Mais antigo botequim de Campos em atividade fecha suas portas

 

Nesta sexta-feira, durante todo o dia e à noite, os frequentadores de Ao Gato Preto se despediram do mais tradicional botequim da cidade, que deixou o endereço da rua 21 de Abril, após nove décadas, já que a partir de quarta-feira (3) estará funcionando na rua Barão de Amazonas, bem próximo à avenida XV de Novembro. As rodadas de aperitivos entre amigos marcaram momentos de saudade antecipada.
Em funcionamento há quase um século na 21de Abril, em 2014 foi tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) como patrimônio imaterial histórico e cultural do município. O presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro, lamentou o fato e destacou que “ele é muito mais que um bar, é um ambiente de promoção de cultura que garante uma convivência democrática entre os frequentadores. O bar agrega desde o gari ao empresário, une partidários de esquerda e de direita, flamenguistas e vascaínos, torcedores do Americano e do Goytacaz, em uma convivência harmônica numa época em que as diferenças estão tão marcantes e quando há tanta discórdia. Esse é um aspecto que a gente, sem dúvida, deve valorizar e cultuar”.
O também jornalista Orávio de Campos Soares, ex-presidente do Coppam, ressaltou que o botequim é o último dos vários que já existiram no Centro Histórico de Campos. Tinha como características peculiares o atendimento no balcão e o cardápio, formado por iscas como miúdos bovinos e linguiças, estas adjetivadas por ele como “aquelas delícias”. “Ao Gato Preto independe de status social. Ele recebe gente de todas as camadas. É lamentável que tenha que deixar o seu ponto tradicional”, destacou.
Em 28 de janeiro deste ano, o dono de Ao Gato Preto José Carlos Barbosa, mais conhecido como Zé Psiu, faleceu e o bar está sendo, desde então. tocado pelo filho Paulo Sérgio. Diante do aumento do preço do aluguel na rua 21 de Abril, se viu obrigado a procurar outro local. “Vamos mudar de endereço, mas o atendimento será o mesmo. Vou manter a tradição herdada de meu pai. Lá ele se chamará Bar do Zé Psiu”, explicou Serginho.
O radialista Ailton Junior, também frequentador do bar, lamentou a perda do local, mas assegurou que continuará fiel Ao Gato Preto: “Campos a cada dia que passa vai perdendo suas histórias, memórias, lugares tradicionais. A 21 de Abril não será mais a mesma sem a presença do Gato Preto. Mas vida que segue, agora é mudar de rota e frequentar o novo espaço lembrando sempre da figura de Zé Psiu. Não resta outra alternativa, mas isso é muito triste. Afinal, são anos e anos naquele tradicional local.” O pedreiro José Carlos dos Santos, que há mais 30 anos frequenta o bar, se mostrou aborrecido com o fato, enquanto tomava cerveja. “Que bom se o Gato Preto permanecesse aqui. Mas, infelizmente, isso não é possível. Mas posso dizer que irei onde estiver”, disse.
Por: CELSO CORDEIRO FILHO 
Folha 1

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