EUA pressionam Canadá para acabar com protestos de caminhoneiros antivacina

O Canadá destina 75% de suas exportações para os EUA, e os caminhões desempenham um papel crucial no transporte entre os dois países, o que mostra a dimensão econômica do bloqueio

EUA pressionam Canadá para acabar com protestos de caminhoneiros antivacina

SÃO PAULO, SP, E GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Os protestos iniciados por caminhoneiros contrários à obrigatoriedade de vacinas contra a Covid-19 no Canadá, conhecidos como “comboios da liberdade”, transbordaram para outros países, geraram consequências econômicas e levaram o governo dos Estados Unidos a pressionar o vizinho por medidas mais duras.

Ponto central da tensão, o bloqueio da ponte Ambassador, que liga a cidade americana de Detroit à canadense Windsor, expôs o impacto causado pelo que, inicialmente, o premiê Justin Trudeau descreveu como uma “minoria marginal”. A conexão é um elo vital para a indústria automobilística, irritada com um bloqueio que, após dois anos pandêmicos, ameaça gerar desabastecimento e queda nos lucros.

Washington instou as autoridades canadenses a usarem os poderes federais para apaziguar a situação e encerrar os bloqueios, segundo informações da mídia americana. Os EUA ofereceram, ainda, ajuda dos departamentos de Segurança Interna e Transportes, caso necessário, mas sem detalhar como seria a cooperação bilateral.

A pressão também veio por parte da governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer, que pediu que as autoridades “tomem todas as medidas necessárias” para aliviar o bloqueio econômico. “[Essa situação] está atingindo a renda das famílias e as linhas de produção. Isso é inaceitável”, afirmou, em comunicado.

Em resposta, o prefeito de Windsor, na província de Ontário, Drew Dilkens, disse que a administração, junto à indústria automobilística local, busca conseguir na Justiça uma liminar que obrigue a saída dos manifestantes. Mas sinalizou que esse é apenas um passo e que retirar os caminhoneiros à força não é uma possibilidade descartada.

“Se os manifestantes não saírem, terá de haver um caminho a seguir”, disse ele à rede CNN. “Se isso significa removê-los fisicamente, então o removeremos. E estamos preparados para fazer isso.”

O bloqueio tem custado US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) em bens comerciais e alimentos todos os dias, segundo cálculos divulgados pelo prefeito Dilkens, que reforçou tratar-se de uma crise nacional, e não local. A Justiça pode avaliar a liminar ainda nesta sexta-feira (11).

Enquanto isso, o autodenominado comboio da liberdade respinga em outras regiões. Inspirados pelos caminhoneiros, manifestantes também saíram às ruas da Nova Zelândia. A polícia local chegou a prender mais de 120 pessoas em um protesto contra restrições ligadas à pandemia em torno do Parlamento nacional nesta quinta (10).

O confronto com a polícia escalou a adesão ao movimento, que no país foi apelidado de “acampamento da liberdade”. De 250, o número de manifestantes cresceu para mais de 1.500 na noite de quinta (manhã de sexta no Brasil), segundo contagem da agência de notícias AFP.

Já na França, a previsão de carros, motos e caminhões saindo de várias partes do país em direção à capital, Paris, fez com que a polícia da cidade estabelecesse um decreto proibindo esse tipo de manifestação entre esta sexta e segunda (14).

“Haverá um destacamento especial para prevenir bloqueios nas principais vias, multas e prisões serão aplicadas em quem infringir a proibição do protesto”, afirmou a polícia parisiense em nota.

O mesmo comunicado lembra de artigo do código de trânsito que lista as punições para quem impede o tráfego de vias públicas -entre elas, dois anos de prisão, multa de 4.500 euros (R$ 26,8 mil) e suspensão da carteira de motorista por três anos ou mais.

“Se as pessoas querem se manifestar do jeito normal, elas podem”, disse o ministro do Interior Gerald Darmanin a uma emissora francesa. “Se elas quiserem bloquear o trânsito, nós vamos intervir.”

Um grupo -entre dezenas- com cerca de 350 mil pessoas no Facebook chamado “Le convoi de la liberté” (tradução literal do nome dado aos protestos canadenses) compartilha mensagens sobre as carreatas. Algumas deixaram cidades do sul do país já na quarta (9).

Segundo o jornal francês Le Monde, usuários ativos nos grupos e aplicativos de mensagens sobre a mobilização se apresentam como “apolíticos e cidadãos comuns” e emulam discurso que se aproxima do observado nas manifestações dos “coletes amarelos”, em 2018.

A ideia do comboio francês é seguir de Paris até a vizinha Bélgica, mais especificamente à capital Bruxelas, que também é o centro administrativo da União Europeia (UE). O prefeito Philippe Close disse que os manifestantes serão bloqueados porque não houve pedidos de permissão para a entrada de comboios na cidade.

A polícia austríaca também se manifestou dizendo que “comboios da liberdade” não seriam permitidos em Viena sob o argumento de que eles causariam um distúrbio inaceitável e poluição.

No Canadá, a estratégia teve origem a partir de manifestações de caminhoneiros que são contra a obrigatoriedade de passaporte vacinal para atravessar a fronteira com os EUA.

O movimento, no entanto, vem encolhendo: no último fim de semana, a polícia contou 1.000 caminhões e 5.000 manifestantes, um terço do que foi registrado no pico dos protestos contra as restrições, quando havia cerca de 3.000 caminhões e 15 mil pessoas nas ruas de Ottawa. De acordo com a agência AFP, na terça (8) havia entre 400 e 500 caminhões bloqueando o centro da cidade.

O Canadá destina 75% de suas exportações para os EUA, e os caminhões desempenham um papel crucial no transporte entre os dois países, o que mostra a dimensão econômica do bloqueio. Só em peças de automóveis, cerca de 100 milhões de dólares canadenses cruzam a fronteira diariamente.

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