Venezuela prende 27 militares por revolta contra Maduro

Em vídeo, homem que se identificou como sargento da Guarda Nacional da Venezuela pede, ao lado de outros militares, que Nicolás Maduro não seja reconhecido como presidente — Foto: Reprodução/TV Globo

Autoridades da Venezuela divulgaram nesta terça-feira (22) que detiveram 27 militares que realizaram um motim contra o presidente Nicolás Maduro na segunda, dois dias antes de manifestações opositoras para exigir um governo de transição e a realização de novas eleições.

De madrugada, este grupo da Guarda Nacional (GNB) subtraiu armas de guerra de um posto militar em Petare, na região leste do país, e se entrincheirou em seguida no quartel do bairro Cotiza, norte, onde os revoltosos foram detidos, segundo um informe oficial.

O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, disse à imprensa que foi o sargento Bandres Figueroa quem liderou o levante e que 25 das 27 detenções ocorreram no quartel.

Nicolás Maduro recebe faixa presidencial durante cerimônia de posse como presidente da Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Nicolás Maduro recebe faixa presidencial durante cerimônia de posse como presidente da Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Em um dos vários vídeos que circularam em redes sociais, um militar que se identificou justamente como o sargento Bandres Figueroa disse não reconhecer Maduro e pediu o apoio dos venezuelanos.

Segundo a Força Armada, os “atacantes”, que também sequestraram quatro militares, foram rapidamente controlados, submetidos à Justiça e “será aplicada a eles todo o peso da lei”. Durante a prisão, conseguiram recuperar o armamento roubado.

Após o rápido motim, moradores de Cotiza, Los Mecedores e outros bairros do norte da capital, enfrentaram com pedras, paus e garrafas a tropa de choque, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Vários manifestantes ficaram feridos, constataram equipes da AFP.

Manifestantes queimam carro em protesto em torno da sede da Guarda Nacional Bolivariana de Cotiza, na Venezuela, nesta segunda-feira (21) — Foto: Yuri Cortez / AFP

Os distúrbios começaram pela manhã, quando dezenas de moradores de Cotiza se aproximaram do quartel para apoiar os insurgentes, fizeram panelaços e barricadas nas ruas queimando lixo, um veículo abandonado e escombros.

“Estamos cansados. Não dá mais”, disse a jornalistas um jovem de 29 anos, com uma bandeira venezuelana presa ao corpo, durante os confrontos.

Panelaços e protestos na rua

Na noite desta segunda-feira, ocorreram panelaços em vários bairros de Caracas e grupos de manifestantes fecharam a avenida Forças Armadas, no centro da capital, aos gritos de “Este governo vai cair”, até a polícia de choque dispersá-los com bombas de gás lacrimogêneo.

Em El Valle, no sul de Caracas, homens encapuzados saquearam lojas, sem que a polícia ou os militares fossem ao local, contaram testemunhas à AFP.

Sentença contra o Congresso

À agitação provocada pela rápida insurgência se somou a uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, de linha governista), que declarou nula a junta diretiva parlamentar presidida pelo jovem opositor Juan Guaidó.

Guaidó, de 35 anos, assumiu a presidência da Assembleia Nacional, o último órgão de Estado sob controle da oposição — Foto: Reuters/Carlos Garcia Rawlins

Guaidó, de 35 anos, assumiu a presidência da Assembleia Nacional, o último órgão de Estado sob controle da oposição — Foto: Reuters/Carlos Garcia Rawlins

Ao fim da tarde, Guaidó enviou pelas redes sociais uma mensagem aos membros da Força Armada: “Não estamos te pedindo que dê um golpe de Estado, que atire. Ao contrário, estamos te pedindo que defenda junto conosco o direito do povo (…) a ser livre”.

Essa ação ocorreu às vésperas das manifestações convocadas pela oposição e pelo governo, que se anunciam como o primeiro grande ato nas ruas desde os protestos de 2017 que deixaram 125 mortos.

Proposta de anistia

Guaidó, que se declarou disposto a presidir o governo de transição, assegurou que a mensagem do Parlamento está tendo “eco” na Força Armada, considerada o apoio do governo.

Defendendo a quebra do apoio decisivo da Força Armada que Maduro tem, o Parlamento se comprometeu há uma semana a “decretar uma lei de anistia” para “funcionários civis ou militares” que não o reconhecem e cooperam com o “governo de transição”.

Maduro considera essa proposta como parte de um “golpe de Estado” em curso, por trás do qual, segundo diz, estão o governo americano e vários governos latino-americanos que também sustentam que a sua reeleição em maio de 2018 foi fruto de eleições ilegítimas.

A Força Armada, integrada por 365.000 mil soldados e 1,6 milhão de milicianos civis, reafirmou a sua lealdade “absoluta” a Maduro após a posse.

Descontentamento militar

Rocío San Miguel, especialista em assuntos militares e presidente da ONG Controle Cidadão, assegurou à AFP que o fato “pode ser descrito como uma expressão de descontentamento, que não encontrou resposta em outras unidades militares”.

Apesar do esforço para ser monolítica, dois generais estão entre os presos por um suposto ataque contra o presidente em 4 de agosto, quando dois drones explodiram perto de um palanque onde liderava um ato militar.

Em um contexto em que poucos escapam da escassez de alimentos e remédios e da hiperinflação, 4.309 soldados desertaram da Guarda Nacional em 2018, segundo uma lista vazada do organismo e citada pela Controle Cidadão.

Por France Presse

G1

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