Montadoras devem seguir com paradas por falta de chips até segundo trimestre de 2022
O problema é global e estrutural, resultante de uma maior competição pela compra de chips em momento de aceleração da busca por eletrônicos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O setor automotivo espera que as paradas na produção causadas por escassez de insumos, em especial semicondutores, prossiga até o ano que vem.
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea (associação das montadoras), disse a jornalistas não ver solução definitiva para o problema da dificuldade para obtenção de semicondutores neste ano e que a expectativa é de normalização apenas no segundo trimestre de 2022.
O problema é global e estrutural, resultante de uma maior competição pela compra de chips em momento de aceleração da busca por eletrônicos.
Nesta segunda-feira (19), a Volkswagen iniciou uma paralisação de 20 dias no turno matutino da produção em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
A montadora também mantém parte dos trabalhadores em férias coletivas na cidade de Taubaté (SP), onde produz os modelos Gol e Voyage. A medida, que terminaria na última sexta (16), foi prorrogada por mais dez dias para parte dos funcionários.
Outras empresas enfrentam o problema. Em Gravataí (RS), a fábrica da GM está sem produzir em seu terceiro turno desde março do ano passado, segundo Valcir Ascari, presidente do sindicato dos metalúrgicos da cidade.
Os trabalhadores dos outros dois turnos estão afastados desde abril, segundo o dirigente. O trabalho deveria ser retomado em julho, mas a volta foi adiada para a segunda quinzena de agosto.
A montadora não comenta.
A unidade da empresa fabrica os modelos Onix e Prisma.
A escassez de suprimentos também vem impactando nos últimos meses a fabricação pela Hyundai dos veículos da família HB20 e Creta na cidade de Piracicaba (SP). Como a GM, a montadora também não comenta.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba, os três turnos de trabalho na fábrica da montadora foram interrompidos por dez dias em julho. A atividade foi retomada para todos os períodos de trabalho na última segunda (19).
A Mercedes-Benz disse à reportagem que o fornecimento de matérias-primas segue sendo um grande desafio para todas as fabricantes desde 2020. Os maiores desafios são em relação à entrega de componentes eletrônicos, como semicondutores e chips, e também de alguns produtos de origem química, metálica e polimérica.
A companhia afirma que as férias coletivas para grupos alternados, que consideraram questões sanitárias, foram encerradas em maio e não há previsão de repetição da medida. A empresa trabalha em três turnos em São Bernardo do Campo (SP) e dois turnos em Juiz de Fora (MG).
A Nissan realizou paralisações em cinco dias durante o mês de junho, em datas não consecutivas. Não há previsão de novas paradas neste mês na fábrica da empresa, em Resende (RJ).
No primeiro semestre, as montadoras brasileiras produziram 1,15 milhão de veículos. A Anfavea estima, a partir de estudo da consultoria BCG, que o mercado brasileiro tenha produzido até 120 mil unidades a menos do que poderia no primeiro semestre, caso não houvesse a escassez de chips.
Segundo Moraes, a dificuldade no abastecimento pode levar a uma espera de até três meses para que o cliente obtenha alguns modelos de automóveis.
Para o ano, a projeção de alta na produção ante 2020 foi reduzida de 25% para 22%, atingindo 2,46 milhões de veículos.
O setor adaptou sua oferta no ano, diz o dirigente da Anfavea, superando as projeções para produção de caminhões e comerciais leves e ficando abaixo do esperado no caso de carros.
A mudança reflete, entre outros fatores, a maior demanda provocada pelo aumento do comércio eletrônico na pandemia e o avanço do agronegócio.