Moradores ‘sequestram’ equipe da Enel para ter luz de volta no centro de São Paulo
A falha na transmissão teve início por volta das 14h da última quinta (1°) e só foi solucionada no meio da tarde de domingo (4), quando ocorreu a confusão.
(FOLHAPRESS) – Inconformados com a falta de luz em seus imóveis há 72 horas, moradores da rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia, centro de São Paulo, impediram que uma equipe da Enel deixasse a região sem realizar reparos na rede elétrica.
A falha na transmissão teve início por volta das 14h da última quinta (1°) e só foi solucionada no meio da tarde de domingo (4), quando ocorreu a confusão.
Segundo os moradores, os funcionários da concessionária de energia disseram que faltava segurança para permanecer no local e solucionar o problema, motivado pelo furto de cabos.
A rua dos Gusmões abriga um dos grupos de dependentes químicos da cracolândia na região central.
Em nota, a Enel confirmou que o atraso no reparo ocorreu devido à insegurança na região. A empresa acrescentou que só a região da cracolândia concentra 42% dos 219 casos de furtos de cabos subterrâneos na capital neste ano.
À reportagem moradores relataram como impediram os funcionários da concessionária de sair do bairro.
“Eles estavam em uma rua, quando uma vizinha os viu e nos avisou. Falaram que estavam com o nosso protocolo, mas que não iriam à nossa rua, porque estava cheia de usuários. Daí nós falamos que não iriam sair de lá enquanto não resolvessem o nosso problema”, contou a pedagoga Paula Oliveira, 48.
Oliveira disse que os moradores, então, se dividiram em dois grupos. Enquanto um segurou os funcionários da Enel, outro foi em direção à base da GCM (Guarda Civil Metropolitana) a poucos metros do local.
“Total descaso. Se não fôssemos nós, moradores, quase que sequestrar uma equipe, eles simplesmente não teriam feito o serviço, alegando falta de segurança, sendo que poderiam ter ido até o quartel, que fica muito perto, e pedido auxílio”, completou a pedagoga.
A falta de energia também afetou o abastecimento de água no prédio, já que uma das bombas elétricas parou de funcionar.
Gestante, a dona de casa Stefani Magalhães, 28, disse ter passado por momentos difíceis. Ela teme que a situação possa se tornar frequente. “Muitos não podem entender, mas subir sete lances de escada, grávida de oito meses e acompanhada de uma criança de três anos, no escuro, não é fácil”, disse ela.
“As contas estavam pagas, todas em dia”, continuou ela. “Saber que esse transtorno foi causado porque as pessoas que seriam responsáveis por executar esse trabalho, de verificar o problema da luz, não o fizeram por se sentirem inseguros com a região foi pior ainda. Se eles não se sentem seguros em executar um trabalho que levou duas, três horas, imagine nós, que temos que passar por esse caos todos os dias.”
Magalhães afirmou que tentaram entrar em contato com a Enel inúmeras vezes. “Foi preciso nós, moradores, nos unirmos para vigiar quando um carro iria passar pela região para podermos pará-lo e pedir auxílio.”
O comerciante Pablo Ferreira, 33, também participou do episódio. Ele afirmou ter tido prejuízo com alimentos, como legumes e congelados, que estavam em sua geladeira.
“Antes, a gente esperava um dia pelo atendimento, agora é de três a quatro. A gente só conseguiu atendimento porque muitos moradores desceram e praticamente impediram o carro de ir embora.”
A Enel afirmou, em nota, que trabalha constantemente para combater e impedir a ação de criminosos no furto de cabos de energia, com ações de automação, aplicação de travas e ronda periódica.
Conforme a concessionária, a rua Santa Efigênia registra média mensal de 12 furtos de cabos de energia.
Sobre o caso na rua dos Gusmões, a Enel disse que sua equipe esteve no local para efetuar o serviço no prazo correto, porém os técnicos identificaram risco à integridade física deles por causa da hostilidade com que foram recepcionados por usuários de drogas e/ou traficantes que estavam na rua. Diante disso, recuo e solicitou apoio da GCM.
A concessionária acrescentou que o furto de cabos é crime com pena de reclusão e que a prática oferece risco à vida da própria pessoa, prejudica as instalações e equipamentos de distribuição de energia e impacta diretamente o fornecimento de energia para todos os clientes, incluindo hospitais, escolas, empresas e comércio.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) declarou que a Polícia Civil, em conjunto com a GCM, prestou apoio aos funcionários da concessionária e que o trabalhos foram finalizados, com a energia sendo restabelecida nesta segunda (5).
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana disse serem improcedentes informações de que a guarda tenha recebido pedido da Enel para escoltar seus funcionários em reparos da fiação na região central.
Segundo a pasta, no sábado (3), duas moradoras de um condomínio na rua dos Gusmões solicitaram apoio à GCM, pois estavam havia vários dias sem energia elétrica. Na ocasião, ainda de acordo com a secretaria, os agentes afirmaram que “atuam no patrulhamento comunitário e preventivo da região, 24h por dia”.