Número de casos de chikungunya é 14 vezes maior que no mesmo período de 2018 em Campos

 

Foto: Genilson Pessanha
Dores, muitas dores, febre, cansaço e desânimo. Os relatos de quem procura o Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI), em Campos, com casos confirmados ou suspeita de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti são bem parecidos e a procura tem aumentado nos últimos meses. De acordo com dados do CRDI, o número de casos de chikungunya em 2019, até o momento, é quase 14 vezes maior que no mesmo período do ano passado. São 1.933 diagnósticos confirmados da doença. Boas notícias em relação à dengue, que teve queda de 40%, e à zika, que continua sem caso confirmado neste ano.
— A dor é uma coisa de outro mundo. Eu procurei um médico com a certeza de que era algum problema de coluna, pedindo, por favor, a aplicação de uma injeção de um relaxante muscular, mas quando falei o que estava sentindo, ele pediu para eu vir ao CRDI. Meus ombros doem muito, minhas pernas, eu não consigo nem explicar — afirmou Elizete Medeiros.
Os dados mostram o quanto o verão de 2019 concentrou muito mais casos que o ano anterior. Foram 1.933 pessoas diagnosticadas entre janeiro e a primeira quinzena de abril, contra 141 no mesmo período do ano passado. No mês de janeiro, a diferença é ainda mais alarmante. Em 2018, foram sete registros, contra 551 neste ano, um número 78 vezes maior.

Em 2018, o número chegou a 2.500 até o mês de junho, levando o município a decretar situação de emergência na área da saúde pública, devido à epidemia de chikungunya. No final do ano, o levantamento indicou que já havia sido ultrapassada a barreira de 5 mil casos. De acordo com o decreto, publicado no Diário Oficial no dia 5 de julho de 2018, foi autorizado o remanejamento de servidores públicos e prestadores de serviço para atender às demandas prioritárias da secretaria de Saúde e do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). O prazo do decreto era de 180 dias, tendo fim no dia 1º de janeiro deste ano.

Já o número de pessoas contagiadas com o vírus da dengue caiu de 53, de janeiro a 15 de abril de 2018, para 32, em 2019.
O Aedes aegypti é um velho conhecido dos brasileiros. Há pelo menos 30 anos circula em território nacional, se apresentando cada vez mais nocivo ao convívio com a população. Em suas aparições, trouxe à tona quatro sorotipos de dengue, que imperaram em revezamento por mais de 25 anos até que foram introduzidas também a zika e a chikungunya, fazendo com que o vetor perdesse o apelido de “mosquito da dengue”. As duas últimas doenças, até então raras na literatura médica, uma vez em circulação, trouxeram agravamentos como a microcefalia em bebês de gestantes que contraíram a zika, além da Guilain Barrè e reumatismos severos em pacientes com chikungunya.
LIRAa segue em queda
As vizinhas Aristelma Mesquita, Manuele Teixeira e Rosimere Teixeira, moradoras do Parque Lebret, se encontraram por acaso na sede do centro de referência. “A gente nem sabia que tinha mais gente com os sintomas, mas chegamos aqui e cada hora a gente encontra alguém do bairro. Pelo jeito, tem muito mosquito por lá”, afirmou Aristelma. Apesar de relatos como esse, o primeiro Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), divulgado em fevereiro de 2019, foi de 1,2, o menor verificado no município em dois anos.
Foto: Genilson Pessanha
Em outubro do ano passado, a secretaria municipal de Saúde já havia reduzido o índice em relação ao anterior, chegando à marca de 2,6. Em agosto, o número tinha ficado em 3,7. No mês da epidemia, o LIRAa chegou a ser registrado em 6,1.
Em geral, são realizados quatro levantamentos por ano, em períodos determinados pelo Estado. As cidades são consideradas em situação de risco quando atingem a marca de 4%; em alerta, com o índice entre 1% a 3,9%; têm índices satisfatórios quando o valor é inferior a 1%.
Apesar de o verão não ter sido menos chuvoso que o do ano passado, as temperaturas foram mais altas, uma combinação perfeita para o mosquito Aedes aegypti. Segundo a Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ), choveu em 2019 em Campos, 192,6 mm. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há 97 anos, quando o registro começou a ser feito pelo órgão, não havia registro de um janeiro tão quente no Rio de Janeiro, que teve a temperatura média de 37°C.
Posicionamento da Prefeitura
Em nota, o município informou que o número de casos ainda é inferior ao do ano passado. “Os números das arboviroses em Campos em 2019 mostram que o vírus continua a circular no município, ainda que não mais em nível epidêmico, como em meados do ano passado, quando foram 2.065 casos em junho. Observe que nos primeiros meses do ano de 2018 o vírus ainda não circulava na cidade, sendo a epidemia decretada em junho. Mesmo assim, a Vigilância Epidemiológica da cidade segue atenta aos números e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) realiza ações diariamente na cidade, realizando limpeza de terrenos e ajudando e orientando moradores na limpeza dos quintais, onde a maioria dos focos é encontrada. A Vigilância orienta a população que continue a receber os agentes de combate a endemias e com a prevenção em suas residências, já que a luta contra o Aedes aegypti, vetor das doenças, deve ser contínua”.
Por: CAMILLA SILVA 
Folha 1

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