Em depoimento ex-governador faz importantes revelações à justiça
‘O dinheiro dos irmãos Chebar era meu dinheiro, sim’, diz Cabral sobre US$ 100 milhões que estavam no exterior.
Depoimento do Ex-Governador Sérgio Cabral Foto: Reprodução / TV Globo.
O ex-governador Sérgio Cabral admitiu em depoimento nesta terça-feira que eram seus os US$ 100 milhões (cerca de R$ 375 milhões, em cotação atual) que estavam em contas no exterior, e que foram entregues pelos doleiros delatores Marcelo e Renato Chebar. Os irmãos eram quem administravam parte da propina do ex-governador. Eles fizeram delação e devolveram o dinheiro à Justiça.
— O dinheiro dos irmãos Chebar era meu dinheiro, sim — disse ele em depoimento.
Cabral disse que resolveu “falar a verdade” por conta de sua família, do momento histórico e para ficar bem com ele mesmo. Essa é a primeira audiência em que ele participa na 7ª Vara Federal Criminal, do juiz Marcelo Bretas, depois de admitir ao Ministério Público Federal (MPF) ter recebido propina enquanto estava no comando do estado.
Logo no início da audiência, o juiz perguntou o motivo pelo qual Cabral mudou de opinião e resolveu admitir o recebimento de propina.
— Em nome da minha mulher, dos meus filhos e da história, resolvi falar a verdade e ficar bem comigo mesmo. Hoje, sou um homem muito mais aliviado — afirmou o emedebista.
Cabral admitiu que recebeu propina, assim como seus ex-secretários Régis Fichtner (Casa Civil) e Sérgio Côrtes (Saúde).
A mudança de postura do ex-governador acontece após a substituição de advogado. Cabral agora é assistido por Márcio Delambert, o mesmo que defende o ex-deputado estadual Edson Albertassi, preso desde novembro de 2017. Esse foi o primeiro depoimento do emedebista ao juiz Marcelo Bretas depois da troca.
A primeira vez que Cabral admitiu o recebimento de propina foi em depoimento ao MPF no último dia 21 de fevereiro. Em trechos divulgados pela TV Globo, o ex-governador admitiu cobrança de propina em obras como a Linha 4 do metrô e a reforma do Maracanã, além de citar o empresário Eike Batista e o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, ao falar de repasses irregulares para campanhas eleitorais.
O ex-governador também confirmou que houve “várias vezes” entrega de dinheiro de propina dentro do Palácio Guanabara, ao então vice-governador Luiz Fernando Pezão e a Fichtner, que está preso desde o dia 15 de fevereiro.
Em busca da redução de pena
Com a mudança de estratégia, Cabral busca a redução de pena. Preso desde novembro de 2016, o ex-governador responde a 28 processos e já foi condenado a mais de 200 anos de prisão.
Ao longo do período em que esteve preso, o emedebista já prestou vários depoimentos à Justiça e, neles, já adotou diversas posturas. Na primeira oitiva à Justiça, ao ex-juiz Sergio Moro, Cabral ficou em silêncio. Ao juiz Bretas, na primeira vez em que falou sobre a acusação de que cobrava 5% de propina em cima dos valores das obras no estado, disse que isso era uma “maluquice”.
— Nunca houve propina. Houve apoio. Vejo que o Ministério Público se refere a delatores que falam que pedi 5%. Nunca houve 5%. Que 5% é esse? Que história é essa de que esses 5% era algo que vigia no governo? Que maluquice é essa? — em audiência em julho de 2017.
Depois, Cabral passou a admitir que usou sobras de campanha para pagar despesas pessoais, mas, até então, vinha negando o recebimento de propina.
Cabral disse que, durante sua campanha ao governo em 2006, recebeu dinheiro de caixa dois do empresário Arthur Soares, o Rei Arthur. Afirmou que logo depois que assumiu ficou acertado que receberia 3% de propina do empresário por conta dos contratos na área da Saúde e Sérgio Côrtes ficaria com 2%. Cabral também afirmou que recebia propina do empresário Miguel Skin, também na área da Saúde. O emedebista declarou que, em governos anteriores, o percentual de propina cobrada era ainda maior.
— Esse foi meu erro de postura, apego a poder, dinheiro… é um vício — afirmou, sobre o acerto da propina.
Cabral está sendo reinterrogado nesta terça-feira a pedido da defesa. No primeiro depoimento desse processo sobre propina na área da Saúde, o emedebista ficou em silêncio. O novo advogado, então, pediu essa nova audiência. Sérgio Côrtes está presente.
Campanha e propina de Pezão
Cabral disse no depoimento que a campanha do ex-governador Luiz Fernando Pezão em 2014 custou R$ 400 milhões. O ex-governador afirmou ainda que Pezão recebeu propina em sua gestão, na condição de vice-governador e secretário de Obras.
— Ele recebia como vice e secretário de Obras e trouxe para trabalhar com ele o Hudson Braga, que era o braço operacional dele — disse Cabral, confirmando ainda que existia na secretaria de Obras a chamada taxa de oxigênio, o equivalente a 1% de propina nos contratos da pasta.
Por: O EXTRA