O problema do transporte público em Campos é antigo e, a cada quatro anos, é empurrada ao próximo prefeito sem resolução à vista. Desde o início de janeiro, as vans voltaram a rodar nas áreas centrais da cidade e os debates recomeçaram entre permissionários e representantes das empresas de ônibus. Motoristas de vans e passageiros veem melhora no serviço, enquanto empresários dos coletivos afirmam que “o que era ruim ficou pior ainda” e chamam a atenção para um possível colapso do setor. Em 10 de fevereiro, o Sindicato das Empresas de Transportes de Campos (Setranspas) protocolou um pedido de audiência junto ao prefeito Wladimir Garotinho (PSD) para tratar das demandas do setor. Enquanto isso, um dia antes, o Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT) efetuou o pagamento de R$ 217.480,70, referente ao mês de janeiro de 2021, a 300 permissionários.
Enquanto isso, debaixo de sol e chuva, os passageiros não reclamam das mudanças e da introdução das vans na área central, com o fim dos terminais alimentadores.
— Estou vendo que está ficando muito bom, mas para determinados locais, como Rio Preto, tinham que colocar algum outro horário. Tinham que haver mais vans para poder funcionar melhor por lá, mas em comparação com o sistema tronco-alimentador está muito melhor — contou o motoboy Leandro Cardoso, de 29 anos, enquanto embarcava no terminal da praça da República, atrás da Rodoviária Roberto Silveira.
Ao seu lado estava a auxiliar de serviços gerais Cláudia Márcia Mariano, de 31 anos, que também falou sobre a atuação que as empresas de ônibus fazem na mesma rota: “As companhias não têm do que reclamar. Para vários locais os elas continuam indo e vindo cheios para Rio Preto, onde apenas essa van atua. Eu acho que faltam vans na cidade, principalmente para as áreas periféricas, porque não estão dando conta da demanda, ônibus e vans estão muito cheios”.
Os motoristas de vans comemoram. “Estamos felizes por estarmos tendo mais liberdade para trabalhar e fazemos tudo seguindo os protocolos de segurança da Prefeitura”, diz Igor Riscado, de 26 anos, motorista e cobrador de van, que concluiu: “o sistema tronco-alimentador não deu certo, foi um erro e um descaso com a população e quem pagou o pato foi o passageiro, principalmente os mais velhos”.
Por outro lado, o motorista de van Miguel Rocha, de 61 anos, avaliou como positivo o sistema que começou a ser implantado durante a última gestão do ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania). “Todos ganharam e ninguém perdeu. Era metade para os ônibus e metade para as vans. Faltou só investir mais nos terminais para acabar com essa confusão entre vans e ônibus”, opinou.
— Estou vendo que os passageiros estão satisfeitos e, no meu ponto de vista, o sol está nascendo para todos. Quem quer ir de van está indo de van e quem quer ir de ônibus está indo. Está tendo lugar para todo mundo. Os passageiros estão tendo seu direito de ir e vir — relatou Miguel, cobrando lixeiras nos terminais pela cidade e um melhor serviço de limpeza por parte da Prefeitura.
O motorista disse haver muita “falácia e preconceito” sobre o retorno da circulação de vans no Centro da cidade. Para ele, assim como em todas as profissões, “existe o bom e o mau profissional”. “Vamos procurar identificar e punir para melhorar o transporte público em nome de quem merece, o cidadão campista”.
Rogil recupera ônibus, mas recebe notificação
A Rogil possui concessão para explorar o transporte público na região sul do município, incluindo localidades como Ururaí, Tapera, Lagoa de Cima, Rio Preto, Imbé e Ibitioca. Recentemente, a empresa conseguiu decisão favorável na Justiça para recuperar sete ônibus que foram apreendidos pelo Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) em 2019. No entanto, também recebeu uma notificação da Prefeitura para a regularização de algumas linhas no interior do município.
Os veículos da empresa foram apreendidos em dezembro de 2019 e faziam a linha Ururaí-Centro e foram tirados de circulação por não cumprirem as normas do antigo sistema troco-alimentador. O Tribunal de Justiça (TJ) manteve a decisão de primeira instância para que os coletivos fossem devolvidos.
O parecer da promotora Monica da Silveira Fernandes sinalizou o modelo tronco-alimentador não tinha respaldo, uma vez que a Rogil venceu uma licitação anterior para atender a linha em que estava operando.
Por outro lado, nesta semana, o IMTT notificou a Rogil pelo não cumprimento de forma regular das linhas Imbé, Caxeta, Ibitioca, Pernambuca e Ponta da Lama, promovendo transtornos à população. No domingo, equipe de fiscalização verificou o atendimento dos ônibus do serviço emergencial da empresa Rápido Progresso nas localidades de Serrinha, Ibitioca e Ururaí, que até então, era de responsabilidade da Rogil.
“A Prefeitura trabalha para garantir que o serviço seja prestado da melhor maneira para o cidadão de Campos. O IMTT vem agindo em diferentes frentes para que o transporte coletivo possa voltar a ser a melhor opção de deslocamento na cidade e ao mesmo tempo tenha viabilidade econômico/financeira para os operadores”, afirma o vice-presidente do IMTT, Davi Alcântara.
“O que era ruim ficou pior”, diz Gilson Siqueira
No entanto, a mudança de sistema de transporte público não agradou o Sindicato das Empresas de Transportes de Campos. O presidente da entidade, Gilson Menezes, criticou a liberação das vans na área central: “O que era ruim ficou pior”. Ele também atacou o antigo sistema tronco-alimentador. “Havia uma alimentação que não foi boa para ninguém. Ela foi ruim para a população, em primeiro lugar, foi ruim para as empresas e funcionários das empresas, e foi ruim para o pessoal das vans. O projeto do governo passado não atendeu ninguém”, ressaltou.
Gilson destacou a liberação verbal da circulação e vans no Centro e em linhas das empresas, que, segundo ele, “estranhamente não tiveram nenhum documento e nenhum decreto”:
— Hoje, as empresas de ônibus vivem um momento crucial. O sistema (de transporte) a qualquer momento entra em colapso e o sindicato, junto com as empresas, protocolou um pedido de audiência junto ao prefeito Wladimir para tratar desta questão — alertou o presidente do Setranspas. Ele citou, ainda, como motivos para esse “colapso” a tarifa congelada desde 2013, a pandemia de Covid-19 e a atuação das vans nas linhas das empresas. “