançada é a idade, maior a prevalência. A estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que a doença atinge 17% dos que têm entre 55 e 65 anos, 47% das pessoas com 65 a 75 anos e 73% dos maiores de 75 anos” pontua. O problema é que de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em Campinas a população com 55 anos ou mais triplicou entre 2011 e 2021, enquanto o crescimento populacional em todas as idades foi de apenas 14%. Os primeiros dados do censo 2022 comprovam que esta é uma tendência nacional.
Sintomas
O oftalmologista afirma que os principais sintomas da catarata são: troca frequente do grau dos óculos. ofuscamento, dificuldade de dirigir à noite, acompanhar o movimento da bola em jogos de tênis ou golfe, ler letras miúdas ou placas de sinalização. Ao contrário do que muitos acreditam a catarata não deve ficar madura. Queiroz Neto afirma que a operação deve ser feita logo que a doença começa a dificultar as atividades diárias. “A catarata madura dificulta a visualização da retina pelo cirurgião e aumenta o risco de intercorrências durante o procedimento”.
Redução da fila
A boa notícia é que para reduzir a fila represada pela pandemia de covid o Ministério da Saúde está destinando R$ 600 milhões divididos em três parcelas para realização de cirurgias, exames e consultas realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pata a liberação dose recursos todos os estados e Distrito Federal enviaram à Pasta a demanda local por cirurgias que soma 1 milhão de inscritos em mais de 10 procedimentos diferentes.
A primeira parcela de R$ 200 milhões já foi liberada pela Pasta às secretarias de saúde estaduais e municipais. O recurso permite realizar 487 mil cirurgias, o que representa 45% de redução da fila. Queiroz Neto afirma que a iniciativa é bastante importante, mas não pode ser pontual porque os cuidados com a saúde são perenes.
Pesquisa
O oftalmologista ressalta que uma recente pesquisa internacional realizada em vários países, incluindo o Brasil, revela que o brasileiro valoriza muito a visão. Para 89% dos entrevistados é a visão que permite ter boa qualidade de vida no envelhecimento. O levantamento também mostra que 35% desconhecem que a cirurgia é indolor, 30% não sabem que a cirurgia é feita com implante de una lente intraocular e 40% ignoram que existem diferentes modelos de lente que substituem o cristalino.
Os benefícios da cirurgia vão além da melhora da visão. “A visão responde por 85% de nossa integração com o meio ambiente. Por isso, o risco de quedas é menor após a cirurgia pela melhora da visão de profundidade e de contraste. A menor chance de isolamento também diminui a depressão e ansiedade, melhora o sono e o metabolismo pelo maior estímulo do luz azul na retina durante o dia”, conclui.
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