Embora sujeito à perda de folhas na estação da estiagem, este tipo de floresta apresenta porte majestoso. Foi ela que maravilhou o príncipe naturalista alemão Maximiliano de Wied-Neuwied em São Fidélis (onde as chamou românticas florestas) e em São Francisco de Itabapoana, em 1815, a caminho para o Espírito Santo, em sua excursão científica entre Rio de Janeiro e Salvador. Pouco depois, em 1818, o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire mergulhou nela na altura da praia de Manguinhos e só a deixou na fazenda Muribeca, às margens do rio Itabapoana. Continuando sua excursão pelo Espírito Santo junto à costa, registrou sua presença ameaçadora acompanhando o litoral, pois nela habitavam os temíveis índios puris. Johann Jacob Tschudi, naturalista e diplomata suíço, informou sobre sua destruição por fogo provavelmente no atual território de São Francisco de Itabapoana, e o estudioso alemão Hermann Burmeister, extasiado, comparou-a às catedrais góticas, subindo o rio Pomba em direção a Minas Gerais. Ambos em meados do século XIX.
Este o tipo de vegetação nativa que reinava soberano no antigo sertão de São João da Barra, chamado, já no século XVIII, de Sertão das Cacimbas, era célebre por suas imponentes árvores. Delas, deu notícia, em 1785, o capitão de infantaria cartógrafo Manoel Martins do Couto Reis, exaltando a qualidade das madeiras nobres de São Francisco. Para facilitar seu transporte, foi aberto o canal de Cacimbas, que começava no rio Paraíba do Sul e se estendia até a e extinta lagoa de Macabu. No próximo artigo, abordaremos a vegetação de restinga e os manguezais.
É de se perguntar por que este tipo de mata dominava toda a extensão do noroeste fluminense, da zona serrana até os tabuleiros, beirando o mar. A explicação mais plausível fornecida pelos cientistas mostra que, da costa para o interior, até os contrafortes da Serra da Mantiqueira, não existem, no noroeste fluminense, grandes elevações. Assim, as nuvens que se formam pela evaporação da água do mar são empurradas pelo vento nordeste, dominante na região, para o continente. Não encontrando barreiras que provoquem seu resfriamento e precipitação na forma de chuva antes da Mantiqueira, elas passam pelo noroeste, onde a queda de chuvas é reduzida quando comparada com a pluviosidade da Serra do Mar, no norte fluminense. Assim, a menor umidade do noroeste fluminense exigiu da mata atlântica uma adaptação que favoreceu o desenvolvimento de árvores como o pau-brasil, o jequitibá, o gonçalo-alves, a peroba-de-Campos, o jatobá, a cana-fístula e o óleo-vermelho, principalmente.