PF revela encontro de Índio da Costa e ex-superintendente dos Correios quatro meses antes de serem presos
Imagem mostra Cléber Isaías Machado se curvando em direção ao ex-deputado federal, em um restaurante da Zona Sul do Rio. Os dois foram presos em uma operação que desvendou esquema de corrupção nos Correios.
Superintendente dos Correios no Rio fez reverência a Indio da Costa
Uma sequência de imagens obtidas pela Polícia Federal revelou que o ex-deputado federal Índio da Costa e o ex-superintendente dos Correios no Rio, Cléber Isaías Machado, se encontraram em um restaurante da Zona Sul do Rio, quatro meses antes de serem presos em uma operação que desvendou esquema de corrupção nos Correios.
Nas imagens é possível ver que Cléber se curva em direção ao ex-deputado assim que o encontra no restaurante.
Para a PF, o ato de se curvar denota uma reverência de Machado em relação à Índio da Costa. Os dois foram presos preventivamente no último dia 6 na Operação Postal Off, que desvendou um esquema de corrupção nos Correios que teria causado um prejuízo de R$ 13 milhões à estatal.
As fotos registram que o encontro terminou com um abraço entre os dois. Segundo a PF, a reunião aconteceu às 15h55m do dia 24 de abril deste ano. O almoço entre os dois foi marcado por telefone momentos antes. A conversa foi interceptada com autorização da Justiça.
No total, 12 pessoas foram presas na semana passada na Operação Postal Off. Foram cumpridos mandados de prisão no Rio, em São Paulo e em Minas Gerais.
Cléber se curva em direção ao ex-deputado Índio da Costa assim que o encontra no restaurante — Foto: Divulgação Polícia Federal
Justiça manda soltar ex-deputado
Na última quinta-feira (12), o desembargador federal João Pedro Gebran Neto, da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), concedeu, um habeas corpus ao ex-deputado federal Índio da Costa.
A Justiça determinou o pagamento de 200 salários mínimos (cerca de R$ 200 mil) como fiança. Para deixar a cadeia, Índio precisou entregar o passaporte.
Outro lado
Em nota, o advogado Ary Bergher, que defende Índio da Costa, disse que “Esse almoço aconteceu em abril deste ano, quando Índio da Costa já não era mais filiado a partido político, tinha abandonado a vida pública. O relatório da polícia federal diz que Índio foi monitorado, mas que este monitoramento não trouxe à tona qualquer esclarecimento sobre a relação de Índio com Cléber ou com a organização criminosa. Não há uma única prova que incrimine Índio da Costa. Pelo contrário, a investigação mostrou que ele não teve qualquer envolvimento com este caso. Foi uma das prisões mais arbitrárias que já vi. Estamos estudando as medidas reparatórias que serão tomadas”.
A GloboNews tentou contato com a defesa de Cléber Isaías Machado, mas não teve retorno.
Índio na política
Além do cargo de deputado federal, o empresário e advogado Índio da Costa também foi vereador e secretário municipal em diferentes administrações no Rio.
Índio foi secretário de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, ao lado do atual prefeito Marcelo Crivella (2017 a 2018), e secretário de Administração na gestão de Cesar Maia, entre 2001 e 2006.
Nas últimas eleições, em 2018, o político concorreu ao governo do RJ.
Índio foi relator de uma comissão especial que ajudou a criar o projeto da Lei da Ficha Limpa, que impede políticos com condenações em segunda instância de disputar cargos nas eleições.
PF revela encontro de Índio da Costa e ex-superintendente dos Correios quatro meses antes de serem presos — Foto: Divulgação Folícia Federal
Fraude nos Correios
Segundo a PF, o esquema era coordenado por empresários, funcionários da estatal e agentes públicos. Onze mandados de prisão preventiva foram cumpridos – 9 no Rio e 2 em São Paulo – e um mandado de prisão temporária foi cumprido em Minas Gerais. Os investigadores afirmam que as fraudes causaram um prejuízo de R$ 13 milhões.
A Polícia Federal afirma que a quadrilha negociava até cargos, alguns chegando ao valor de R$ 250 mil. Não foram informados, no entanto, quais seriam esses cargos e qual a relação.
O RJTV apurou que há indícios de que Índio sabia de todo o esquema e seria o padrinho político do superintendente estadual dos Correis no Rio, Cleber Isaías Machado, que também foi preso hoje.
A PF informou que foram detidos agentes dos Correios, empresários e funcionários de empresas que eram utilizadas como “laranjas” pela organização criminosa, de acordo com o delegado Cristian Luz Barth, responsável pela investigação em Santa Catarina.
Segundo ele, pelo menos 10 empresas possuíam contratos com os Correios e participavam do esquema criminoso.
A investigação começou em novembro de 2018, após empresários ligados ao esquema tentarem iniciar a atuação do grupo em Santa Catarina.
No entanto, ele não explicou quais cargos seriam esses e como era conduzida essa parte do esquema. Segundo ele, a investigação está em andamento.
Foram bloqueados R$40 milhões das contas e dos bens dos investigados, incluindo carros de luxo e duas embarcações. O processo corre em sigilo.
O que dizem os Correios
Após a operação da Polícia Federal, os Correios divulgaram a seguinte nota: “Com relação aos mandados cumpridos pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (6), em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais, os Correios informam que estão colaborando plenamente com as autoridades. A empresa permanecerá contribuindo com as investigações para a apuração dos fatos. Os Correios reafirmam o seu compromisso com a ética, a integridade e a transparência”.
Indio da Costa — Foto: Marcos Serra Lima/ G1