Temporada de atenção aos pets

Foto: Genilson Pessanha

“Vai viajar e não tem com quem deixar seus anjos de patas? Deixe em local seguro, onde ele irá brincar e interagir com outros amiguinhos, sempre supervisionado.” Com este convite, a autônoma Andréa Teixeira abre espaço em sua residência para receber animais domésticos quando as famílias saem da cidade, principalmente durante as festas de final de ano, e precisam abrigá-los em outros locais. A pousada-creche “Anjo de Patas” é uma das alternativas encontradas em Campos. Por outro lado, há tutores que contam com amigos para fazerem companhia aos bichinhos de estimação, sobre os quais o Poder Legislativo tem debatido, visando ao endurecimento das leis. No último dia 16, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que amplia a pena para autores de maus-tratos contra cães e gatos.

Há aproximadamente quatro anos, perto do Carnaval de 2016, Andréa, tutora de cinco cachorros e um gato, todos resgatados, fundou a pousada em um momento em que estava desempregada, a partir do pedido de uma amiga do grupo de oração.
— Ela perguntou se eu conhecia alguém que pudesse ficar com a “filhinha dela”, a Bebela, e eu comentei que iria ver. Isso foi antes de começar a palestra (do grupo). Na palestra, veio a ideia “você”. Sempre gostei. Não gosto de chamar de cachorro, nem de animal. Eu gosto de chamar de anjo porque eles me ensinam muito. Quando acabou a pregação, veio à minha cabeça “pousada-creche Anjo de Patas” e eu falei para ela que ia ficar — contou Andréa.
Após decidir iniciar o empreendimento, ela começou a usar as redes sociais para divulgá-lo. Imediatamente, os clientes buscaram a autônoma para a hospedagem dos pets.
— Nos 20 dias antes do Carnaval, fiquei com cinco. Desde que iniciou a pousada, todos os fins de semana, tenho hóspedes. É uma grande responsabilidade porque, hoje em dia, o afeto com os anjos está sendo muito grande. O anjo não é dado como um cachorro de quintal. Ele é um membro da família — relatou, destacando que os pets também auxiliam em tratamentos de doenças psiquiátricas, como depressão.
Nestes anos, Andréa já hospedou diversos bichinhos de estimação, entre cachorros, coelhos, gatos e pássaros, e tem clientes fixos. Ela explicou que é necessário, ao recebê-los, aproximar os pets que já estão no espaço com os que chegam pela primeira vez, para evitar brigas ou brincadeiras que podem machucar. O máximo de hóspedes dos quais a proprietária do espaço cuidou, simultaneamente, foi 23.
— O que é hospedar um anjo? É você aprender. Muitas pessoas não conseguem demonstrar carinho e, já com os anjos, você consegue. Eles afloram isso. Convivendo com eles, a cada dia, eu aprendo. Cada um tem sua personalidade. Eu tenho a estrutura da pousada, mas sempre coloquei à frente São Francisco de Assis porque é ele que protege. Hospedagem não é só limpar, colocar comida e dar água. É um estudo completo, desde a personalidade até o habitat dele. Eles interagem comigo, dormem comigo. Eu brinco, sento no chão e busco ter esse laço — contou, ressaltando que costuma enviar registros de vídeos e fotos para as famílias acompanharem a rotina dos pets na pousada.
A autônoma, que conta com duas auxiliares fixas e freelancers, afirmou que a pousada é procurada com maior frequência no período de festas de final de ano. Para este feriadão, ela calcula que, além dos seus seis pets, o total seja de 10 hóspedes. Em relação à época, Andréa fez um alerta sobre os cuidados necessários com os bichinhos:
— Muitas pessoas usam fogos de artifício. A sensibilidade auditiva dos anjos de patas, sejam cães ou gatos, é muito superior à nossa. Então, tem que ter muito cuidado. Mesmo eles protegidos, existe o problema cardíaco. Com as explosões, eles podem infartar. Por que Campos ainda não partiu para um desenvolvimento para proibir fogos? Não atrapalha só os anjos de patas, mas também autistas, acamados, bebês, gestantes e até mesmo a gente – questionou a empresária.
