Testemunha de processo contra Garotinho diz que foi ameaçada de morte, aponta MPRJ
Ministério Público vai pedir nova prisão dele e da ex-primeira-dama e
ex-governadora Rosinha. Casal foi preso na terça, mas deixou a cadeia na
quarta, em menos de 24 horas. Defesa diz que há perseguição política e
que testemunhas ‘faltaram com a verdade’.
O Ministério Público vai pedir novamente a prisão dos ex-governadores do Rio Anthony e Rosinha Garotinho. Ambos saíram da prisão na quarta-feira (4), menos de 24 horas depoisde terem sido presos por suspeita de superfaturamento na construção de casas populares em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
O argumento do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) é de que os crimes praticados pelo grupo de Garotinho são graves e que incluem até relatos de ameaças de morte a uma das testemunhas. A informação foi obtida com exclusividade pela GloboNews.
A defesa do casal diz que há perseguição política e que testemunhas “faltaram com a verdade” (leia a íntegra no fim da reportagem).
Na coletiva após a prisão, promotoras do grupo disseram que havia risco de ambos interferirem na investigação.
Ex-governador Garotinho deixa cadeia de Benfica na manhã desta quarta (4) no Rio — Foto: Fernanda Rouvenat / G1 Rio
Uma testemunha afirmou que, desde a primeira vez que Garotinho foi preso, na Operação Chequinho, em 2016, “recebeu vários recados na rua de pessoas falando que ela vai ser morta ou de que alguém de sua família será atingido, como seu esposo e seu filho, e que os recados sempre vêm no sentido de que ela já falou demais e que ela deveria ficar quieta quanto a outros fatos que tenha conhecimento para não morrer.”
Para o Ministério Público, não há dúvidas de que a testemunha sofreu ameaças de morte.
O mérito da liminar que soltou Garotinho e Rosinha, assinada pelo desembargador Siro Darlan, no Plantão Judiciário, será julgado pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Ainda não há data para o julgamento.
Na decisão de soltura, Siro Darlan escreveu que “os fatos narrados na peça do MP são de 2008. E teriam acontecido até meados de 2016”. “Ou seja, estamos diante de um decreto prisional que, em nome da garantia da ordem pública, cita fatos de mais de 10 anos atrás, uma total ausência de contemporaneidade”, escreveu.
Ainda segundo o desembargador, o juiz que decretou a prisão “faz a ilação que testemunhas poderiam ser ameaçadas”. “Porém nenhum fato concreto ou mero indício é apontado como existente para tal dedução.”
Investigação e prisão
O contrato de licitação para a construção das casas foi feito com a Odebrecht durante os dois mandatos de Rosinha como prefeita, entre 2009 e 2016. Segundo o Ministério Público, eles receberam R$ 25 milhões em propina.
As investigações apontam que o prejuízo aos cofres públicos da cidade foi de R$ 62 milhões. Além do casal Garotinho, outras 3 pessoas foram presas. Foi a quarta fez que Garotinho foi parar atrás das grades.
Durante a investigação, o MP descobriu que um sistema de propina dentro da Odebrecht era utilizado para organizar e ocultar os valores de propina para vários beneficiários. Garotinho, segundo as planilhas apreendidas, era chamado de “Bolinha”, “Bolinho” ou “Pescador”.
“Bolinha”, codinome para Anthony Garotinho, aparece em planilha da Odebrecht de 2014 — Foto: Reprodução/Ministério Público
No depoimento ao Ministério Público, a testemunha falou ainda sobre o episódio conhecido como a Farra dos Guardanapos, o jantar em Paris, em que o ex-governador Sérgio Cabral, políticos e empresários foram fotografados com guardanapos na cabeça. As fotos do grupo foram reveladas por Garotinho, mas uma pessoa que estava no encontro não foi exposta pelo ex-governador.
Era Benedicto Júnior – na época, executivo da Odebrecht. A testemunha disse “que Garotinho não poderia ‘detonar’ essa pessoa, já que a prefeitura de Campos ainda mantinha contrato com a Odebrecht.
O que dizem os citados
Em nota, a defesa dos ex-governadores Garotinho e Rosinha disse que “vivemos tempos difíceis de politização da Justiça e judicialização da política, em especial no Judiciário de Campos de Goytacazes. Por isso, a necessidade de um debate profundo sobre abuso de autoridade”.
A nota diz ainda que a decisão do desembargador Siro Darlan foi bastante contundente e devidamente fundamentada.
A defesa afirma também que as testemunhas usadas pelo Ministério Público para embasar a denúncia são as mesmas que faltaram com a verdade na operação Chequinho, cuja ação está suspensa pelo STF, por suspeita de parcialidade do promotor de Justiça.
A nota diz ainda que “é público e notório que Anthony Garotinho sofre perseguição por ter denunciado a cúpula do governo Sérgio Cabral à PGR, ao Executivo, Legislativo e Judiciário, onde todos que foram noticiados por ele foram ou estão presos”.
O Ministério Público do Rio não quis comentar sobre a resposta dos ex-governadores.
Por Marcelo Gomes e Ricardo Abreu, GloboNews