Terreiro de umbanda é incendiado em Nova Iguaçu
Pai Emilson de Iemanjá disse que fogo destruiu quase tudo no terreiro Foto: Reprodução
— Ela mora em frente ao terreiro e viu quando começou a aparecer a fumaça. Correu para ver e o fogo já estava lambendo tudo. Ela disse que viu um buraco e vestígios de pano queimado. Imagino que alguém fez buraco e colocou pano para incendiar. Eu apago as luzes e nem deixo vela acesa.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo durou quase duas horas até ser combatido. Pai Emilson de Iemanjá, como é conhecido dentro da religião, tem o terreiro no bairro há 18 anos, mas é umbandista há 30. Ele vai registrar ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) nesta quarta-feira. O religioso disse que o fogo destruiu quase tudo:
— Só sobraram dois atabaques, duas cadeiras, o quarto de Exu e do orixá. Queimou todo o resto, até o telhado e as roupas. Quando cheguei lá, fiquei em desespero. Não estava acreditando no que estava vendo. Tanto sacrifício, luta, anos para conquistar o que a gente tem e vem uma pessoa e faz isso.
Emilson contou que já tentaram invadir o terreiro há quatro anos, mas é a primeira vez que o imóvel foi incendiado. Ele disse que foi um dos primeiros moradores do local e não entende o motivo do crime.
— Já tentaram invadir no passado. Era uma pessoa bêbada, drogada. Eu tenho mais de 18 anos lá. Quando cheguei, não tinha nem cara. Era só morro e matagal. Depois, vieram mais pessoas para morar. Pode ser que o terreiro esteja incomodando alguém, tem gente que não gosta — opinou o pai de santo, que quer saber a autoria do incêndio:
— Quero que a polícia descubra. Nos fundos do terreiro, tem um descampado abandonado. Fica cheio de mato lá para trás. Ninguém vê. Foi no buraco da parede dos fundos que começou o fogo.
O caso chegou à Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) através da Agen Afro, mídia militante que sempre traz à tona casos de intolerância religiosa.
O babalawô, doutor em História Comparada e interlocutor da CCIR, Ivanir dos Santos, ressaltou a importância de denunciar os casos de intolerância religiosa:
— Em momentos de extremas angústias e incertezas, tal como estamos vivendo e passando diante da pandemia da Covid-19, a fé e a espiritualidade são, mais vez, ultrajadas. Não podemos nos calar. É muita falta de respeito. As autoridades competentes precisam agir, combater e dar respostas rápidas. Até quando isso.
A CCIR está realizando lives, como parte das atividades da 13ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, até 27 de setembro, no https://www.facebook.com/CaminhadaemDefesadaLiberdadeReligiosa.
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