Cocaína adulterada que matou 24 na Argentina tinha anestésico de elefante, diz jornal
O opioide, geralmente usado para anestesiar elefantes, foi detectado na perícia feita em amostras apreendidas nas comunidades de onde a investigação aponta ter saído a droga adulterada
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia da Argentina acredita que a substância que adulterou a cocaína que deixou ao menos 24 mortos na última semana na região metropolitana de Buenos Aires seja o carfentanil. O opioide, geralmente usado para anestesiar elefantes, foi detectado na perícia feita em amostras apreendidas nas comunidades de onde a investigação aponta ter saído a droga adulterada
O resultado da análise foi divulgado nesta quinta-feira (10) pelo jornal Clarín, que teve acesso ao relatório da Procuradoria de Munro, na província de Buenos Aires, e do laboratório da Polícia Científica da capital.
Até aqui, as autoridades e especialistas ouvidos pela imprensa tinham como principal hipótese para a contaminação o fentanil -também um opioide.
“Os resultados dos dois estudos periciais independentes […] chegaram à conclusão de que a substância encontrada em diversas amostras é carfentanil, opioide extremamente forte, cujos efeitos são 10 mil vezes mais fortes, ou ainda mais, que a heroína ou o fentanil”, disse a Procuradoria.
O DEA, órgão de controle de drogas ilegais dos Estados Unidos, confirma que a substância pode ser 10 mil vezes mais poderosa que a morfina, mas diz que na comparação com o fentanil ela é 100 vezes mais potente.
O resultado da perícia leva o caso a outro patamar, pelo poder devastador do que foi apreendido. Em setembro, por exemplo, quando a polícia da Califórnia (EUA) apreendeu 21 quilos da substância, as autoridades disseram que, se misturada a outras drogas, a quantidade do opioide seria suficiente para matar até 50 milhões de pessoas.
Segundo o DEA, o carfentanil é tão perigoso que apenas agentes treinados devem manuseá-lo. Quem tem contato com a substância por poucos minutos pode ter dificuldades de respiração, sentir tontura, desorientação e sonolência, entre outros sintomas.
Em Buenos Aires, parte dos ao menos 24 mortos e dezenas de internados na semana passada após o consumo da cocaína adulterada apresentaram problemas para respirar e ficar de pé e tiveram convulsões, segundo relatos de familiares.
Os envelopes com o conteúdo rosado foram vendidos a 200 pesos (R$ 10) na localidade de casas simples e inacabadas de Puerto 8, segundo a polícia local -que fez uma operação na comunidade. Os investigadores acreditam que a adulteração tenha sido feita de forma intencional, dentro de um contexto de conflitos entre grupos de traficantes.
As mortes e hospitalizações foram registradas em sua maioria nas cidades de Hurlingham, Tres de Febrero, San Martín e Ituzaingó, na região metropolitana da capital. A maioria dos casos envolve homens entre 31 e 45 anos.
A promotoria de Buenos Aires chegou a pedir a consumidores que compraram cocaína no local descartassem a droga. O governo municipal de Tres de Febrero fez recomendação parecida, alertando para “possíveis sintomas como confusão, convulsões e perda de consciência”.