Congresso estará à direita e mais radicalizado com bolsonaristas
Os partidos de direita, com predomínio das legendas do Centrão, conquistaram a maioria das cadeiras da Câmara e do Senado em disputa.
A eleição de ontem transformou o Congresso Nacional no mais conservador da história do período democrático do País, considerando o resultado obtido nos principais colégios eleitorais. Os partidos de direita, com predomínio das legendas do Centrão, conquistaram a maioria das cadeiras da Câmara e do Senado em disputa.
O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, elegeu as maiores bancadas para a Câmara em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O levantamento leva em conta o resultado parcial de mais de 90% das urnas apuradas. Os números finais ainda podem mudar com a totalização final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em São Paulo, o partido de Bolsonaro ficou com 17 cadeiras na Câmara, enquanto a federação PT-PCdoB-PV, que apoia o petista Luiz Inácio Lula da Silva, conquistou 11 vagas. No total, São Paulo tem 70 deputados federais. Com 98,45% das urnas apuradas, Guilherme Boulos (PSOL) foi o campeão em São Paulo para a eleição de deputado federal, com 986.954 votos. Ficou na frente do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente, que chegou em terceiro lugar, com 731.574 votos. Também reeleita, a deputada Carla Zambelli (PL), ocupou a segunda posição, com 935.290 votos.
O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles também conquistou uma vaga, sendo o quarto mais votado entre os paulistas, com 638.427 votos. Mas candidatos de direita que romperam com Bolsonaro tiveram dificuldades. Joice Hasselmann (PSDB-SP), a mulher mais votada em 2018 para deputada federal, teve apenas 13.413 votos e perdeu o cargo.
O PL de Bolsonaro se tornou o principal partido do Centrão e campeão de cadeiras na eleição para deputado federal no Rio, com 11 das 46 vagas em disputa. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL) era segundo mais bem votado no Estado, com 204.889 votos, no momento em que 99,72% das seções estavam totalizadas. Logo atrás vinha Talíria Petrone (PSOL), a mais bem votada na esquerda.
Em Minas, o vereador Nikolas Ferreira (PL) teve 1.396.211 de votos e caminha para ser o deputado federal mais votado do País, com 93,54% das urnas apuradas no Estado.
Na prática, a vitória de políticos do Republicanos, do PP e do União Brasil fortalece a bancada da direita no Congresso. O PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e o União Brasil, presidido pelo deputado Luciano Bivar (PE), negociam a formação de um único partido.
A configuração que sai das urnas aumenta a chance de o grupo ficar com os cargos mais estratégicos da Câmara a partir de 2023, incluindo a presidência da Casa, ampliando o domínio sobre a elaboração do Orçamento e a votação dos projetos de lei. Lira é candidato a novo mandato à frente da Câmara. Em Alagoas, com 74,74% das seções finalizadas, ele era o candidato mais votado.
A eleição para o Senado também foi marcada pela vitória de aliados de Bolsonaro e políticos que colaram seus nomes à figura do presidente. Os partidos de direita emplacaram 19 nomes.
Os ex-ministros Sérgio Moro (União Brasil-PR), Damares Alves (Republicanos-DF), Marcos Pontes (PL), Tereza Cristina (PP) e Rogério Marinho (PL-RN) foram eleitos senadores. O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) também conquistou uma vaga no Senado e Magno Malta (PL-ES) volta à Casa.
NEGACIONISTAS E DEFENSORES DE VACINA
Os eleitores brasileiros garantiram boa votação a candidatos identificados com o negacionismo científico durante a pandemia do novo coronavírus, mas também asseguraram o mandato de parlamentares que atuaram na CPI da Covid no Senado.
Candidata à deputada no Ceará, Mayra Pinheiro (PL), que ficou conhecida como “capitã cloroquina” durante a pandemia não conseguiu se eleger. Seu partido fez um bancada de cinco deputados no Estado, ficou em sétimo e com votos expressivos para quem disputa pela primeira vez. Teve mais de 70 mil votos. Mayra ocupou cargo de Secretária no Ministério da Saúde e era defensora do uso de medicamento sem comprovação científica para o tratamento da covid-19.
Dois ex-ministros da Saúde do governo Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia tiveram destinos distintos. O general Eduardo Pazuello (PL), investigado por má gestão, foi um dos deputados federais mais votados no Rio. O médico Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), demitido por divergir de ordens de Bolsonaro contra o isolamento social, perdeu a disputa do Senado no Mato Grosso do Sul.
Aliado de Bolsonaro mais bem votado no Rio, Pazuello recebeu mais de 202 mil votos e era um dos líderes na lista de deputados federais. Com 98% das urnas apuradas, ele já era o segundo colocado. O oficial da reserva do Exército foi indiciado na CPI da Covid e virou alvo de investigação do Ministério Público. Pazuello é acusado de ter atrasado a negociação da compra de vacinas. Ele nega. Ex-deputado federal, Mandetta concorreu ao Senado e ficou em segundo, sendo derrotado pela ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), apoiada por Bolsonaro.
No Amazonas e na Bahia, o resultado foi o inverso. Dois integrantes da CPI saíram vitoriosos das urnas. O senador Omar Aziz, presidente da Comissão, com 98% dos votos, estava praticamente eleito para mais oito anos no Senado. Na Bahia, o senador Otto Alencar (PSD) também foi reeleito. Ambos tiveram atuação destacada na CPI. Aziz conduziu os trabalhos sem dar trégua às cobranças ao governo do presidente Bolsonaro.
Já Alencar costumava enfrentar representantes governistas na comissão e também os integrantes do Ministério da Saúde que eram chamados a depor. Alencar tirava partido do fato de ser médico e questionava o discurso do governo de incentivar o uso da cloroquina como tratamento precoce.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.