Jornalista da BBC recebe chamada do porta-voz do Talibã ao vivo
Nascida no Afeganistão, a jornalista Yalda Hakim foi a primeira jornalista a falar, no domingo, com o porta-voz do Talibã. Entrevista foi replicada internacionalmente e amplamente elogiada
Uma jornalista australiana, nascida no Afeganistão, recebeu uma chamada do porta-voz do talibã no telefone pessoal, ao vivo, enquanto transmitia notícias sobre a tomada de controle do grupo extremista em Cabul, no domingo, conseguindo fazer uma entrevista de cerca de meia hora.
Yalda Hakim, pivô da BBC, estava fazendo uma outra entrevista quando Suhail Shaheen ligou para o seu telefone.
A jornalista colocou o representante em alta voz e fez várias perguntas ao longo de cerca de meia hora, no dia em que o movimento radical islâmico tomou a capital afegã, após duas décadas de controle internacional. “Temos o porta-voz do talibã, Shail Shaheen, ao telefone. Senhor Shaheen, consegue me ouvir ?”, questiona a jornalista, conforme pode ver abaixo, num pequeno trecho da entrevista.
A jornalista foi amplamente elogiada pela calma, pelo pensamento rápido e pela frieza. “Bem, isto é jornalismo impressionante”, disse o jornalista e editor Charlie Proctor, acrescentando que se tratou de “uma entrevista excelente e minuciosa, feita ao vivo”.
A entrevista acabou sendo replicada nos meios de comunicação de vários países, pois foi dos primeiros contatos diretos com os talibãs, no domingo. Uma jornalista do The Times apelidou-a de “incrível”. “Todos os 32 minutos. A Yalda Hakim é a maior”, disse, assumindo, porém, que pouco do que se ouviu será verdade.
Um realizador da estação, que estava na redação da BBC, expressou a sua contentação nas redes sociais. “Nunca testemunhei nada como o que aconteceu no estúdio esta manhã, apontar o microfone do convidado ao próprio telefone da Yalda Hakim enquanto o porta-voz do Talibã falava com ela no meio de outra entrevista ao vivo”, disse.
Durante a entrevista, o porta-voz disse que os talibãs querem assumir o poder no Afeganistão “nos próximos dias” através de uma transição “pacífica”. “Queremos um governo islâmico inclusivo, o que significa que todos os afegãos estarão representados neste governo”, assegurou Suhail Shaheen.
Descartando receios de que o país regressasse aos tempos do início do domínio talibã, com a aplicação rigorosa das regras islâmicas, Shaheen disse que os talibãs querem agora abrir “um novo capítulo” de tolerância.
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