PF prende militar lotado na Funai por suspeita de arrendamento ilegal de terra indígena
Jussielson Gonçalves Silva é um dos diversos militares que assumiram coordenações regionais da Funai na Amazônia sob o governo Jair Bolsonaro (PL)
Silva é um dos diversos militares que assumiram coordenações regionais da Funai na Amazônia sob o governo Jair Bolsonaro (PL). O suboficial da Marinha foi nomeado para Ribeirão Cascalheira (782 km a nordeste de Cuiabá) em 18 de março de 2020.
A operação Res Capta, realizada em conjunto com o MPF (Ministério Público Federal), envolveu cerca de 50 policiais federais e visa desarticular um esquema envolvendo fazendeiros, servidores da Funai e uma liderança da Terra Indígena Marãiwatsédé, do povo xavante. Foram cumpridos outros dois mandados de prisão, sete mandados de busca e apreensão e duas ordens judiciais de afastamento de cargo público, segundo a PF.
De acordo com a investigação, servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Ribeirão Cascalheira estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da região com 15 arrendamentos dentro de Marãiwatsédé. O montante de propina chegava a R$ 900 mil por mês.
Procurada, a Funai informou que o arrendamento de terras indígenas é proibido e que o coordenador será afastado da função. O órgão disse que está à disposição para colaborar com as investigações.
A reportagem não localizou o advogado de defesa de Silva.
Com cerca de 165 mil hectares, a Terra Indígena Marãiwatsédé está localizada nos municípios de Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia, em Mato Grosso. Trata-se da quarta terra indígena mais desmatada da Amazônia, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPF em Mato Grosso, os problemas de arrendamento foram detectados em 2017. De início, houve uma tentativa de negociar com a Funai a retirada do gado, mas o processo parou em 2019. Trata-se do primeiro ano do governo Bolsonaro, que defende a legalização de arrendamento de terras indígenas.
“Assim, não restou outra alternativa ao MPF que o ajuizamento de ação civil pública para que o Poder Judiciário determine ao órgão indigenista e à União a retirada do gado”, diz a nota à imprensa.