Cuba Dá ‘Calote’ De US$ 6 Milhões No Brasil Em Financiamento Para Porto De Mariel E Compra De Alimentos
De acordo com uma fonte diplomática do Brasil, como a dívida de junho acaba de completar 180 dias, Cuba é considerada “inadimplente”.
Segundo integrantes da missão brasileira que visitou Cuba em outubro, o total de atrasados ao fim deste ano está calculado em US$ 100 milhões. Os valores se referem a financiamentos contraídos por Cuba para a construção do Porto de Mariel (BNDES) e para a compra de alimentos (no âmbito do Proex). Recentemente, o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, disse que os empréstimos para Cuba e Venezuela foram um erro.
O Ministério da Fazenda informou que “o BNDES exigiu uma compensação da União, como fiador, que fará o pagamento em até 30 dias”, acrescentou. No caso do Proex, os recursos são provenientes do Tesouro. “O governo brasileiro está fazendo esforços para recuperar todos os créditos relacionados ao financiamento das exportações brasileiras para Cuba”, acrescentou a nota do ministério da Fazenda.
Por outro lado, Cuba diz que os atrasos foram causados por conta do furacão Irma, que prejudicou suas colheitas, e do ressurgimento do bloqueio dos EUA, que vem dificultando a transferência de dinheiro através de instituições bancárias internacionais.
De acordo com essa fonte, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil enviou uma carta ao vice-presidente do governo cubano, Ricardo Cabrisas, no início deste mês, detalhando a situação da dívida. Cabrisas é reconhecido como negociante de sucesso da dívida externa de Cuba, incluindo as do Clube de Paris. Tanto é assim que a Europa é hoje o maior parceiro comercial da ilha.
A situação de “calote” de Cuba impede o país de acessar novos empréstimos e obriga o Itamaraty a relatar a situação a organizações internacionais. A dívida total de Cuba com o BNDES é de US$ 597 milhões e tem prazo 25 anos. Com o Proex, é de 100 milhões de euros.
Os empréstimos com o BNDES foram feitos durante os governo de Lula e Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT), aliado do Partido Comunista de Cuba (PCC) que atualmente é liderado por Raúl Castro. Apesar de o governo cubano não ter reconhecido o governo de Michel Temer, a relação com o futuro governo de Jair Bolsonaro não é das melhores. Bolsonaro disse que Cuba não foi convidada para sua posse.
Em outubro, o diplomata brasileiro Orlando Leite viajou para Cuba como enviado do governo para buscar uma solução. Nas reuniões, Havana pediu para reescalonar o pagamento das dívidas de 2018 e 2019, retomar os pagamentos até meados de 2019 e, a partir de janeiro de 2020, pagar as parcelas normais mais a parte remarcada. Porém, segundo essa fonte, a proposta não foi formalizada.
N.B.O.
O Globo, com AFP