Em prisão domiciliar por conta de Covid-19 alegada, Secretário de Educação de Witzel, era chefe da organização
Pedro Fernandes é chamado de ‘Chefe’ por presos e ‘Mafioso’ pelo MP; veja fotos da denúncia
Fotos mostram que denunciados tinham relação próxima.
Pedro Fernandes – Cléber Mendes / Agência O Dia
Rio – A denúncia do Ministério Público, à qual O DIA teve acesso, mostra que o secretário Estadual de Educação, Pedro Fernandes, era chamado de ‘chefe’ pelos outros integrantes da organização apontada por usar a Fundação Leão XIII para fraudar licitações em projetos sociais assistenciais e desviar dinheiro público. O grupo chamava a ação de convencer as pessoas da ação ilícita de ‘networking’, tinham relação próxima, como confraternizações entre casais, e são classificados pelos promotores como ‘grupo mafioso’.
O grupo é visto pelo órgão de investigação como ‘uma verdadeira máfia’ que usava a fundação para receber vantagens financeiras indevidas através de pagamento de propinas e ganhos políticos, em prejuízo de pessoas de baixa renda. Com as irregularidades, a organização criminosa firmou contratos de pregão superfaturados que ultrapassaram R$ 117 milhões, no período entre 2013 e 2018.
Numa conversa no WhatsApp, em outubro do ano passado, Flávio Chadud, um dos presos nesta sexta-feira, durante a segunda fase da Operação Catarata, e Marcus Vinicius Azevedo da Silva, o MV, preso na primeira etapa das investigações, em julho do ano passado, comemoraram o fato de Pedro Fernandes assumir a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio, por acreditarem que desta forma, poderiam obter ainda mais vantagens para o esquema.
– Flavio Chadud: Estava em reunião com nosso chefe Pedro
– MV: Tranquilo irmão (…) E confirmando Pedro lá na SMASDH mesmo, mais fácil ainda de quebrar.
Trechos da denúncia do MP, onde Chadud diz que, com Pedro Fernandes em secretaria, fica ‘mais fácil de quebrar’ – Reprodução
Trechos da denúncia do MP, onde Chadud chama Pedro Fernandes de ‘chefe’ – Reprodução
De acordo com o MP, “mais fácil de quebrar” se referia à uma facilidade que a máfia teria para fraudar licitações e obter mais vantagens financeiras.
Ainda segundo o MP, o grupo criminoso utilizava-se de empresas compostas por familiares e pessoas próximas, assim como de OSs (Organizações Sociais), para conferir aparência de competitividade e fraudar licitações. A Servlog Rio —empresa ligada aos denunciados Flávio Chadud e de sua mulher, Marcelle Chadud (somente denunciada)— sempre estava com a vitória garantida nas licitações, por conta das tratativas.
Nos celulares apreendidos na primeira fase da operação, a polícia conseguiu também localizar fotos dos casais Pedro Fernandes e sua esposa em confraternizações com Chadud e Marcelle. Cristiane Brasil também aparece em fotos com o casal.
Marcelle Chadud, Flávio Chadud e Cristiane Brasil – Reprodução
Flávio Chadud e Marcelle Chadud à esquerda; à direita Pedro Fernandes e sua mulher – Reprodução.
Networking.
As investigações ainda revelaram que o núcleo político da organização criminosa procurava também atuar na esfera federal, além dos contatos já existentes nos poderes municiais e estaduais. Um dos contatos dos mafiosos, segundo a denúncia do MP, era o então deputado federal Leonardo Picciani.
Num diálogo no WhatsApp, os denunciados Flávio Chadud e Marcus Vinicius, conversam sobre Picciani e comemoram o “network” da máfia. A conversa, que aconteceu em novembro de 2015, iniciou com Chadud, que é apontado como líder do núcleo empresarial do grupo, dizendo que foi convidado para o aniversário do Leonardo Picciani.
– Flávio Chadud: Estive com ele em BSB (Brasília) ontem. Gostou de mim! Kkkk
– Marcus Vinicius: Opa! Bom…
– Flávio Chadud: Sim! Disse paa ele o que nosso grupo faz, ficou animado
– Marcus Vinicius: Excelente network
Em nota, a assessoria do secretário Pedro Fernandes, que vai ficar em prisão domiciliar até o dia 20 deste mês por estar com coronavírus, disse:
“Pedro Fernandes ficou indignado com a ordem de prisão. O advogado dele vinha pedindo acesso ao processo desde o final de julho, mas não conseguiu. A defesa colocou Pedro à disposição das autoridades para esclarecimentos na oportunidade. No entanto, Pedro nunca foi ouvido e só soube pela imprensa de que estava sendo investigado por algo que ainda não tem certeza do que é.
Pedro confia que tudo será esclarecido o mais rápido possível e a inocência dele provada”.
Posicionamento Cristiane Brasil:
“Tiveram oito anos para investigar essa denúncia sem fundamento, feita em 2012 contra mim, e não fizeram pois não quiseram. Mas aparecem agora que sou pré-candidata a prefeita numa tentativa clara de me perseguir politicamente, a mim e ao meu pai. Em menos de uma semana, Eduardo Paes, Crivella e eu viramos alvos. Basta um pingo de racionalidade para se ver que a busca contra mim é desproporcional. Isso deve ter dedo da candidata Martha Rocha, do Cowitzel e do André Ceciliano. Vingança e política não são papel do Ministério Público nem da Polícia Civil”.
Os outros citados estão sendo procurados pela reportagem.
Por Bruna Fantti e Thuany Dossares
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