Pedreiro é morto na Vila Kennedy; protesto bloqueia trânsito na Av. Brasil por duas hora
‘Acabaram de matar um trabalhador em cima da
minha laje, o cara fazendo a minha laje’, disse dono de
imóvel na favela.
Um homem foi morto na manhã desta terça-feira (3) enquanto trabalhava na laje de um sobrado na Vila Kennedy, comunidade na Zona Oeste do Rio. A vítima é o pedreiro José Pio Baía Junior, de 45 anos, de apelido “Juninho”.
Em vídeo compartilhado em redes sociais, um homem que se identificou como dono do estabelecimento onde José trabalhava afirmou que o pedreiro foi baleado enquanto “levantava” uma laje do bar Varandão da Gana, que fica no encontro das ruas Gana com Etiópia, a cerca de 50 metros da Avenida Brasil.
“Acabaram de matar um trabalhador em cima da minha laje! O cara fazendo a minha laje! O cara trabalhando, cara, o policial atirou. Não tinha ninguém, não tinha ninguém. Policial saiu dando tiro. É impressionante como a gente tá sofrendo aqui na Vila Kennedy”, contou o morador.
Pedreiro foi morto com um tiro na cabeça enquanto trabalhava em cima de uma laje — Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Vídeos compartilhados num aplicativo de conversas mostram moradores acusando uma policial militar – não identificada – de ter sido a autora dos disparos.
“Tiraram ela [a policial] às pressas daqui. Estavam chamando ela de assassina. Quatro policiais vindo da Avenida Brasil vão vir fazer operação? Foi muito tiro. Tentamos ajudar o rapaz, mas não teve como sair daqui de dentro. Ficou quase uns cinco, seis minutos direto”, contou uma moradora que pediu para não ser identificada.
A corporação comunicou que havia uma operação do 14º BPM (Bangu) na comunidade, próximo à saída da Avenida Brasil, quando os agentes foram atacados por criminosos armados. Segundo a PM, uma viatura do batalhão foi atingida.
Logo em seguida, os policiais foram informados de que um homem havia sido ferido e o comando do 14º BPM determinou que uma equipe fosse ao Hospital Municipal Albert Schweitzer para checar a ocorrência.
Vítima preparava laje
José, segundo relatos de uma moradora ao G1, já havia feito reformas em várias casas da Vila Kennedy. No momento em que foi atingido, o pedreiro se preparava para erguer mais uma laje da pensão em que trabalhava há aproximadamente três meses.
Pessoas próximas à vítima disseram que, quando foi baleado, José estava com pregos na mão e com um martelo ao lado. O pedreiro também vendia frango assado, aos domingos, no Sacolão da Vanuza.
Parentes esperam perícia
José foi baleado por volta das 10h. Até as 15h, parentes e amigos do pedreiro continuavam esperando que peritos da Polícia Civil fossem ao local.
Em nota, a Delegacia de Homicídios da Capital (DH) informou que foi instaurado inquérito para apurar as circunstâncias da morte de José Pio Baía Junior.
Protesto
Por volta das 12h, moradores bloquearam a Avenida Brasil, na altura da Vila Kennedy, e protestando contra a morte do pedreiro.
Pouco antes das 13h, os manifestantes atearam fogo a um ônibus na via.
Às 13h30, os dois sentidos da Avenida Brasil, na altura da comunidade, foram liberados, mas havia retenções ao longo das pistas.
A RioÔnibus emitiu nota repudiando o que classificou como ato de vandalismo contra ônibus da linha 770 (Campo Grande x Coelho Neto), na Avenida Brasil.
“O ônibus incendiado por criminosos foi totalmente destruído pelas chamas e não voltará a operar, é menos um coletivo a servir à população”, diz o texto.
A vítima era conhecida como Juninho entre os colegas na Vila Kennedy — Foto: Reprodução / TV Globo
Moradores fazem protesto na Avenida Brasil, na altura da Vila Kennedy — Foto: Reprodução / TV Globo
Moradores da Vila Kennedy fazem protesto na Avenida Brasil após morte de pedreiro — Foto: Reprodução / TV Globo
Também na manhã desta terça, moradores da Cidade de Deus, comunidade que também fica na Zona Oeste, realizaram protestosem vias que cortam a favela.
A confusão começou depois que um veículo blindado da Polícia Militar entrou na localidade conhecida como Brejo, umas das mais pobres da comunidade. Moradores dizem que o caveirão destruiu barracos que estavam pelo caminho.
Imagens publicadas em redes sociais mostram o blindado do Batalhão de Operações Especiais (Bope) saindo do local com fios de energia elétrica enganchados no veículo.
Imagens feitas pelo Globocop mostraram passageiros sendo obrigados a descer de ônibus que foram atravessados na Rua Edgard Werneck por volta das 8h10.
Às 9h30, a rua foi liberada na altura da Linha Amarela, mas manifestantes ainda ocupavam uma faixa da Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes.
Os manifestantes também retiraram lixo de uma caçamba da Comlurb para formar barricadas e interromper o trânsito.
O Globocop também flagrou o momento em que um homem chuta uma viatura da Polícia Militar que passava pela via durante a manifestação. A via foi totalmente liberada às 11h20.
Por Raísa Pires e Nicolás Satriano, G1 Rio