Artistas de Campos, inclusive os que se apresentaram no verão da prefeitura, atravessam dificuldades e clamam por pagamento
Com aperto no bolso durante a pandemia, artistas de Campos reivindicam cachês de shows do verão.
“Cada semana sem aquela renda que a gente tinha, é uma dificuldade; é matar um leão por dia”. O desabafo foi feito pelo cantor Marcelo Benjá. Ele é um dos artistas residentes em Campos afetados pela mudança de rotina causada pela pandemia do novo coronavírus, que levou ao fechamento de bares e casas noturnas e, consequentemente, ao cancelamento de agendas de shows. Além da impossibilidade de realizarem apresentações, músicos da cidade lamentam a falta de incentivo por parte da Prefeitura e o não recebimento do cachê por apresentações no Verão 2020. A superintendência de Entretenimento e Lazer se posicionou informando que solicitou notas fiscais e trabalha para agilizar os pagamentos, e que um edital emergencial, fruto de parceira público-privada, será lançado para beneficiar a classe. Em iniciativa dos artistas, uma vaquinha on-line foi criada para arrecadar doações.
Músico há nove anos, Marcelo Benjá, no início da carreira, alternava entre os shows e a área de tecnologia da informação, na qual se formou. Há três anos e meio, ele passou a se dedicar exclusivamente à música. Apesar das dificuldades, principalmente em relação aos cachês de trabalhos feitos pelo município, o cantor relatou que, com as constantes apresentações, era possível viver de música em Campos. Mas, com a pandemia de Covid-19 e a suspensão dos shows, a vida mudou:
— Voltei a fazer serviço de informática particular, oferecendo-o nas redes sociais. Os amigos também indicam clientes. Aí, tenho ido à casa das pessoas, até me expondo, mas preciso, de alguma forma, rentabilizar. Ajeito o computador, presto suporte remoto também e, paralelo a isso, faço live duas vezes por semana pelo menos, passando o “chapéu virtual” para as pessoas colaborarem do jeito que quiserem e como puderem. E estou vendendo os especiais on-line também. Graças a Deus, as pessoas têm comprado, e isso tem me dado uma ajuda muito boa neste momento. Todo mundo está tentando segurar de alguma forma, mas, para algumas pessoas, a situação está bem mais difícil.
Benjá contou que, para auxiliar os músicos que enfrentam mais dificuldades, foram criados grupos de WhatsApp, a partir dos quais são fornecidas cestas básicas a quem mais precisa.
— Cada um está tentando se virar do jeito que dá. Uns estão fazendo bicos com outras coisas, e outros não têm realmente (renda). Eu, por exemplo, sou dono do meu trabalho, da música. Mas, o músico que é só instrumentista está precisando de ajuda. porque a banda está parada. Infelizmente, a gente não tem política pública que nos ampare para esse tipo de situação, assim como um monte de profissionais autônomos também não tem — explicou.
De acordo com o artista, parte da categoria tem reivindicado o cachê do Verão 2020, que deveria ser pago 60 dias após a realização dos shows. Ele afirmou que, além desse, outros dois cachês de verões passados não foram depositados pela Prefeitura.
— Eu tenho cachê de 2018 e 2019 para receber, e isso é simplesmente absurdo. Enquanto a gente não estava em pandemia, eu ia tocando a vida. Tenho um fluxo de trabalho bacana. Costumo tocar quatro, cinco vezes por semana. Consigo viver com isso. Então, a gente vai esperando e, no dia em que sair, está legal. Só que, agora, a situação mudou. A gente não tem mais essa renda. Alguns não têm renda nenhuma. Então, a gente podia, pelo menos, receber esse cachê, que seria de grande ajuda — solicitou.
O problema se repete com o músico Paulo Vitor Pacheco de Souza, vocalista da banda O Salto. Assim como Benjá, ele ainda não recebeu o valor por uma apresentação feita em janeiro, no Farol de São Thomé. O grupo está há cerca de dois meses impossibilitado de fazer novos shows devido à pandemia. A agenda do mês de abril, que estava completa, teve que ser cancelada:
— Estávamos acostumados a trabalhar todo final de semana; a ter, toda semana, o dinheiro. E, de repente, a gente se vê sem nada. É complicado. Minha renda caiu em mais de 80%. E eu vivo de música. Nós fazemos live, umas pessoas ajudam, mas, infelizmente, a gente precisa ter de onde tirar uma renda. Temos até um cachê de um show que fizemos no verão. Seria de muita serventia se esse pagamento saísse. Nós, que somos músicos de Campos, temos costume de tocar pela Prefeitura e não ter uma data para receber. A gente toca e espera. Mas, em um momento como esse, seria de bom senso da parte deles (efetuar o pagamento).
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima, alegou que, por ora, o órgão está impossibilitado de oferecer alternativas aos artistas. “Quando você lança um edital, tem que ter uma proposta de investimento financeiro. E, no momento, como a Prefeitura decretou o estado de calamidade pública, todas as verbas são direcionadas para a Saúde. Então, não temos condições de lançar um edital e não temos uma previsão”, disse Cristina.
A superintendência de Entretenimento e Lazer, por sua vez, informou em nota que “segue internamente com o trabalho para agilizar todos os processos. Estão tramitando os processos para pagamento dos shows de janeiro e fevereiro deste ano, e a superintendência já solicitou as notas fiscais às empresas que representam os artistas”. Segundo a nota, “a secretaria municipal de Fazenda está efetuando os pagamentos à medida que as notas chegam e que haja disponibilidade financeira. Em relação à Prefeitura de Campos lançar algum programa de incentivo, já está sendo providenciado um edital emergencial através de parceria público-privada”. O ex-superintendente de Entretenimento e Lazer, Hélio Nahim, deixou o cargo para concorrer a vereador nas próximas eleições. Consta no site da Prefeitura que Fabiano dos Santos Gomes, até então superintendente adjunto, assumiu a titularidade da pasta.
Vaquinha — Enquanto os músicos não podem retomar as atividades e parte deles permanece sem o cachê do Verão 2020, uma vaquinha on-line está em andamento. As contribuições devem ser feitas pelo link http://vaka.me/1005436. “A quem puder ajudar, é um valor bem simbólico mesmo. E a gente agradece do fundo do coração”, comentou Paulo Vitor Pacheco de Souza.
Artistas como França Motta que é presença certa nas noites campistas à muitos anos e que arrasta grande público por onde passa, também assim como tantos outros, passa por problema parecido e a categoria à que pertence não vê a hora de tudo isso passar e a vida retomar a sua, ao menos aparente normalidade.
Os músicos da região, muito provavelmente, serão os últimos a retomarem as sua atividades quando isso acabar. Portanto, eles resolveram criar uma vaquinha virtual para que a categoria fosse socorrida, pois em sua grande maioria, está passando por dificuldade financeira pois não tem onde e nem como se apresentar, levando o até então, costumeiro momento de alegria e descontração ao povo já tão sofrido.
PAULA VIGNERON
FOLHA 1
RANOTÍCIAS