Ucrânia: Maior crise humanitária desde a II Guerra Mundial
O porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários na Ucrânia criticou os beligerantes de não permitirem ajuda aos civis, na maior crise humanitária de origem militar desde a II Guerra Mundial.
Em declarações à Lusa, Saviano Abreu explicou que a “situação é desesperadora” e o grande problema, explicou, é o acesso às zonas de conflito e a “áreas do país que estão completamente isoladas”.
“Nunca tínhamos visto um conflito com este impacto e que tivesse crescido de forma tão rápida desde a Segunda Guerra Mundial. Nada de nada parecido”, disse Saviano Abreu.
Até ao momento, “não temos o acordo com as partes envolvidas neste conflito para entrar, para prestar ajuda humanitária às pessoas que precisam disso e isso está dificultando muito o nosso trabalho aqui”, disse, dando o exemplo da cidade sitiada de Mariupol, onde se assistem a combates violentos nas ruas e há registos de milhares de civis em situação de carência extrema.
“Estamos a tentar chegar às pessoas que estão aí isoladas e precisando da ajuda humanitária, mas, infelizmente, todas as nossas tentativas de conseguir negociar um acesso a essa área não tiveram efeito ainda”, disse, admitindo que se trata de uma “situação preocupante: tememos pela vida dessas pessoas que estão aí, que precisam de comida, que precisam de água, estão enfrentando um frio enorme”, sem “eletricidade para se aquecer”, naquilo que “é o mais básico para sobreviver”.
Trabalho com segurança
Para uma equipa de apoio humanitário ir a um local, são necessárias garantias de que “vai ser protegida, não vai ter nenhum tipo de ataque” e pode fazer o “trabalho com segurança”, permitindo ainda garantias aos civis que queiram sair, como estabelece a legislação internacional de que os dois países são parte.
“É um direito de cada pessoa poder buscar a sua segurança e sabemos de muitas situações em que as pessoas são impedidas de sair das áreas de conflito”, salientou Saviano Abreu.
“Nas últimas semanas, fizemos várias tentativas de acordos para conseguir chegar a Mariupol” e “nenhuma dessas tentativas, infelizmente, surtiu nenhum efeito e não chegámos a nenhum acordo”, afirmou Saviano Abreu, que comentou o anúncio da abertura de corredores humanitários para sexta-feira pelas duas partes, que vieram a ser suspensos.
“Infelizmente, os anúncios que vimos nos últimos dias não envolve nenhuma operação das Nações Unidas. Não estivemos envolvidos e não fomos informados com antecedência”, disse.
Mas se existir uma “janela de oportunidade que podemos ir e que podemos entrar com ajuda humanitária ou participar na evacuação de forma voluntária, de forma segura, das pessoas que ai estão, então faremos”.
Sete milhões de deslocados internos
O porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários na Ucrânia afirmou ainda que 11 milhões de pessoas tiveram de sair de casa por causa da guerra e metade da população perdeu o emprego.
“Nós estamos no meio de uma crise. Desde a invasão, em cinco semanas, tivemos 25 por cento da população que teve de se deslocar da sua casa e procurar refúgio e segurança noutras partes do país ou fora de fronteiras”, afirmou, em entrevista à Agência Lusa, Saviano Abreu.
A ONU estima que sete milhões de ucranianos são hoje deslocados internos por causa da guerra, um número que aumenta se forem contabilizados os que fugiram para o exterior (quatro milhões).
Saviano Abreu estima que, dentro em breve, a ONU terá de dar apoio direto de ajuda humanitária a 1,4 milhões de pessoas. “Estamos falando de água, de comida, de serviço, de proteção, de educação, das coisas mais básicas, como um cobertor, uma manta para as pessoas que precisam”, explicou.
Por: LUSA