Rio – Após seis horas de depoimento, Paulo Marinho deixou a sede da Polícia Federal (PF), na Zona Portuária do Rio, na tarde desta terça-feira. Na saída, o empresário afirmou aos jornalistas ter apresentando aos agentes da PF “elementos materiais” que provam a denúncia feita por ele contra o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República Jair Bolsonaro.
“Eu trouxe novos elementos para esse depoimento. Esses elementos foram juntados aos autos do processo, que estão com os delegados. Eu tenho que trazer agora, no dia 28, o meu telefone para que ele seja periciado”, contou Marinho, sem revelar qual foi o teor do seu depoimento na Superintendência da PF.
O empresário, que apoiou Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018, chegou na manhã desta terça-feira na sede da PF para prestar um novo depoimento para o inquérito que investiga suposta tentativa do presidente da República de interferir politicamente no órgão.
O senador Flavio Bolsonaro (Republicanos) pediu ao STF para acompanhar o depoimento do empresário Paulo Marinho no inquérito, o que foi negado pelo ministro do STF Celso de Mello, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal. Isso porque a PF pediu que o ministro impusesse sigilo ao depoimento. O inquérito foi pedido pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ainda na saída do depoimento, Marinho disse que a motivação para denunciar Flávio Bolsonaro foi a memória do “saudoso amigo e irmão” Gustavo Bebianno e a demissão do ex-ministro de Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro.
“O que estou falando, se ele tivesse vivo, estaria falando ele. A segunda motivação é a demissão do ministro Moro e a revelação dele”, contou. “Não tenho mais nada a acrescentar na narrativa que eu dei desde o primeiro dia em que vim à PF, depois ao Ministério Público e, agora, novamente, na Polícia Federal. Este capítulo para mim é pagina virada na minha vida”, acrescentou Marinho.
O empresário afirmou que sua “missão como cidadão está cumprida”, e que agora pretende se concentrar no seu projeto político. Ele é pré-candidato à Prefeitura do Rio.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Marinho afirmou que um delegado teria se encontrado na porta da superintendência da PF com interlocutores do então deputado estadual e atual senador para informar que a operação seria atrasada, a fim de não prejudicar a família Bolsonaro em meio ao período eleitoral de 2018.
Operação Furna da Onça
A operação foi às ruas no dia 8 de novembro e cumpriu 19 mandados de prisão temporária, três de prisão preventiva e 47 de busca e apreensão, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e tendo como foco deputados da Assembleia Legislativa do Rio.
Flávio não era alvo, mas relatórios de inteligência financeira produzidos pelo antigo Coaf já apontavam desde janeiro daquele ano movimentações suspeitas nas contas de Fabrício Queiroz, seu suposto operador financeiro no esquema de “rachadinha”.
Os relatórios tinham como escopo deputados e assessores da Alerj, e o caso específico de Flávio foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo no início de dezembro, quando o procedimento investigativo já havia sido aberto pelo Ministério Público do Rio.
Segundo Marinho, os advogados Miguel Braga Grillo e Victor Granado Alves, que têm longo histórico de relação com a família Bolsonaro em gabinetes e processos judiciais, compareceram à sede da PF junto com outra interlocutora, Val Meliga, para ouvir o que o delegado tinha a dizer.
As denúncias de Marinho fizeram com que a Polícia Federal reabrisse um inquérito sobre supostos vazamentos da Furna da Onça. O Ministério Público Federal também anunciou que vai investigar o caso.
A Polícia Federal divulgou, na noite desta segunda-feira, a nomeação do delegado Tácio Muzzi Carvalho e Carneiro para assumir o cargo de superintendente regional da PF do Rio. Muzzi foi escolhido pelo novo diretor-geral, Rolando de Souza.
O diretor-geral da Polícia Federal já tinha anunciado mudanças na corporação quando assumiu o cargo no dia 4 de maio. Ele foi escolhido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, após a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF).