Confusão na CPI começou após Wagner Rosário vociferar contra a senadora Simone Tebet/Reprodução/TV Senado
Confrontado por documentos que apontam indícios de irregularidades na compra da vacina Covaxin, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, fez um ataque machista à senadora Simone Tebet (MDB-MS), que coordena um grupo de trabalho da CPI da Covid-19 que apura a aquisição do imunizante indiano. “A senhora está totalmente descontrolada”, disse Rosário. A fala causou imediata reação dos parlamentares. Antes da sessão ser encerrada, o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), incluiu o depoente na lista dos investigados.
“Machista, machista”, reagiu, aos gritos, o senador Rogério Carvalho (PT-SE). “Isso é machismo explícito”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI. O senador Otto Alencar (PSD-BA) chamou Rosário de “pau mandado descarado”. “Respeite a senadora Simone Tebet, seu moleque. Moleque de recado. Você é moleque de recado”, disse Alencar. “Não vou responder o senhor em respeito à sua idade”, rebateu o ministro da CGU. O senador Marcos Rogério, aliado do governo Bolsonaro, reclamou da postura dos colegas de comissão e foi repreendido pela senadora Leila Barros (Cidadania-DF). “Só as mulheres são descontroladas. Vocês dão show todo dia aqui. Menos, Marcos Rogério”, disse a parlamentar do Cidadania.
Ponto a ponto, a senadora Simone Tebet fazia uma exposição das falhas do ministro Wagner Rosário enquanto chefe da CGU no caso Covaxin. Ela apresentou datas, documentos da própria Controladoria-Geral, apontou contradições nas informações apresentadas à CPI e disse que ele poderia, sim, ter agido para impedir que o contrato, assinado em 25 de feveiro deste ano, fosse adiante. Ao longo da sessão desta terça, Rosário admitiu que o órgão comandado por ele só foi acionado para apurar se havia irregularidades no acordo firmado pelo governo federal a posteriori, contrariando a sua própria função. “Isso contrariou não só os seus auditores, como contrariou, também, um acordo firmado entre o Ministério da Saúde e a CGU, nos anos de 2020 e 2021, que dizia que tudo o que se referisse à pandemia e à aquisição de vacinas seria preliminarmente assistido pela CGU como órgão interno prévio, preventivo no combate à corrupção. Isso aconteceu com a Pfizer. Por que a CGU foi acionada com a Pfizer e não com a Covaxin?”, questionou a emedebista.
“Eu defendo os auditores da CGU, porque, quando eles foram chamados, já era tarde demais. Já tinha contrato assinando com quem não podia ser parte, com pagamento em paraíso fiscal, com suspeita de superfaturamento, com procuração falsificada, com garantia de um banco que não existe e para dar calote, porque essa mesma estrutura foi montada no Paraguai, onde o governo paraguaio pagou e não recebeu as vacinas. Eu defendo a CGU, mas não faço a defesa intransigente de Vossa Excelência. O senhor fez a defesa do governo, não é advogado do presidente, do Ministério da Saúde. O senhor é da CGU, criada para fiscalizar e controlar, para evitar que um presidente cometa crime de corrupção, que o Ministério da Saúde cometa crime. Quando CGU é acionada, ela destrincha por ‘a+b’ as irregularidades”, acrescentou Tebet.
Após o encerramento da sessão, a senadora conversou com jornalistas e afirmou que, para ela, o ataque machista é uma “página virada”. Para Tebet, ela conseguiu extrair informações importantes de Wagner Rosário. “Ele resolveu passar pano, resolveu deixar a sua função para fazer a defesa intransigente e equivocada do Ministério da Saúde e do governo federal. No momento em que nós mostramos as incongruências do que estava sendo dito, ele não aguentou e partiu para pronunciamentos e falas infelizes. Nesse momento, não tenho gênero. Represento o Estado do Mato Grosso do Sul e o Brasil”, disse. “Essa é uma Casa que não aceita desrespeito, arrogância, petulância e mentiras. É momento de serenar. O mais importante eu consegui extrair: a CGU não foi ouvida preliminarmente, é mais um elemento de prova de que o contrato da Covaxin foi fraudulento e conseguiu chegar tão longe porque esconderam irregularidades do corpo jurídico do Ministério da Saúde, da assessoria jurídica, da AGU e da CGU”, acrescentou a emedebista.