FMI alerta para o aumento da dívida pública dos países

Como resultado desse cenário, o FMI afirma que um ajuste fiscal acompanhado de reformas estruturais é uma equação determinante, mas pode não ser o suficiente para tratar do problema em economias sobreendividadas

FMI alerta para o aumento da dívida pública dos países

Após disparar na pandemia, a dívida pública dos países como proporção do PIB deve continuar elevada diante do aumento dos juros e do fortalecimento do dólar, o que trará riscos ao crescimento e à estabilidade financeira. O alerta está em relatório divulgado nesta segunda-feira, 10, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que promove nesta semana a chamada Reunião de Primavera do organismo e do Banco Mundial, em Washington (EUA).

Como resultado desse cenário, o FMI afirma que um ajuste fiscal acompanhado de reformas estruturais é uma equação determinante, mas pode não ser o suficiente para tratar do problema em economias sobreendividadas. Nesses casos, reestruturações de dívidas seriam a saída. Normalmente, tal caminho é utilizado em último caso devido à sua complexidade.

A média global da dívida pública como proporção do PIB se aproximou dos 100% em 2020, turbinada pelos gastos por causa da pandemia. E a expectativa do FMI é de que o nível de endividamento dos países permaneça acima dos níveis pré-covid em cerca de metade do mundo.

“Os altos índices de dívida pública são uma preocupação significativa para os formuladores de políticas, principalmente à luz do aperto nas condições financeiras globais, das fracas perspectivas de crescimento econômico e de um dólar mais forte”, dizem os autores do estudo, os economistas Prachi Mishra e Adrian Peralta-Alva.

Eles calculam que uma redução dos gastos públicos da ordem de 0,4 ponto porcentual do PIB de um país poderia diminuir o seu índice de endividamento em 0,7 ponto porcentual no primeiro ano. Após meia década de ajuste fiscal, esse impacto chegaria a 2,1 pontos porcentuais, dizem, citando como base a análise de duas décadas de dados.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) faz um alerta sobre a importância da condução da política fiscal para o rumo dos juros em países como o Brasil, em estudo publicado ontem. A taxa Selic saltou de 2%, no início de 2021, para os atuais 13,75%. A avaliação do FMI ocorre às vésperas de o governo enviar para o Congresso proposta de nova âncora fiscal, em substituição ao atual modelo de teto de gastos.

“Maiores necessidades de financiamento fiscal elevaram as taxas reais em alguns países, como no Japão e no Brasil”, dizem Philip Barrett e Jean-Marc Natal, autores do estudo do Fundo. Outros fatores como o aumento da desigualdade ou a queda da participação do trabalho também contribuíram para a subida de juros no Brasil, na visão dos autores, mas em menor escala.

Embora os economistas do FMI evitem comentar especificamente a proposta do novo arcabouço fiscal brasileiro, o estudo reforça o alerta para a influência da condução da política fiscal no comportamento dos juros no País.

“No Brasil, é principalmente o grande aumento do consumo público, financiado pela tributação, que explica a contribuição positiva da política fiscal, ainda que o aumento da dívida pública também desempenhe o seu papel”, dizem.

‘Convergência gradual’

No mundo, a queda das taxas está condicionada ao controle da elevada inflação, segundo os autores do estudo do FMI. Na visão deles, o veloz aperto monetário global seria “temporário”. Quando os bancos centrais conseguirem controlar a inflação, a política deve ser afrouxada nas economias avançadas, fazendo com que as taxas de juros reais retornem aos níveis pré-pandemia. Já no caso de países emergentes, o FMI prevê uma “convergência gradual”.

“Em grandes mercados emergentes, projeções conservadoras de futuras tendências demográficas e de produtividade sugerem uma convergência gradual para as taxas de juros reais das economias avançadas”, afirmam Barrett e Natal.

No entanto, a proximidade dos juros atuais com o patamar visto antes da covid-19 vai depender do comportamento da dívida pública dos países, persistentemente mais elevada após a pandemia, alertam.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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