Os impactos para a nossa região do transporte da soja por rodovia e não ferrovia.

 
 
Wagner Victer/ Divulgação
 
No ano passado, as páginas de grandes jornais de circulação nacional noticiavam os planos para a exportação de soja pelo Porto do Açu a partir deste ano. A proposta foi recebida com objeção e críticas contundentes por um dos idealizadores do complexo portuário, o ex-secretário estadual de Petróleo, Energia e Indústria Naval do Rio, Wagner Victer, que elaborou o projeto de construção do empreendimento no quinto distrito de São João da Barra.
— Ainda na fase de estudos, definimos um projeto conceitual de que o Porto do Açu seria uma alavanca para o desenvolvimento regional além do petróleo com um conjunto de atividades industriais e de logística, além de prestação de serviços offshore. Era esse o perfil do porto, que tenho como se fosse um filho meu. E que não pode ser transformado num simples canal de exportação de commodities do Centro Oeste e de Minas, que não vai gerar empregos ou impostos para a região, mas vai destruir nossas estradas de Campos e a região com a circulação diária de centenas de caminhões de carga e gerando gargalos num tráfego rodoviário já saturado — disse Victer.
— Quando foi o porto foi construído, a proposta inicial era de que o embarque de minério de ferro viesse alavancar o projeto, mas com o transporte sendo feito através do mineroduto, como de fato aconteceu. O embarque de soja ou outras commodities tem que ser feito através do transporte ferroviário como indicavam nossas projeções nos estudos iniciais. Sem a ferrovia, nenhuma chance de fazer este embarque sem sérios impactos sociais e ambientais, com a desfiguração do projeto do porto. Os prefeitos e os deputados precisam se mobilizar para que não aconteça esta burrice monumental, que será depois até mais um obstáculo para atrair indústrias para a própria região. O investidor vai pensar muitas vezes em cogitar uma planta industrial no Açu, ao ver uma infraestrutura deficiente de transporte e logística, completamente sobrecarregada de caminhões? — indagou.
Victer pondera que esta é a grande chance para que as forças políticas da região interfiram para agilizar a implantação da Ferrovia Rio-Vitória-Minas . “É uma oportunidade única para acelerar a implantação da ferrovia. O transporte por rodovia com as estradas saturadas de caminhões de cargas só irá afastar empresas que pensarem se instalar no Açu ou na região. A maior parte do modal rodoviário de estradas fluminenses não comporta caminhões de carga”, acrescentou.
O ex-secretário, atualmente consultor da Assembléia Legislativa (Alerj), declarou ainda que os objetivos do lucro não podem estar acima dos objetivos maiores que orientaram a instalação do porto, que tem por trás um projeto de desenvolvimento.
— A ganância pelo lucro não pode superar os objetivos maiores do empreendimento do porto que abrange mais do que tudo um projeto de desenvolvimento regional. Nem falo como quem mostrou a viabilidade do porto e mostrou o projeto ao Eike Batista, mas como engenheiro. Os prefeitos não podem comprar gato por lebre. O transporte de soja por rodovia só vai gerar empregos no Centro Oeste e em Minas, mas aqui só vai gerar buracos e poeira, mais e impactos ambientais e sociais na região — observou. 
Fonte: Folha 1
Mírian Vieira.

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