PF encontra planilha com número de processos no apartamento de Mr. Bean, motorista de Siro Darlan
No inquérito no STJ, Luís Soares aparece como suspeito de negociar a liberação de réus antes de decisões tomadas pelo desembargador do TJ-RJ.
GNews – Siro Darlan — Foto: Reprodução/GloboNews
A Polícia Federal apreendeu, na tarde desta terça-feira (24), uma planilha no apartamento de Luís Eduardo Soares, motorista do desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Conhecido como Mr. Bean, Luís Soares é um dos personagens da PF no inquérito que investiga a venda de sentenças judiciais no TJ. Além de motorista, Mr. Bean é apontado como interlocutor de Siro Darlan.
Morador do Leblon, um dos bairros mais sofisticados da cidade, Mr. Bean foi alvo de mandados de busca e apreensão nesta terça-feira.
O G1 apurou que, na planilha encontrada pela PF, há números de processos e telefones de pessoas investigadas. Fontes suspeitam que a lista possa ser um controle de casos que possam ter sido comprados ou que estavam em negociação.
Ao vasculhar o endereço de Mr. Bean, a PF descobriu que ele teria outro imóvel, no mesmo bairro. Os policiais pediram para o ministro Luis Felipe Salomão, relator do caso, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um novo mandado de busca e ele autorizou a nova investida.
O motorista Luiz Eduardo Soares, conhecido como Mr.Bean, é apontado no inquérito do STJ como negociador de propinas para o desembargador — Foto: Reprodução
Mr. Bean já foi condenado por pegar R$ 70 mil em ingressos de uma casa de shows, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, em nome da Vara da Infância e do Idoso. O caso aconteceu em 2005, quando Mr. Bean pegou os bilhetes em nome da Vara da Infância e do Idoso, cargo que havia sido ocupado por Darlan, e foi denunciado por empresários.
Delação premiada deu início à investigação
A investigação sobre o desembargador Siro Darlan começou no Rio de Janeiro, com uma delação premiada fechada pelo Ministério Público do Estado do Rio e encaminhada para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No depoimento, o delator que tem o nome mantido sob sigilo, relata a suposta existência de um esquema de vendas de habeas corpus nas varas judiciais comandadas por Darlan. Esse delator entregou dois áudios aos investigadores com conversas de dois advogados diferentes detalhando o crime.
A partir daí, o STJ decidiu, no começo deste ano, quebrar o sigilo telefônico e bancário dos envolvidos:
- O desembargador Siro Darlan
- O advogado Renato Darlan, filho do desembargador
- O economista Ricardo Abud, de Resende, beneficiado pelo habeas corpus do desembargador
- O motorista Luís Eduardo Soares, o Mr. Bean
- O policial civil Luiz Cláudio Diniz Gama, o Fofão
A soltura de Abud por Siro Darlan, em 30 de outubro de 2015, é o principal marco da investigação.
A PF descobriu que, um dia antes, o pai de Abud, já falecido, fez vários contatos telefônicos com Soares. Na sequência, as interceptações mostram que o motorista ligava para o desembargador, assim como para o filho do magistrado.
A investigação encontrou registros de movimentações financeiras atípicas da família de Abud (saída de dinheiro nas contas) exatamente antes da soltura concedida por Siro Darlan.
Todos os citados foram procurados e não se pronunciaram até o fechamento desta reportagem.