‘Preço médio mais baixo da passagem aérea veio para ficar’, diz presidente da Latam Brasil
Outra tendência do consumo pós-pandemia é a adoção de mais ferramentas digitais para agilizar a operação
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, afirmou nesta quinta-feira (14) que a tendência é que cada vez menos consumidores comprem passagens em cima da hora, geralmente mais caras que as adquiridas antecipadamente.
“As viagens serão mais planejadas e, com isso, o preço médio mais baixo das passagens veio para ficar”, disse o executivo, durante o evento virtual Latam Experience, que aconteceu nesta quinta e continua nesta sexta-feira (15), a fim de discutir o futuro da indústria de turismo e da aviação civil.
Outra tendência do consumo pós-pandemia é a adoção de mais ferramentas digitais para agilizar a operação. Na companhia aérea, por exemplo, parte das viagens atualmente têm check-in automático (o passageiro nem precisa entrar no site), e o despacho das bagagens é feito por totens de autoatendimento nos aeroportos.
“A adoção de ferramentas tecnológicas vai mudar o perfil das viagens aéreas para sempre”, disse o executivo, que acredita no aumento da fatia das viagens de turismo doméstico, em detrimento às viagens de negócios.
Segundo Cadier, os últimos seis meses exigiram maior capacidade de planejamento das companhias aéreas, tendo em vista o controle das variantes do novo coronavírus e as barreiras sanitárias impostas pelos países.
“O mercado internacional está se recuperando mais lentamente”, afirmou. “Nós já atingimos 90% da demanda do mercado doméstico em relação ao patamar de 2019, antes da pandemia. Já no mercado internacional, estamos entre 20% e 25% da demanda”, disse.
Por conta das incertezas, as pessoas estão postergando as viagens internacionais, um segmento que só vai se recuperar ao final de 2023, segundo o executivo.
Cadier aposta no aumento do turismo doméstico no Brasil. “Antes da pandemia, a Latam Brasil operava 44 bases domésticas. Ao final do segundo trimestre de 2022, serão 56”, disse.
A flexibilidade obtida com a redução de custos fixos permitiu à companhia testar novas rotas. “Consigo me adaptar mais rápido às mudanças de demanda”, disse Cadier, lembrando que a Latam Brasil voltou a liderar o mercado de voos domésticos nos últimos meses. “Mas isso para nós não é o mais importante, e sim manter uma operação sustentável”.
PLANO DE RECUPERAÇÃO
Nesta quinta-feira, o grupo Latam informou que solicitou ao Tribunal de Nova York a prorrogação do prazo para apresentar com exclusividade seu plano de recuperação judicial, no âmbito do Chapter 11 (lei de falência norte-americana). O prazo, que venceria nesta sexta (15), foi prorrogado para 26 de novembro.
Este é o prazo final para a companhia apresentar seu plano com exclusividade ( sem que terceiros apresentem aos credores propostas de compra da empresa, por exemplo).
“Por meio do Capítulo 11, as subsidiárias serão capazes de redimensionar suas operações e adaptá-las ao novo ambiente de demanda e reorganizar seus balanços financeiros, permitindo que ressurjam como negócios mais ágeis, eficientes e sustentáveis para um novo estágio pós-pandêmico”, disse a empresa, em nota.
No evento desta quinta, Cadier fez questão de destacar o caráter educativo do pedido de recuperação judicial feito pela companhia, que aderiu ao Chapter 11 em maio do ano passado, seguindo a controladora, a chilena Latam, que havia tomado a iniciativa em março de 2020.
“De agradável, o Chapter 11 não tem nada”, afirmou Cadier. “Mas esta decisão se mostrou fundamental para garantir a sustentabilidade financeira da companhia”.
Segundo ele, a Latam aderiu ao Chapter 11 para se tornar mais competitiva e, com isso, conseguiu renegociar tudo, atingindo um custo de operação mais baixo. Como exemplo, Cadier citou a otimização da frota.
“Quando se tem aviões diferentes, as peças, o treinamento e a manutenção também são diferentes, o que aumenta os custos”, afirmou. “Nos últimos meses, otimizamos a frota para aeronaves Boeing 777 e 787”.
Outro exemplo de melhoria de desempenho, atrelada a metas ESG (de governança ambiental, social e corporativa) está relacionado a adoção de um software que vai auxiliar cerca de 200 aeronaves A320 a repensar sua rota de descida -medida que deve ser aplicada até março do ano que vem. Com isso, segundo o presidente da Latam Brasil, haverá a diminuição de 300 toneladas na emissão de gás carbônico (CO2).
“Não foi e não está sendo fácil passar pela crise. Ninguém gosta de sofrer, mas isso leva a mudanças que podem ser positivas. Já fui chamado de cavaleiro do apocalipse antes da pandemia, mas hoje estou otimista”, afirmou Cadier. “A gente se reinventou”.
Esta semana, a empresa informou ter recebido uma proposta de financiamento da sua dívida, dentro do processo de recuperação judicial em que está inserida. A proposta é da ordem de US$ 5 bilhões (R$ 27,7 bilhões), de acordo com pessoas ouvidas pelo jornal Folha de S.Paulo, e está relacionada a uma redução significativa da participação dos acionistas chilenos no capital da companhia.
A aérea, porém, continua em contato com outros interessados em financiar sua dívida, que soma quase US$ 18 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões).
Atualmente, o grupo Latam opera no Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru. São 970 voos diários para 117 destinos em 16 países.