Resgate e adoção em resposta ao abandono – Moradora do Parque Califórnia, a servidora pública aposentada Joseth Bravo é tutora de três gatas, com idades entre cinco e nove anos. Todas foram resgatadas e adotadas. A proximidade com a causa animal foi iniciada quando uma amiga perdeu a gata.
— Ela já era protetora dos animais. A partir daí, eu fiquei com tanta pena de a gatinha ter fugido que eu comecei com o “vício do bem”. De lá para cá, não consegui parar. A gente faz muita campanha nas redes sociais, pedindo ajuda. Só que, como a gente está em uma crise grande, é difícil ajudar em dinheiro. Às vezes, ajudam com ração ou medicação, mas com dinheiro em si, para pagar as clínicas, é mais difícil — relatou.
Na virada do ano, Joseth planeja viajar para uma praia no município de São João da Barra. Ela será auxiliada por uma vizinha, que costuma ir à casa dela para alimentar as gatas. “Gato é mais independente do que cachorro. Com comida e água, eles ficam bem. Aqui tem quintal, que elas usam como banheirinho. Mas, caso eu fique, às vezes, tomo conta de cachorro ou gatinho de alguma amiga. Já teve ano em que eu fiquei tomando conta”, destacou. A aposentada comentou sobre o abandono de animais:
— A gente fala que abandonar não é opção. É crime, tem lei para isso, mas, infelizmente, não é tão bem cumprida como a gente gostaria que fosse. Hoje em dia, tem 30 milhões de animais abandonados: 20 milhões de cães e 10 milhões de gatos. E tem gente que vê os animais como objetos. Só que, hoje em dia, a maioria vê como membro da família e tem os cuidados necessários. Eu me lembro de um Carnaval em que vi um cachorro morrendo. Era um pastor. A coleira agarrou, não lembro onde, e eu só não o vi morrer porque saí a tempo. Eu não tinha como socorrer porque não conhecia a dona da casa e não tinha ninguém para ligar ou chamar.
Para Joseth, quem planejar adotar algum animal de estimação deve, além de amá-los, oferecer boa alimentação e vacinação. Em caso de cachorros, não é recomendável deixá-los presos a coleiras. O pet também deve ser levado constantemente ao veterinário. “E carinho e amor, que é o que eles pedem. Se for adotar, deve pensar bem antes. O animal vive em torno de 20 anos. Então, a gente tem que estar preparado por 20 anos para cuidar e não abandonar. Eles são as melhores companhias. Eles amam incondicionalmente e sem pedir nada em troca”, finalizou.
Foto: www.youtube.com
Projeto prevê penas mais duras – No dia 16 de dezembro, o plenário da Câmara aprovou, em comissão especial, o projeto de lei que amplia a pena para agressores de animais domésticos. O texto prevê reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição de guarda de animais, apenas em casos de maus-tratos contra cães e gatos. Em caso de morte do pet, a pena pode chegar a seis anos.
De acordo com informações veiculadas pela Agência Brasil, os deputados endureceram a previsão de pena ao adotar o regime de reclusão, que prevê o início do cumprimento da pena em regime fechado, quando o réu é reincidente. Já no regime de detenção, a pena pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto e também há possibilidade de conversão da pena em doação de cestas básicas.
Para os animais silvestres, exóticos ou nativos, a pena permanece igual. Atualmente, a Lei de Crimes Ambientais determina detenção de três meses a um ano e multa para casos de violência contra animais
Relator no colegiado, o deputado Celso Sabino (PSDB-PA) afirmou que a reclusão é mais indicada para os crimes contra cães e gatos, porque pode ser imediatamente cumprida em regime fechado. Ele lembrou que cães e gatos são os animais mais adotados como estimação no país.
“O endurecimento da Lei servirá para evitarmos que aquele que pratica maus-tratos a animais possa sair na mesma hora ou no mesmo dia da delegacia. Uma Lei que faça com que o cidadão tenha medo de maltratar o animal e possa produzir exemplos para pessoas que estejam mal intencionadas: se fizer aquilo vai para o presídio”, argumentou o parlamentar em entrevista à Agência Brasil.
Folha 1

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