Número de casos de chicungunha no Rio quase quadriplicou em 2019

O mosquito Aedes aegypi, vetor de doenças graves, como dengue, febre amarela, zika e chicungunha.

O município do Rio teve 37.973 casos de chicungunha entre janeiro e novembro deste ano, quase quatro vezes mais do que o registrado no mesmo período do ano passado (9.545 casos). E especialistas advertem que o pior ainda pode estar por vir, com um verão que se anuncia quente e chuvoso — propício à proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus.

Por conta do aumento na capital (a cidade brasileira com mais casos registrados neste ano), o estado do Rio permaneceu no topo de diagnósticos de chicungunha no país: foram 85.302 até o fim de novembro. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, em dezembro foram identificados mais 650 casos no estado.

Por ser um vírus novo — começou a circular no município em 2015 —, o chicungunha encontrou uma população que não tinha anticorpos para combatê-lo, diferentemente da dengue (também transmitida pelo Aedes, assim como o zika). Isso favoreceu a epidemia.

— Quando somos infectados por um vírus, criamos imunidade a ele. Por isso, é difícil termos muitos novos casos de dengue, que circula no Rio há quase 40 anos e já infectou muitas pessoas — afirma Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury. — Como a chicungunha é uma doença nova, muitas pessoas correm risco.

Granato destaca também que o vírus é “extremamente incapacitante”, com cerca de um terço dos pacientes sentindo dores (nas articulações, cabeça e no corpo, em geral) por meses ou anos.

A assistente comercial Monique Vidal, de 29 anos, moradora do Rio Comprido (Zona Norte) foi uma das afetadas pelo vírus da chicungunha.

— Comecei a sentir os sintomas no meio do ano. Tive muita febre e dores fortíssimas no corpo, de não conseguir andar. Eram mais intensas nas pernas. Até hoje, quando faz frio, elas doem.

Dominique Vidal, de 29 anos, foi infectada pelo vírus chicungunha em 2019.

Dominique Vidal, de 29 anos, foi infectada pelo vírus chicungunha em 2019. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

A dor também é companheira da professora de história Daniele Telles, de 43 anos, do Grajaú (Zona Norte). Infectada em maio deste ano, ela ainda sente os joelhos e tornozelos doerem.

— Percebi que tinha algo de errado quando, à tarde, levantei para buscar o meu filho e senti uma dor forte no pé. No dia seguinte, estava com dores generalizadas, não conseguia nem sentar para brincar com o meu filho. Me senti inválida — relembra ela, que ainda toma corticoides para amenizar a dor.

Para amenizar as dores a cabeleireira e maquiadora Rose de Moura, moradora de Bangu (Zona Oeste), se consultou com um reumatologista e passou a praticar atividades físicas.

— Senti dores horríveis, o que me ajudou foi tomar corticoide, sob orientação médica, e depois começar a fazer exercícios.

Risco maior no verão

De acordo com o Climatempo, o próximo verão brasileiro será marcado por chuvas volumosas, principalmente na região Sudeste. Isso pode significar o aumento nos casos de chicungunha no Rio, aponta André Siqueira, infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas e coordenador da Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chicungunha (Fiocruz):

— Muitos novos casos podem acontecer porque o clima estará propício para a proliferação dos mosquitos. Portanto, temos que nos preparar para agir e controlar a epidemia, antes que ela provoque grandes complicações de saúde na população.

Siqueira indica dois caminhos para combater esta e as próximas epidemias no Rio: reforçar as equipes de agentes de combate a endemias, que vão de casa em casa analisar possíveis criadouros de mosquito Aedes aegypti; e preparar o serviço de saúde para o caso de um aumento expressivo de casos.

— Este serviço de conscientização de porta em porta é muito mais efetivo do que as campanhas de publicidade em massa. Dentro da casa das pessoas, o agente aponta lugares que muitas vezes o morador não percebe que pode ser um criadouro de mosquito — explica.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que, além do combate ao vetor, “realiza, ao longo do ano, ações educativas para orientar a população sobre as medidas que todos podem fazer para auxiliar na prevenção das arboviroses”. Ressalta ainda que a população, ao identificar criadouros em áreas públicas, deve ligar para o 1746.

A Secretaria de Estado de Saúde informou que “serão repassados cerca de R$ 11 milhões aos municípios para fortalecimento das ações de vigilância e controle de arboviroses” e que, neste ano, já foram feitas várias ações de combate ao mosquito, como campanhas de comunicação, ações com drones do Corpo de Bombeiros para auxiliar na busca por focos e capacitação de profissionais de saúde.

EXTRA

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