Cláudio Castro omitiu empresa e conta bancária em declarações de bens ao TSE
As informações não constam em nenhum dos três registros de candidatura feitos pelo governador em 2012, 2016 e 2018.
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), omitiu em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral o saldo de sua conta bancária e sua participação numa empresa de negócios financeiros.
As informações não constam em nenhum dos três registros de candidatura feitos pelo governador em 2012, 2016 e 2018. A entrega da declaração de bens é exigência para o registro de candidatura e a omissão de informação pode configurar crime eleitoral.
Castro, que vai tentar a reeleição, abriu em 2008 a empresa Prime Assessoria em Negócios Financeiros. De acordo com o contrato social, ela tem como alguns dos objetivos “intermediação de operações de empréstimos e financiamentos” e “análise e encaminhamento de proposta de crédito e levantamento cadastrais”.
Documentos da Junta Comercial mostram que foi o próprio governador, à época assessor do então vereador Márcio Pacheco (PSC) na Câmara Municipal, quem protocolou os documentos para a abertura da empresa, em junho de 2008.
O governador afirmou, em nota, que a empresa está sem movimentação financeira desde 2010. Declarou ainda que todas as informações prestadas à Justiça Eleitoral foram aprovadas com o deferimento de seus registros.
A empresa atualmente é considerada inativa pela Junta Comercial após passar dez anos sem protocolar nenhum novo documento. A medida é determinada por lei que rege o registro público de empresas. Na Receita Federal, contudo, ela ainda é considerada ativa.
Castro possui 50% das cotas da empresa, cujo capital social é de R$ 1.000. A outra metade da sociedade pertence a Diego Faro, ex-integrante da antiga banda gospel de Castro e atualmente assessor do governador.
Além da empresa, o governador também não declarou em nenhum dos três anos em que se candidatou qualquer saldo em conta bancária. Como a Folha mostrou em 2020, a prática é comum entre candidatos: 146 postulantes à prefeitura de capitais não informaram quanto tinham guardado no banco.
Ao longo do período em que a empresa esteve ativa, Castro ocupou cargos comissionados na Câmara Municipal, na prefeitura, na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa. Procurado, ele não quis informar o saldo de sua conta à época do registro de candidatura.
Os únicos bens declarados pelo governador em 2018, à época vice da chapa de Wilson Witzel, foram um automóvel avaliado em R$ 120 mil e um imóvel, de R$ 150 mil.
O apartamento foi adquirido com um financiamento da Caixa Econômica Federal em 2011 num condomínio ao lado de Rio das Pedras, favela controlada por milícias na zona oeste do Rio de Janeiro. Castro mora na Barra da Tijuca, em imóvel alugado.
O apartamento foi declarado à Justiça Eleitoral em 2012, quando Castro se candidatou pela primeira vez, sem sucesso, a vereador da capital fluminense.
Em 2016, quando foi eleito para a Câmara Municipal, o registro de candidatura não apresenta qualquer bem. O imóvel volta a ser declarado junto com o carro em 2018.
Em nenhuma das três candidaturas foram informados a empresa e o saldo de conta bancária.
Castro apareceu com 18% das intenções de voto em pesquisa feita pelo Datafolha divulgada no mês passado. Ele está na liderança em empate técnico com o deputado Marcelo Freixo (PSB), que tem 22%.
O governador assumiu o estado em agosto de 2020, após o afastamento de Witzel pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob suspeita de corrupção. Desde então, ele vem tentando ampliar seu conhecimento junto ao eleitorado. Quase um terço (34%), segundo o Datafolha, diz não conhecê-lo.
Empresa não tem movimentação financeira desde 2010, diz governador Em nota, a assessoria do governador afirmou que a empresa não tem movimentação financeira desde 2010.
“A empresa prestava serviços de intermediação de operação de empréstimos financeiros, por meio de análise e encaminhamento de crédito, além de levantamento cadastral”, afirma a nota.
Castro destacou o fato de seus registros de candidatura terem sido aprovados pela Justiça Eleitoral.
“Nas três vezes em que o governador Cláudio Castro concorreu a cargos eletivos, as informações prestadas pelo então candidato foram aprovadas pela Justiça Eleitoral com o consequente deferimento de seus registros”, diz o governo.
“Com relação a Diego Faro, assessor especial no gabinete do governador do estado do Rio de Janeiro, o mesmo atua no atendimento de demandas e na organização de agendas e já trabalhou com Cláudio Castro em outras oportunidades.”
Castro não respondeu qual era o saldo de sua conta bancária à época do registro de candidatura em 2018, bem como o atual.