Americanas começa demissões no Rio e em Porto Alegre

A próxima etapa deve ser São Paulo, onde está concentrado o maior número de lojas e CDs (centros de distribuição) da varejista.

Americanas começa demissões no Rio e em Porto Alegre

(FOLHAPRESS) – A Americanas, uma das maiores varejistas do país, que entrou em recuperação judicial no último dia 19, começou nesta terça-feira (31) os cortes de pessoal. Neste primeiro momento, os ajustes são pontuais.

A reportagem apurou que as demissões começaram no Rio de Janeiro, sede da companhia, que foi fundada em 1927 por imigrantes americanos.

A próxima etapa deve ser São Paulo, onde está concentrado o maior número de lojas e CDs (centros de distribuição) da varejista.

Os cortes agora envolvem funcionários indiretos, mas também serão estendidos ao pessoal contratado em regime CLT.

Em outras praças, onde existem menos pontos de venda, como em Porto Alegre, por exemplo, as demissões já atingem funcionários com menos de um ano de casa, também de maneira pontual, apurou a reportagem.

Procurada, a Americanas negou, por meio da sua assessoria de imprensa, que haja demissões. Disse que “apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados” (leia a íntegra da nota da empresa ao final do texto).

São cerca de 45 mil funcionários diretos e aproximadamente 60 mil indiretos. A varejista soma cerca de R$ 43 bilhões em dívidas com credores apontados na recuperação judicial.

O presidente do Sindicato dos Comerciário e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, disse ter sido informado pela Americanas que o corte atingiu 50 funcionários terceirizados da área de tecnologia, no Rio, São Paulo e Porto Alegre.

“Na próxima sexta-feira [3], teremos uma reunião com a empresa para saber se a companhia pretende contratar novos prestadores de serviços ou se já é um movimento de redução de terceiros”, informou à reportagem. Nesta quarta-feira (1º), o sindicato vai promover uma reunião com o Ministério Público do Trabalho para discutir o caso.

Segundo Patah, o sindicato já lidou com outras varejistas em situação de solvência, como Mesbla, Mappin e G. Aronson, e mantém uma posição vigilante quanto aos direitos trabalhistas. “No caso do Mappin, em 1999, por exemplo, foi o sindicato que descobriu que a empresa enfrentava sérios problemas financeiros. A mensalidade descontada em folha não estava sendo direcionada para o sindicato”, lembra.

Empresas que entram em recuperação judicial, em geral, reduzem o quadro de funcionários antes do pedido, de modo que dívidas com rescisões também sejam contempladas no processo, que prevê algumas flexibilizações.

No entanto, como vinha sendo pressionada por credores, a Americanas antecipou seus planos, e acabou fazendo o pedido de recuperação antes de conseguir fazer cortes. Ou seja, o valor devido aos trabalhadores dispensados não poderá entrar no processo de recuperação judicial e deverá ser pago normalmente pela empresa.

O Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro afirmou que não havia recebido informações sobre demissões na Americanas. Ao lado de centrais sindicais, a entidade anunciou a realização de um ato em defesa dos trabalhadores da rede. A manifestação está prevista para sexta-feira (3), na Cinelândia, no centro do Rio.

Na segunda-feira (30), representantes de sindicatos comerciários de várias regiões do país se reuniram com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, para debater os efeitos da recuperação judicial da Americanas sobre os trabalhadores do setor.

“Nós já temos conhecimento que as demissões começaram, mas a empresa não se comunica e deixa os funcionários aflitos, em estado de apreensão”, disse Nilton Neco Souza da Silva, representante dos comerciários da Força Sindical e presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre.

De acordo com o advogado Filipe Denki, especialista em recuperação judicial, para demitir, a empresa não precisa de autorização da Justiça. “A companhia em recuperação judicial não pode aumentar despesas sem autorização, ou seja, não pode contratar”, afirma. “Os cortes de despesas, como fechamento de lojas, por exemplo, também não precisam ser comunicados à Justiça”, disse.

A Americanas também começou a convocar executivos em cargo de gerência e diretoria para o trabalho presencial (eles trabalhavam remotamente desde o início da pandemia). A empresa conta com a impopularidade dessa medida para fazer com que os executivos peçam demissão -o que iria onerar menos a companhia, uma vez que são cargos de mais alto salário.

Permaneceriam no home office apenas os trabalhadores da área administrativa na função de analistas.

DEMISSÕES VÊM DA NECESSIDADE DE FECHAR LOJAS

A reportagem apurou que os cortes devem ocorrer, principalmente, devido à necessidade de fechamento de lojas. Os números são incertos, mas existe a expectativa que ao menos 30% dos pontos de venda fechem as portas, a fim de reduzir os custos fixos com aluguel e pessoal.

O último balanço da varejista, referente ao terceiro trimestre de 2022, indicava uma rede com 3.601 pontos de venda, incluindo as franquias do Grupo Unico (Imaginarium, Puket, MinD e LoveBrands) e da Local (que, junto com as lojas BR Mania, integravam a joint venture Vem Conveniência, desfeita pelo grupo Vibra no último dia 23). Esses pontos, porém, não estão envolvidos na recuperação judicial.

Mas a rede de hortifrutis Natural da Terra (79 lojas), comprada pela Americanas em agosto de 2021, está no processo de recuperação judicial. Além desses pontos, as lojas que podem ser fechadas pertencem ao formato tradicional Americanas (1.017 pontos) e ao modelo Americanas Express (783 pontos). Juntos, os dois formatos somam quase 1,3 milhão de metros quadrados.

“A princípio, a rede Natural da Terra poderia ser vendida dentro do processo de recuperação judicial”, diz sócio da consultoria Performa Partners. “Mas existem três pontos críticos para isso: a demora do plano em ser aprovado, garantir uma estrutura independente para a Natural da Terra, já que hoje caixa, estrutura e CNPJ estão junto com Americanas, e encontrar um potencial comprador”, afirma Pimentel, que já trabalhou em uma das reestruturações realizadas na Americanas, na virada dos anos 2000, pela Galeazzi & Associados.

Segundo ele, a varejista acredita que a rede vale cerca de R$ 2 bilhões, algo próximo do valor pago um ano e meio atrás. “Mas o mercado acha que vale entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Isso vai ser um complicador no plano de recuperação judicial: a empresa acha que pode vender pelo máximo, mas só tem quem paga o mínimo.”

MINISTRO DIZ QUE CASO TEM ‘CHEIRO DE FRAUDE’

O governo deve criar uma mesa redonda para intermediar os diálogos entre a Americanas e os trabalhadores da companhia, disse nesta terça o ministro Luiz Marinho, argumentando que órgãos responsáveis serão acionados se for constatado que houve fraude na contabilidade da empresa.

“Eu não posso afirmar que houve fraude, mas que tem cheiro, tem”, disse.

 

Marinho afirmou, durante entrevista para comentar os dados de emprego formal de 2022, que o objetivo do governo é proteger o lado mais fraco nessas negociações.

“Trabalhadores são vítimas desse processo, […] não vi ninguém falando de preocupação com o emprego dos trabalhadores”, disse.
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ÍNTEGRA DA NOTA DA AMERICANAS

A Americanas informa que não iniciou nenhum processo de demissão de funcionários. A companhia apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados. A Americanas atua nesse momento na condução de seu processo de Recuperação Judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia. O plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e será amplamente divulgado assim que for finalizado.
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Colaborou Leonardo Vieceli, do Rio

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