Médico alerta para avanço de casos de chikungunya
Moradores do Jóquei Clube estão amedrontados com o número de pessoas com chikungunya no bairro, embora o último levantamento do Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI) apontasse Travessão como local com maior número de casos da doença. O diretor do CRDI, Luiz José de Souza, alerta que, se a forma de combate ao Aedes aegypti não for mudada, o número de casos continuará crescendo e toda a população de Campos vai adquirir o vírus pela picada do mosquito transmissor. Outra afirmação feita pelo médico, que também está com chikungunya, é que casos da doença, na região, estão sendo informados como se fossem de dengue. Em 2019, Campos já confirmou 4.569 casos de chikungunya, sendo 682 em junho.
No Jóquei, três irmãos idosos sofrem com a doença. Na última quarta-feira (3), Orlando Américo dos Santos, 69 anos, chegou cedo, antes das 6h, ao CRDI. Diferentemente das irmãs, Ilda e Iolanda, ele teve uma forma mais branda de chikungunya e retornou à unidade para nova avaliação, depois da confirmação da doença no mês anterior.
— Meus pés e tornozelos incharam muito, mas minhas irmãs tiveram febre alta, dificuldades para andar, dores fortes em todas as juntas do corpo — disse Orlando, que aguardava o atendimento na unidade, onde, somente pela manhã, passaram mais de 200 pessoas.
Em casa, na rua Olegário Mariano, Ilda e Iolanda, que já vão para a quarta avaliação médica no CRDI, nesta semana, contaram que vários conhecidos do bairro também contraíram a doença. Elas contam que a quantidade de mosquito é grande pela manhã e no início da noite e, como outros moradores do bairro, acreditam que a causa é o valão local, que estaria precisando de limpeza.
— Completamos 31 dias com a doença e, sentimos que, semana passada, quando mudaram a medicação, tivemos uma melhora. Mas as dores eram intensas. Minhas pernas ficaram inchadas a ponto de eu não conseguir andar — contou Ilda, de 71 anos.
— A febre era tão alta, que a quentura passava para a mão antes de encostar na testa. Tenho 75 anos e nunca havia sentido dores tão horríveis como essas. Agora, vamos voltar ao médico, mas já sabemos que teremos de fazer esse acompanhamento por, pelo menos, três meses. Depois, vou acompanhar com o ortopedista, porque tenho problemas de artrose. Tinha cirurgia de catarata para fazer, mas foi suspensa, por causa da chikungunya — contou Iolanda.
O diretor do CDRI confirma o movimento intenso na unidade. “A média é de 250 a 300 atendimentos por dia, sendo 150 de primeira consulta, o que dá uma média de três mil atendimentos por mês. E a tendência é que essa situação seja mantida ou mesmo aumente, porque todo mundo em Campos deverá ter chikungunya e ser imunizado por ter adquirido o vírus da doença transmitida pelo Aedes aegypti”, afirmou o médico.
De acordo com Luiz José, há uma falha, em nível nacional, na prevenção da doença, relacionada à forma equivocada de combate ao mosquito transmissor. “Não adianta apenas o fumacê passando nas ruas, nem que fosse todos os dias. É necessário um número suficiente de agentes de endemia, utilizando bombas mecânicas, com o inseticida, para matar o mosquito adulto dentro das casas, dos quintais. Isso porque o vírus da chikungunya, diferentemente do da dengue, permanece por um período longo no sangue da pessoa infectada. Aí, o mosquito adulto pica essa pessoa e transmite o vírus ao picar outras”, ressaltou o médico, acrescentando que o combate com bombas começou a ser adotado em alguns estados do Nordeste do Brasil.
CCZ segue com remoções de foco
Em nota, a Prefeitura de Campos ressaltou que o “Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) continua realizando mutirões de combate ao mosquito Aedes aegypti, com o objetivo de reduzir o índice de focos no município, inclusive, o bairro Jóquei já recebeu equipe do órgão, através do mutirão. As ações de combate ao mosquito continuam regularmente no local e, caso a população identifique algum possível foco, pode acionar a equipe do CCZ através do número (22) 98126-5234, para medidas cabíveis.
Segundo o coordenador municipal de Combate às Endemias, Claudemir Barcelos, ainda na última semana, a equipe identificou no bairro um acumulador, que foi orientado e acompanhado para a remoção de todo o material que pudesse ser potencial foco de proliferação do mosquito Aedes aegypti. Além de combater os focos do mosquito, com aplicação de larvicidas, as equipes realizam trabalho de conscientização para descarte adequado de resíduos e formas de evitar possíveis focos. Próximo ao canal Coqueiros, a predominância não é o Aedes aegypti e sim a espécie Culex. O canal Coqueiros recebeu equipe de limpeza, que retirou toneladas de lama e vegetação no final do ano passado e a manutenção acontece, através das equipes da secretaria de Desenvolvimento Ambiental, com limpeza de talude e roçada de vegetação, regularmente. Novas ações também estão previstas no bairro, através da secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana. Vale ressaltar a importância da população colocar o lixo devidamente ensacado nos dias de coleta em frente às suas residências e que não descarte lixo ou materiais inservíveis em vias públicas, nem próximo ao canal. Descartar lixo e entulhos em vias públicas ou locais não permitidos, como terrenos baldios, é uma infração prevista pela lei 8.232/2011, da Política Municipal de Resíduos Sólidos, e pelo Código de Posturas do município, estando sujeito a multas. A superintendência também disponibiliza o telefone (22) 98175-1882 para informações sobre descarte irregular de lixo e entulho para que providências sejam tomadas”.
Testes rápidos — Em redes sociais, pessoas relatam que sofrem, ao mesmo tempo, de dengue e chikungunya. O diretor do CRDI diz que é possível a ocorrência das duas doenças simultaneamente, mas que não há registro de casos até o momento. “Alguns kits para testes rápidos, utilizados em laboratórios da região têm apresentado falhas, diagnosticando dengue, quando, na realidade, quando refeitos pelo CDRI, no laboratório autorizado, a presença é do vírus da chikungunya”.
Por: VERÔNICA NASCIMENTO
Folha 1