Médicos de Campos alertam: isolamento deve ser mantido pela população, mesmo com informações de flexibilizações

Movimento nas ruas mesmo durante pandemia
Movimento nas ruas mesmo durante pandemia / Genilson Pessanha
Uma nova onda de casos de Covid-19 em Campos que estaria causando aumento no número de internações no município, conforme o Folha 1 mostrou em matéria publicada no último sábado, foi comentada por profissionais de saúde. Para o infectologista Nélio Artiles e o coordenador da seccional do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Rogério Bicalho, a população não deve relaxar com as medidas preventivas contra o coronavírus e manter o isolamento social, evitando as aglomerações, mesmo diante da retomadas de algumas atividades, é de extrema importância para frear o ritmo de contágio da doença. No entanto, algumas pessoas parecem ignorar a gravidade da Covid-19 e, mesmo durante o período de lockdown na cidade, têm movimentado consideravelmente o fluxo nas ruas, desrespeitando a orientação de evitar sair de casa sem extrema necessidade. Atualmente, Campos contabiliza 3.876 casos confirmados da Covid-19 e 258 mortes.
Apesar de alta de casos e desrespeito da população, Campos mantém ...
Foto: O Dia-IG

Campos entrou na fase amarela, nível 3 do plano de retomada das atividades econômicas e sociais, no início de julho. De lá para cá foram várias flexibilizações. Por último, há duas semanas, houve o anúncio da reabertura de bares e restaurantes, o que teria acarretado em um novo aumento de infectados pelo coronavírus. O prefeito Rafael Diniz (Cidadania) sempre deixou claro que, caso a situação volte a ficar pior, o plano de retomada poderá retroceder, inclusive para a fase vermelha de lockdown total.

DIP do Ferreira Machado completa 25 anos como destaque no RJ
Prefeitura municipal de Campos
O médico infectologista Nélio Artiles, que esteve na equipe responsável pela implantação do Centro de Combate e Controle do Coronavírus de Campos (CCC), disse que não sabe oficialmente da ausência de vagas, mas que o quadro é preocupante, pela liberação de jovens nas ruas. “Ouvi falar, mas isso não aconteceu especificamente em alguns locais, pode ter sido uma tendência de um certo viés porque lá no próprio Centro de Coronavírus, o atendimento não aumentou. Tem pessoas que trabalham lá e continua mais ou menos a mesma coisa, inclusive com pouco atendimento. Na verdade, as internações podem ter ocorrido, uma situação específica, mas é claro que a gente se preocupa porque se essa informação é realmente correta, eu não sei dizer, pode ter ocorrido por essa flexibilização. É um risco que está se correndo, principalmente jovens. Os jovens estão sem um controle maior, saem, ficam mais liberados e é claro que o reflexo disso, geralmente, ocorre duas semanas depois”, alertou.
Nélio Artiles alertou ainda que é preciso se conscientizar que a flexibilização não é fim de isolamento. “Existem muitas pessoas que não foram contaminadas. Então, se acontece uma aglomeração, muitas pessoas nas ruas sem máscaras, principalmente, ou usando a máscara de forma errada e também não lavando as mãos, é claro que existe chance dessa matemática de voltar a aumentar. Eu diria que não voltaria na mesma proporção que estava antes, mas um aumento é esperado mesmo”, concluiu.
O coordenador do Cremerj, Rogério Bicalho, também alertou para a responsabilidade da população em manter as regras para evitar a propagação do coronavírus. “O que me traz preocupação é que a população de Campos não entendeu sobre a flexibilização. Eles acharam que está tudo liberado. A gente vê, pelas festas que estão acontecendo na Pelinca, Lagoa de Cima, etc., que parece dia de Copa do Mundo. Isso começou há uma semana, quer dizer que na semana que vem a gente já vai começar a ver realmente o resultado da flexibilização”, comentou.
Ele disse, ainda, que por enquanto a situação é aparentemente normal. “Nos hospitais em que eu consigo acompanhar, tenho visto redução no número de internações. Querendo ou não, o número de internação acaba interferindo no número de casos, mas sabemos que, com a flexibilização, iria aumentar. Isso era esperado. A flexibilização vem de forma paulatina justamente para dar tempo do sistema de saúde absorver essa demanda”, explicou.
Bicalho explicou que o Cremerj segue na orientação quanto ao trabalho dos médicos e que não há falta de equipamentos, mas sim de anestésico necessário para os pacientes entubados. “As fiscalizações estão sendo feitas semanalmente nas unidades e a gente tem apontado as dificuldades. EPI não tem faltado e o CCC estava absorvendo a demanda. Agora, essa semana eu já soube que começaram a faltar vagas de CTI. A Prefeitura lança uma informação de que tem 65% de ocupação de CTI, quer dizer, teria 35% disponível, mas eu recebo ligações de médicos com pacientes graves de Covid. Como eu não participo da regulação, a gente acaba não opinando. A gente fica de olho nos médicos ficarem com pacientes graves sem respirador. Eu não recebi nenhuma ligação nesse sentido. As queixas que a gente tem mais ouvido hoje são com relação a falta de anestésico e relaxante muscular para as cirurgias”, disse o médico ao acrescentar que os pacientes entubados pela Covid-19 necessitam destes medicamentos.
A equipe de reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campos e aguarda posicionamento. Em matéria publicada no último sábado, a diretora de Vigilância em Saúde de Campos, Andreya Moreira, chegou a informar que o início da semana foi bem preocupante, mas de quarta para cá a situação começou a melhorar.

Por: DANIELA ABREU 

Folha 1

RANOTÍCIAS

Deixe uma resposta