Preso grupo suspeito de usar uniforme do Metrô para pichar trens
A Polícia Civil diz que as investigações neste caso ainda continuam
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Seis pessoas foram presas na manhã desta quinta-feira (23) pela Polícia Civil de São Paulo sob a suspeita de participar de um grupo especializado na pichação de trens do Metrô e da CPTM em linhas da capital e Grande São Paulo. Três suspeitos não foram localizados e são considerados foragidos.
A prisão é temporária e vale por cinco dias -vence na próxima segunda (27).
De acordo com o delegado Rodrigo Corrêa Baptista, o grupo promoveu ao menos 15 ações de vandalismo nos últimos três anos e seus integrantes tinham até uniforme do Metrô para facilitar acesso a áreas restritas, onde estavam as composições.
Na operação, batizada de “163” (em referência ao crime de dano previsto no Código Penal), os policiais também cumpriram mandados de busca em 20 endereços ligados aos suspeitos na capital e em sete cidades da Grande São Paulo.
Nesses locais, segundo a polícia, foram encontrados 953 sprays de tinta e outros objetos usados nas ações, entre os quais um uniforme do Metrô. A polícia vai apurar como o uniforme oficial foi desviado.
Ainda segundo Baptista, a investigação teve início há seis meses quando um dos integrantes da quadrilha foi preso e, também, teve sua casa vasculhada por policiais civis em cumprimento a mandado de busca e apreensão.
Na residência dele, os policiais localizaram um HD externo com 1 terabyte de imagens das 15 ações realizadas desde 2018. Ao todo, a polícia conseguiu identificar 26 pessoas, sendo 9 delas o núcleo duro do grupo.
A principal responsável pela gravação é uma cinegrafista profissional conhecida como Carla Arakaki, que mantém canal no YouTube para divulgar os ataques.
“A participação majoritária dela, realmente, é nas filmagens, mas em algumas ações ela também picha”, disse o delegado. “Ela está sempre com eles, ela filma, ela promove nas redes sociais. A lei pune a figura do partícipe também. Toda pessoa que instiga, induz ou auxilia alguém a praticar um crime responde pelo crime também”, disse o policial.
O policial explica ainda que, mesmo se não tivesse pichado, ela também seria indiciada. “Embora em alguns casos ela não tenha pichado, ela é partícipe. Além disso, mesmo que tenha participado de alguns casos do crime do dano, que é a pichação, ela participou do crime de desastre porque ela entrou na via energizada. Ela pode escapar de um ou outro crime, mas sempre estará em algum deles”, afirma o policial.
Os suspeitos foram indiciados por dano ao patrimônio público, associação criminosa, perigo de desastre ferroviário (em razão do perigo de acidente com o acesso de pessoas incapacitadas a área restrita e parte energizada) e crime de atentado contra um serviço de utilidade pública.
“Os trens não circulam quando estão pichados. Às vezes, demora um dia inteiro para fazer a limpeza, e isso prejudica parcialmente o serviço público”, afirmou o delegado.
Os mandados foram cumpridos em São Bernardo, Santo André, Itapecerica da Serra, Jandira, Osasco, Jundiaí, Sorocaba e na capital. Ao todo, 140 policiais participaram da operação, com apoio de 47 viaturas.
O advogado Augusto de Arruda Botelho, que representa Carla Arakaki, disse considerar a prisão dela ilegal porque não há necessidade de manter alguém em cárcere para que as investigações possam prosseguir normalmente.
“Carla não integra qualquer grupo de pichadores, muito menos faz parte de uma suposta organização criminosa. Jamais danificou qualquer patrimônio público ou privado. Sua participação nos episódios investigados sempre ocorreu na qualidade de fotógrafa e cinegrafista. Os registros feitos por ela têm caráter jornalístico e histórico”, diz nota enviada à Folha.
Botelho diz que apresentará no plantão judiciário um pedido de revogação imediata de sua prisão.
A Polícia Civil diz que as investigações neste caso ainda continuam e serão aprofundadas agora com o material aprendido na casa dos suspeitos, incluindo outros HDs com imagens.
Após o prazo de cinco dias da prisão temporária, a polícia vai analisar se pedirá prorrogação de prazo, prisão preventiva (sem prazo) ou se concordará com os suspeitos respondendo ao processo em liberdade.
A Folha não conseguiu contato com as outras defesas, porque os nomes dos suspeitos não foram divulgados.