Manifestantes derrubam estátua de Cristóvão Colombo em meio a protestos na Colômbia

Em outubro, ativistas bolivianos banharam em tinta vermelha uma estátua de Colombo na capital do país, La Paz, como metáfora do banho de sangue que significou a conquista espanhola nas Américas

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – No marco de dois meses de mobilizações nas ruas da Colômbia, manifestantes repetiram a forma de protesto que virou onda mundial no último ano: derrubaram, nesta segunda-feira (28), uma estátua de Cristóvão Colombo localizada na cidade de Barranquilla, ao norte do país.

Segundo o jornal El Espectador, o monumento, disposto em frente à Igreja Nossa Senhora de Carmem, foi doada em 1892 por uma colônia italiana. Desde o início dos atos, indígenas do país já derrubaram homenagens aos colonizadores espanhóis Gonzalo Jiménez de Quesada e Sebastián de Belalcázar.

Essa não é a primeira vez que uma estátua de Colombo, apontado como o primeiro europeu a chegar à América, é derrubada. Há um ano, em junho de 2020, dois monumentos do genovês foram destruídos nos EUA, um em Richmond e outro em Boston, e outros dois foram retirados pela prefeitura de Chicago, em meio aos protestos antirracistas que se seguiram ao assassinato do ex-segurança negro George Floyd.

Foi essa onda de manifestações, aliás, que impulsionou a derrubada de estátuas que homenageiam figuras ligadas a um passado colonial e à escravidão. O movimento também atingiu a Europa, onde imagens de figuras racistas foram retiradas por iniciativa de autoridades locais de Londres e da Antuérpia.

Em outubro, ativistas bolivianos banharam em tinta vermelha uma estátua de Colombo na capital do país, La Paz, como metáfora do banho de sangue que significou a conquista espanhola nas Américas.

A queda de Colombo em Barranquilla nesta segunda veio acompanhada de manifestações em outras cidades colombianas, como a capital Bogotá,além de Medellín, Pereira e Cartagena. A polícia informou que ônibus foram atacados pelos manifestantes, que, por sua vez, acusam os policiais de abusarem da força.

Há cerca de duas semanas, o Comitê Nacional de Greve anunciou a suspensão temporária dos protestos até o dia 20 de julho, quando se celebra o Dia da Independência da Colômbia, mas já era esperado que os atos seguissem sendo realizados.

Os colombianos seguem com protestos diários desde 28 de abril. O levante começou motivado pela insatisfação com uma proposta de reforma tributária do presidente Iván Duque que, entre outros pontos, aumentava o imposto sobre bens e serviços e ampliava a base de contribuintes do imposto de renda.

Duque recuou, retirou a pauta e reformulou a proposta, que se agora focará a taxação temporária de empresas e das classes mais ricas. A violenta repressão aos atos, porém, alimentou o descontentamento com questões estruturais do país, como a desigualdade social, e as manifestações continuaram.

Mais de 60 pessoas já foram mortas durante os protestos, segundo as autoridades locais. Somente na última semana, dois homens foram mortos em menos de 48 horas em manifestações que tiveram enfrentamentos com a polícia. A Human Rights Watch acusa a polícia de estar envolvida em ao menos 20 homicídios, sendo que 16 das vítimas teriam recebido tiros disparados com a intenção de matar. Relatório da ONG também descreve casos em que agentes teriam abusado sexualmente de manifestantes.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos esteve no país no início de junho para apurar denúncias, o que levou o governo a se comprometer a investigar 21 homicídios ocorridos durante os protestos. A ONU, os EUA e a União Europeia também denunciaram os excessos cometidos pelas forças públicas.

Duque alega que grupos relacionados ao narcotráfico e ao Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha reconhecida no país, têm se camuflado entre os manifestantes para causar conflitos.

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