Intoxicação de cães: governo suspende uso de ingrediente de petisco

O governo determinou o recolhimento nacional de todos os lotes de mercadorias da Bassar Pet Food

Intoxicação de cães: governo suspende uso de ingrediente de petisco

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) identificou irregularidades envolvendo uma das fornecedoras de matéria-prima para a Bassar Pet Food, rede de produtos para animais, e mandou suspender o uso de parte dos ingredientes fabricados por essa empresa. O governo já havia determinado o recolhimento nacional de todos os lotes de mercadorias da Bassar após a morte de ao menos nove cachorros em São Paulo e em Minas por suspeita de intoxicação ao consumir petiscos da marca.

 

Além de São Paulo, Minas e Distrito Federal, mais 7 Estados já têm relatos. Segundo investigações da Polícia Civil mineira, os óbitos no Brasil já chegam a 48. Procurada, a Bassar disse que vai se pronunciar em breve sobre a análise realizada pelo ministério. Na sexta, 2, a companhia já havia informado que decidiu interromper a produção de sua fábrica até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas

 

A determinação do Ministério da Agricultura, divulgada nesta terça-feira, 6, é de que as empresas registradas junto ao Mapa suspendam imediatamente o uso em suas linhas de produção de dois lotes da matéria-prima propilenoglicol adquiridos da empresa Tecno Clean Industrial Ltda. A pasta, no entanto, não deu mais detalhes sobre o motivo da suspensão desses lotes.

Ainda de acordo com o ministério, as empresas fabricantes de produtos para alimentação animal registradas no Mapa também devem identificar os produtos fabricados com o uso dessas matérias-primas e, caso encontrem, devem fazer o recolhimento no comércio atacadista e varejista.

 

“Os procedimentos deverão ser comunicados aos serviços de inspeção de produtos de origem animal de cada jurisdição, para controle e ações complementares do Mapa”, disse em nota.

 

Anteriormente, os produtos identificados com suspeita de contaminação eram o Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467). O Grupo Petz também havia informado que logo que teve conhecimento do caso, ainda na sexta-feira, também retirou embalagens do petisco Snack Cuidado Oral Hálito Fresco dos pontos de vendas. Todos fabricados pela Bassar.

 

O Mapa encaminhou ofício às associações Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Associação Brasileira da Indústria e Comércio de Ingredientes e Aditivos para Alimentos (Abiam) e Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra) para que colaborem na divulgação dos dados junto a seus associados.

 

Procuradas pela reportagem, as entidades ainda não se manifestaram, assim como a empresa Tecno Clean Industrial Ltda.

 

Polícia fala em aumento de mortes

 

A Polícia Civil de Minas afirma que Minas, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Sergipe e Goiás têm relatos de intoxicação de cachorros. Conforme investigações, já são pelo menos 48 óbitos registrados com a mesma suspeita, sendo 8 mortes apenas em Belo Horizonte registradas até segunda-feira, 5. Outros cães permanecem internados com quadro de falência renal, segundo a delegada Danúbia Quadros, responsável pelo caso.

 

“É importante que o tutor procure a delegacia mais próxima e leve o produto para verificar se esse óbito e essas intercorrências se deram pela ingestão do petisco”, acrescentou a delegada.

 

Início das investigações

 

As investigações tiveram início após tutores de animais de estimação observarem que pets saudáveis começaram a ficar doentes e falecer.

 

Laudo preliminar divulgado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base na necropsia de dois dos animais intoxicados, identificou a presença de monoetilenoglicol no corpo de um deles. Conhecida também como etilenoglicol, a substância é geralmente usada para refrigeração e encontrada em baterias, motores de carro e freezers ou geladeiras.

Segundo a perita criminal Renata Fontes, desde o início da semana a polícia mineira vem recebendo materiais trazidos por tutores dos animais supostamente ligados à intoxicação. “Fizemos alguns exames e, até agora, identificamos o monoetilenoglicol em um dos diversos produtos que estamos recebendo, mas ainda existem muitos outros a serem encaminhados para análise, que ainda está em andamento. Ainda há muito trabalho a ser feito para chegarmos a uma conclusão mais precisa”, afirmou.

 

“Precisamos avançar para entender ainda como tudo aconteceu, pois não conhecemos o processo produtivo da empresa. Certo é que o monoetilenoglicol não deve estar presente em nenhum alimento, ou seja, nenhum produto de consumo humano, nem animal. É uma substância classicamente tóxica que leva à insuficiência renal, um dos sintomas identificados em dois dos animais acometidos pela intoxicação”, explicou ainda a perita. O etilenoglicol é o mesmo líquido que causou a morte de 10 pessoas que consumiram a cerveja Backer, em 2019.

 

As polícias Civil de São Paulo e de Minas trabalham em conjunto para completo esclarecimento dos fatos.

 

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirma que todos os casos registrados serão encaminhados para a Delegacia de Investigações sobre Infrações Contra o Meio Ambiente (DICMA) de Guarulhos, que instaurou inquérito policial e solicitou perícia na fábrica.

 

Funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, junto com a equipe de investigação da delegacia e do Instituto de Criminalística (IC), estiveram na fábrica da Bassar em Guarulhos e apreenderam elementos para perícia. Representantes da empresa serão ouvidos nos próximos dias.

 

“Os responsáveis e funcionários da instituição prestarão depoimento para auxiliar na elucidação dos fatos, assim como os tutores dos cães. Os laudos periciais estão em elaboração e, assim que concluídos, serão analisados”, disse, em nota.

 

A polícia aconselha ainda que os tutores registrem boletim de ocorrência. “O registro pode ser feito em qualquer delegacia ou por meio da delegacia eletrônica. A Polícia Civil orienta que os donos dos animais apresentem o máximo de detalhes para auxiliar nas investigações como, por exemplo, disponibilizar o petisco ou a embalagem dele, assim como o laudo clínico do cão.

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