O presidente Jair Bolsonaro disse que, por ele, está definida a indicação do filho Eduardo para a embaixada nos Estados Unidos.
Foi depois de uma reunião ministerial, no Palácio da Alvorada, que Jair Bolsonaro saiu dizendo que a decisão estava tomada. Vai mesmo indicar o filho Eduardo Bolsonaro para ser embaixador nos Estados Unidos. E foi logo rebatendo críticas.
“Tentar desqualificá-lo por fritar hambúrguer, eu frito hambúrguer e acho que melhor do que ele. Talvez por isso eu seja presidente. Da minha parte está definido, conversei com ele novamente, foi acho que anteontem, há interesse”, disse o presidente.
Bolsonaro não considera que seja nepotismo. Uma súmula do Supremo Tribunal Federal proíbe a nomeação de parentes em cargo de direção, chefia, cargo em comissão ou de confiança. Mas alguns ministros da corte entendem que a súmula não alcança nomeações de cargos de natureza política.
O presidente vem insistindo que a afinidade do filho com a família Trump abre portas para Eduardo, que não é diplomata, desempenhar a função de embaixador.
Marcílio Marques Moreira, que já foi embaixador em Washington, disse que não basta ser amigo da Casa Branca.
“O mundo está mudando muito rapidamente e, então, é preciso realmente ter uma noção muito mais ampla de toda a situação, e não apenas uma amizade com uma pessoa do Executivo, que é o presidente, o que é importante, mas não suficiente”.
Para assumir a função de embaixador, Eduardo terá que renunciar ao mandato, mas isso só quando e se for tomar posse no cargo. Até lá, tem um longo caminho.
Começa pela consulta prévia ao país de destino, o chamado agrément. Pela regra, um telegrama ultrassecreto, via embaixada em Washington. O Planalto confirmou que esse texto já está pronto. Mas nada impede que Jair Bolsonaro faça a consulta diretamente, num telefonema para o presidente americano Donald Trump. Só depois desse ok é que começa o processo no Brasil.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que recebeu um telefonema de Jair Bolsonaro perguntando qual seria a impressão do Senado.
“Eu manifestei que isso é uma manifestação pessoal do presidente, presidente tem que decidir se irá indicar e. como presidente do Senado. eu vou encaminhar para a Comissão de Relações Exteriores, senadores irem fazer a sabatina, depois a votação no plenário”.
Major Olímpio, líder do PSL, partido do presidente, defendeu a indicação.
“Não creio que vá haver um cavalo de batalha, impor uma derrota ao presidente, ou uma recusa ao Eduardo. Tenho visto a Comissão de Relações Exteriores se pautar tecnicamente em relação a uma avaliação do perfil daquele que vem indicado. Não creio que vá ser diferente nesse episódio”, disse.
O vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Marcos do Val, do Cidadania, fez um apelo para que Jair Bolsonaro volte atrás.
“A embaixada em Washington é uma embaixada estratégica, requer um diplomata com muita experiência. Peço que presidente da República possa reavaliar essa posição, essa possibilidade de indicar seu filho, que é uma pessoa que não tem essa experiência”, disse.
O líder do Podemos disse que vai apresentar uma proposta de emenda constitucional. Quer limitar a prerrogativa presidencial para a escolha de embaixadores dentro do quadro de diplomatas.
“É uma indicação surreal, não há aqui certamente compreensão para essa providência. Terá o presidente sérias dificuldades para aprovação do nome se realmente se concretizar”, disse o senador Álvaro Dias.
A senadora Simone Tebet, do MDB, já vem criticando a escolha de Eduardo Bolsonaro e considera um erro do presidente.
“Acho que isso aqui foi talvez o maior erro do presidente até agora, até porque envolve o próprio filho, sem ter pelo menos tentado entender qual é o sentimento hoje do Senado Federal. Eu acho que ele hoje corre sérios riscos de mandar para o Senado e ser derrotado”.